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São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2003

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POLÍTICA EXTERNA

Presidente fará apelo por concessões aos países pobres em discurso, mas quer evitar "choro terceiro-mundista"

Na ONU, Lula deve reiterar recado de Cancún

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na abertura da 58ª Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), na terça-feira, em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticará a "intransigência" dos países ricos nas negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio). Fará um apelo por "concessões" aos países pobres. Dos EUA, Lula viajará para o México e Cuba.
O trecho dedicado ao comércio mundial será a parte mais apimentada do discurso de Lula. Foi introduzido a pedido do presidente. O objetivo é dar sequência à estratégia iniciada na 5ª Conferência Ministerial da OMC, no último dia 14, em Cancún (México).
Naquele encontro, sob a liderança do Brasil, o chamado G-21, grupo de nações em desenvolvimento, se rebelou contra a tentativa dos países ricos de impor sua agenda. A atuação da delegação brasileira, centrada na crítica ao protecionismo agrícola norte-americano e europeu, levou ao fracasso da rodada comercial. Algo que, na opinião de Lula, foi uma vitória. O presidente usará a tribuna da ONU como uma espécie de etapa número dois da rodada da OMC em Cancún. O discurso será cuidadoso. Segundo expressão usada por um auxiliar de Lula, ele deseja evitar que sua fala seja interpretada como "choro terceiro-mundista".
Outros temas serão realçados por Lula em seu discurso. Entre eles a defesa de uma "nova ONU", do multilateralismo para a resolução dos conflitos" (crítica direta à política dos EUA no Iraque e no Oriente Médio) e a ênfase no combate à pobreza por meio de um fundo mundial.
O presidente deve fazer menção também a um tema caro aos EUA: o terrorismo. Dirá que a melhoria da qualidade de vida nos países pobres seria uma arma mais eficaz do que intervenções militares. No conjunto, o texto do pronunciamento estabelece contrapontos a posições norte-americanas.
A viagem a Nova York é considerada por Lula a mais importante de seu mandato até agora. Além da ONU, terá encontros com chefes de Estado. Constam da agenda o presidente da França, Jacques Chirac, e o da Rússia, Vladimir Putin. Com Chirac, quer unir forças em torno da reformulação da ONU, pedindo apoio ao francês para que o Brasil consiga um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Esse pedido deverá ser mencionado no discurso de abertura da assembléia.
Ainda na conversa com Chirac, Lula pretende voltar à carga em relação ao protecionismo agrícola europeu. Deseja combater a tese de negociadores dos países ricos de que o G-21 acabará rachando. Lula deseja algo ousado: rachar os ricos. Tentará dividir os europeus. Quer sensibilizar a França a adotar posição mais flexível que a dos EUA em relação ao protecionismo agrícola.

Improviso complicado
Como é tradição, um brasileiro será o primeiro a discursar após a abertura de uma assembléia geral da ONU. Falará depois do secretário-geral da entidade, Kofi Annan. A fala de Lula está prevista para o meio-dia de terça, horário de Brasília (11h em Nova York).
O presidente foi alertado por auxiliares de que o protocolo da ONU, rígido, não facilita os improvisos. Se improvisar, como costuma e gosta de fazer, Lula não será traduzido. Os tradutores se fixam no discurso escrito, entregue com antecedência. O discurso deve durar 15 minutos. Tempo considerado exíguo por Lula.
Na última sexta, o presidente pediu que fossem feitas correções ao primeiro texto de seu discurso. Achou formal demais. Pediu "paixão" no texto, com expressões mais fortes, mas que combinem com seu estilo informal.
Também mudou a ordem de alguns assuntos e determinou o reforço da parte comercial. Na primeira versão do discurso, a parte sobre a reunião da OMC em Cancún tinha uma sequência de interrogações no texto.
A Folha apurou que Lula deverá começar o discurso apresentando o Brasil. Deverá dizer que é uma país que tem mais do que futebol e Carnaval. Falará da dinâmica econômica do Brasil e da importância de abertura de oportunidades para todos os países em desenvolvimento. Dirá que é um país sem conflitos étnicos.
Falará também sobre a questão da fome. Dirá que, mais do que um problema de quem passa fome, o tema reflete a existência de exclusão social. Falará da necessidade de diminuição da distância entre ricos e pobres.

Vieira de Mello
Uma homenagem ao brasileiro Sérgio Vieira de Mello, representante da ONU no Iraque morto em um atentado terrorista no mês passado, também constará do discurso de Lula. Vieira de Mello será citado como um "exemplo" de pessoa que dedicou a vida à paz. Será chamado de "herói" por pelo presidente Lula.



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