São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mauro Paulino

Xote, baião e xaxado

NÃO IMPORTA O RITMO , o forró tornou-se trilha sonora padrão da disputa pela Presidência. Os jingles que embalam as campanhas de Lula e Alckmin simbolizam a importância estratégica conferida aos votos nordestinos nessa eleição, justificada por ser o segundo colégio eleitoral do país com 27% dos eleitores. Além disso as intenções de voto em Lula alcançam 65% na região 18 pontos acima de sua média nacional, segundo o último Datafolha.
Isto é inédito na região e na trajetória de Lula e obriga os adversários a roubar parte desses votos para tornar viável o segundo turno. Uma missão quase impossível se não houver ousadia. Os resultados obtidos no Nordeste nas quatro eleições presidenciais anteriores, em comparação com as médias alcançadas junto ao total do eleitorado, são reveladores da atual força de Lula nesses Estados, fruto das ações sociais de seu governo.
A única vez em que o percentual de votos obtidos por Lula no Nordeste superou sua média nacional foi no primeiro turno de 1989. Contra Collor, Lula conquistou 16% dos votos enquanto entre os nordestinos atingiu 20%.
No segundo turno obteve 41% dos votos na região, três pontos abaixo de sua média nacional.
Em 1994, contra Fernando Henrique, Lula conquistou 22% dos votos nordestinos igualando seu percentual nacional. Em 1998, chegou a 23% na região, três pontos abaixo de sua média. Em 2002, a votação de Lula no Nordeste cresceu para 38% mas ficou quatro pontos abaixo do que obteve em todo o país naquele ano. Vale lembrar que em 1998 e em 2002 enfrentou a forte concorrência de Ciro Gomes na região, hoje um fiel correligionário. No segundo turno, contra Serra, Lula foi eleito com 58% dos votos totais, enquanto no Nordeste obteve 57%.
Os resultados de intenção de voto obtidos agora por Lula refletem a avaliação positiva de seu governo junto aos nordestinos, também muito acima da média nacional. O governo federal conta hoje com a aprovação de 59% desses eleitores. É também no Nordeste que se concentra a maior taxa dos que se dizem totalmente decididos quanto ao voto: 75%.
Se nessas eleições o eleitor nordestino mantiver o mesmo comportamento verificado nas anteriores, esse quadro não será revertido. Nas três últimas eleições para presidente os números obtidos por Lula, em outubro, nas urnas nordestinas foram quase idênticos às taxas de intenção de voto verificadas pelo Datafolha na região durante o mês de agosto. A campanha eletrônica não tem modificado a opinião dos nordestinos.
A se manter esse padrão talvez seja uma opção à campanha de Alckmin, hoje, substituir Dominguinhos por Renato Borghetti e os conjuntos de forró pelos Demônios da Garoa.


MAURO PAULINO é diretor-geral do instituto Datafolha


Texto Anterior: Estratégia do Planalto ajuda PT a reduzir gastos com viagens de campanha de Lula
Próximo Texto: Eleições 2006/Presidência: Alckmin chama Lula de arrogante
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.