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POLÍTICA EXTERNA
Presidente fará apelo por concessões aos países pobres em discurso, mas quer evitar "choro terceiro-mundista"
Na ONU, Lula deve reiterar recado de Cancún
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na abertura da 58ª Assembléia
Geral da ONU (Organização das
Nações Unidas), na terça-feira,
em Nova York, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva criticará a "intransigência" dos países ricos nas
negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio). Fará
um apelo por "concessões" aos
países pobres. Dos EUA, Lula viajará para o México e Cuba.
O trecho dedicado ao comércio
mundial será a parte mais apimentada do discurso de Lula. Foi
introduzido a pedido do presidente. O objetivo é dar sequência
à estratégia iniciada na 5ª Conferência Ministerial da OMC, no último dia 14, em Cancún (México).
Naquele encontro, sob a liderança do Brasil, o chamado G-21,
grupo de nações em desenvolvimento, se rebelou contra a tentativa dos países ricos de impor sua
agenda. A atuação da delegação
brasileira, centrada na crítica ao
protecionismo agrícola norte-americano e europeu, levou ao
fracasso da rodada comercial. Algo que, na opinião de Lula, foi
uma vitória. O presidente usará a
tribuna da ONU como uma espécie de etapa número dois da rodada da OMC em Cancún. O discurso será cuidadoso. Segundo expressão usada por um auxiliar de
Lula, ele deseja evitar que sua fala
seja interpretada como "choro
terceiro-mundista".
Outros temas serão realçados
por Lula em seu discurso. Entre
eles a defesa de uma "nova ONU",
do multilateralismo para a resolução dos conflitos" (crítica direta à
política dos EUA no Iraque e no
Oriente Médio) e a ênfase no
combate à pobreza por meio de
um fundo mundial.
O presidente deve fazer menção
também a um tema caro aos EUA:
o terrorismo. Dirá que a melhoria
da qualidade de vida nos países
pobres seria uma arma mais eficaz do que intervenções militares.
No conjunto, o texto do pronunciamento estabelece contrapontos a posições norte-americanas.
A viagem a Nova York é considerada por Lula a mais importante de seu mandato até agora. Além
da ONU, terá encontros com chefes de Estado. Constam da agenda
o presidente da França, Jacques
Chirac, e o da Rússia, Vladimir
Putin. Com Chirac, quer unir forças em torno da reformulação da
ONU, pedindo apoio ao francês
para que o Brasil consiga um assento permanente no Conselho
de Segurança da ONU. Esse pedido deverá ser mencionado no discurso de abertura da assembléia.
Ainda na conversa com Chirac,
Lula pretende voltar à carga em
relação ao protecionismo agrícola
europeu. Deseja combater a tese
de negociadores dos países ricos
de que o G-21 acabará rachando.
Lula deseja algo ousado: rachar os
ricos. Tentará dividir os europeus.
Quer sensibilizar a França a adotar posição mais flexível que a dos
EUA em relação ao protecionismo agrícola.
Improviso complicado
Como é tradição, um brasileiro
será o primeiro a discursar após a
abertura de uma assembléia geral
da ONU. Falará depois do secretário-geral da entidade, Kofi Annan. A fala de Lula está prevista
para o meio-dia de terça, horário
de Brasília (11h em Nova York).
O presidente foi alertado por
auxiliares de que o protocolo da
ONU, rígido, não facilita os improvisos. Se improvisar, como
costuma e gosta de fazer, Lula não
será traduzido. Os tradutores se
fixam no discurso escrito, entregue com antecedência. O discurso
deve durar 15 minutos. Tempo
considerado exíguo por Lula.
Na última sexta, o presidente
pediu que fossem feitas correções
ao primeiro texto de seu discurso.
Achou formal demais. Pediu
"paixão" no texto, com expressões mais fortes, mas que combinem com seu estilo informal.
Também mudou a ordem de alguns assuntos e determinou o reforço da parte comercial. Na primeira versão do discurso, a parte
sobre a reunião da OMC em Cancún tinha uma sequência de interrogações no texto.
A Folha apurou que Lula deverá
começar o discurso apresentando
o Brasil. Deverá dizer que é uma
país que tem mais do que futebol
e Carnaval. Falará da dinâmica
econômica do Brasil e da importância de abertura de oportunidades para todos os países em desenvolvimento. Dirá que é um
país sem conflitos étnicos.
Falará também sobre a questão
da fome. Dirá que, mais do que
um problema de quem passa fome, o tema reflete a existência de
exclusão social. Falará da necessidade de diminuição da distância
entre ricos e pobres.
Vieira de Mello
Uma homenagem ao brasileiro
Sérgio Vieira de Mello, representante da ONU no Iraque morto
em um atentado terrorista no mês
passado, também constará do
discurso de Lula. Vieira de Mello
será citado como um "exemplo"
de pessoa que dedicou a vida à
paz. Será chamado de "herói" por
pelo presidente Lula.
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