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ELEIÇÕES 2006 / CASO DO DOSSIÊ
Ação partiu de "corte de Lula", diz sociólogo
Para Francisco de Oliveira, professor da USP e fundador do PT, é possível que, "dessa vez", o presidente não soubesse
Dossiê é resultado de um clima interno favorável a "acabar de forma autoritária com a oposição", afirma ele, ex-integrante do partido
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o sociólogo e professor
emérito da USP Francisco de
Oliveira, o caso da suposta
compra de um dossiê contra tucanos é fruto de "um clima geral no PT de acabar de forma
autoritária com a oposição",
que abre flanco para que integrantes da corte "de copa e cozinha" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva extrapolem e
tomem atitudes do gênero.
Ex-petista e fundador do partido, Oliveira é autor de "O Ornitorrinco", ensaio de 2003 onde escreveu que a elite do sindicalismo nacional, e por conseqüência o grupo dirigente do
PT, passou a constituir uma nova classe social ao ocupar posições nos conselhos de administração das principais fontes de
recursos para investimentos no
país, como os fundos de pensão.
Nessa condição, se descolariam
da representação dos interesses dos trabalhadores.
Para o sociólogo, o dossiê não
terá potência para mudar o cenário, com eventual vitória de
Lula no primeiro turno.
FOLHA - O sr. descreveu a lógica do
que chamou de "nova classe social",
formada por uma elite do sindicalismo, que comanda o PT. Há algum
desdobramento dessa lógica nos últimos episódios?
FRANCISCO DE OLIVEIRA - Está
mesclado, mas isso é muito
mais uma corte, que é produto
direto do lulismo. Eles se sentem todo-poderosos e fazem
qualquer coisa e têm como retaguarda os sindicalistas. Os
fundos de pensão não são produtos do lulismo. Nesse caso,
são todas figuras menores, de
copa e cozinha do presidente.
Eles não têm função no partido,
têm função aí na corte. A história desse tipo de corte mostra
que eles extrapolam. O caso
clássico é Gregório Fortunato.
FOLHA - É pertinente então a comparação entre os dois casos, o de
Vargas e o do dossiê?
OLIVEIRA - Não acho pertinente,
as circunstâncias eram outras.
Vargas estava sob forte pressão,
oposição desvairada do Carlos
Lacerda, e, de qualquer forma,
o Gregório Fortunato extrapolou e achou que estava prestando serviço ao chefe. Ninguém
pode jamais suspeitar que Vargas autorizou uma coisa daquela. Vargas é dos políticos mais
cautelosos e mais maquiavélicos que o Brasil conheceu. Mas
esse tipo de corte sempre se
instala à sombra do poder, em
qualquer governo. O lulismo
tem uma condição especial
porque foi formado de círculos,
em geral muito próximos ao
presidente. Dessa vez, se ele
disser que não sabia, pode até
ser verdade. São hipóteses do
ponto de vista da experiência
histórica que se tem. No caso de
Vargas, a UDN, os milicos fizeram de tudo para incriminá-lo
e não conseguiram porque ele
jamais daria essa ordem.
FOLHA - Os últimos desdobramentos apontam que, de pelo menos
parte da operação, Berzoini sabia.
Não é uma atitude do PT mais do
que a de uma "corte de Lula"?
OLIVEIRA - Há um clima geral de
acabar de forma autoritária
com a oposição, e nesse caso
com alguém que está à frente
do candidato do PT, e esse clima geral, do qual até o Berzoini
deve participar, abre o flanco
para que aqueles mais realistas
que o rei inventem coisas desse
tipo. Isso não quer dizer que o
Berzoini não sabia.
FOLHA - O PT tem falado que a
oposição é golpista...
OLIVEIRA - Isso é conversa do
PT para desviar a atenção e valorizar sua própria campanha.
Os tucanos e pefelistas estão
desesperados porque essa diferença de Lula para o Alckmin
não vai sumir e não vai haver
segundo turno. A massa que vota no Lula maciçamente não está nem aí para isso. Afetará algumas faixas dessa classe média, que também é muito lulista, mas o povão não afeta.
FOLHA - E há condições para um
pedido de impeachment? O TSE pode impugnar a candidatura Lula?
OLIVEIRA - Não acredito. O
Congresso está envolvido em
sua própria eleição. Há uma remota possibilidade que o TSE
mande cobrar a campanha do
presidente. Se há impugnação,
aí seria extremamente grave. O
clima de golpe se instala. Porque de um lado tucanos e pefelistas vão tomar isso como motivo do impeachment, e do outro lado o PT e sua tropa vão retrucar, ninguém sabe exatamente com o que, talvez quem
sabe com movimento de massas. Mas isso eu acho remoto.
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