RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), divulgou no início da noite de ontem que a Polícia Militar do Estado deteve às 14h de anteontem dois soldados do Exército que estariam participando de "operações de guerrilha" às margens da represa de Furnas (cerca de 250 km a oeste de Belo Horizonte).
A PM deteve os soldados Leandro Martins Ribeiro e Silvano dos Reis Vilela -que, segundo Itamar, estavam em trajes civis (só um usava uma calça do Exército) e portavam fuzis tipo FAL- após atender denúncia anônima de que desconhecidos estariam efetuando disparos de arma de fogo na região. Os soldados chegaram a ficar algemados e só foram liberados depois da identificação.
O governador recebeu o relato do fato ontem, em reunião com o chefe do Gabinete Militar do governo mineiro, coronel PM Marco Antônio Nazareth. Itamar não deu declarações à imprensa.
O episódio vem se somar ao recente conflito envolvendo o governador de Minas e o governo federal, iniciado com a ocupação pela Polícia Federal e pelo Exército da fazenda da família do presidente Fernando Henrique Cardoso, em Buritis (MG) -ameaçada de invasão pelos sem-terra. Itamar se colocou contra o fato de tropas federais defenderem a propriedade da família do presidente.
De acordo com o relato divulgado ontem, os soldados do Exército disseram à PM que participavam de um treinamento denominado "Operação Ribeirinha", que reuniria mais 400 militares da Escola de Sargentos das Armas de Três Corações (MG). Os soldados teriam relatado que estouraram bombas no local e efetuaram disparos com munição de festim. A PM disse, porém, que encontrou com os soldados 20 cartuchos calibre 7.62mm -munição real.
O governo de Minas afirmou que, após o incidente, o Exército informou que os militares estavam acampados em uma fazenda próxima à represa, participando de atividades de treinamento, com táticas de guerrilha e outras ações, e que permaneceriam na região até amanhã.
A Agência Folha ligou ontem, às 18h30, para a 4ª Divisão do Exército, em Belo Horizonte, mas foi informada que não havia ninguém que pudesse dar informações sobre o caso.
A represa de Furnas é motivo de outra disputa entre Itamar e o governo federal. A União pretende privatizar a hidrelétrica. Itamar é contra. Em outubro, cerca de 2.500 PMs mineiros fizeram manobras na região, sugerindo uma possível resistência armada do governo mineiro à privatização.


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