São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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"Aloprados" do caso dossiê seguem soltos

Investigação sobre R$ 1,7 milhão apreendido com petistas em hotel de São Paulo na campanha de 2006 está paralisada

Após ir para o STF e voltar para a Justiça Federal, caso agora está com procurador da República, que deve pedir mais provas à Polícia Federal

DA REPORTAGEM LOCAL

Dois anos depois do escândalo que marcou a eleição presidencial, a investigação sobre o R$ 1,7 milhão apreendido com petistas em um hotel em São Paulo está parada. Ninguém foi acusado formalmente à Justiça e a possibilidade de se descobrir a origem do dinheiro é, a cada dia, mais remota.
"É uma investigação tormentosa, difícil. E, quanto mais o tempo passa, pior", afirma em tom pessimista o procurador da República Mario Lúcio Avelar, que acompanha o caso desde a noite de 15 de setembro de 2006, quando a Polícia Federal prendeu dois petistas com uma pilha de reais e de dólares.
Detidos em flagrante num quarto de hotel, Valdebran Padilha e o então assessor da campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gedimar Passos, disseram que se encontraram para negociar um dossiê contra tucanos.
Para muitos, o episódio foi determinante para a ida da eleição para o segundo turno, o que levou o presidente Lula a batizar os petistas que atuaram na operação de "aloprados".

Parado
O inquérito hoje não avançou nada em relação a dezembro de 2006, quando foi concluído pelo delegado da PF Diógenes Curado Filho -atual secretário de Segurança de Mato Grosso.
Depois de 96 dias de investigação, Curado concluiu que o dinheiro apreendido saiu do caixa dois da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT), que disputava o governo de São Paulo. O policial indiciou o senador, os dois detidos no hotel e outras quatro pessoas por crime eleitoral.
Como Mercadante foi citado, o caso subiu para o STF (Supremo Tribunal Federal), único que pode investigar um senador. A corte anulou o indiciamento por ausência de provas. Em maio, depois de passar um ano e cinco meses no STF, o inquérito retornou para a Justiça Federal de Cuiabá (MT).
Desde então, a investigação está com o procurador da República, que deverá pedir novas provas à PF. "O inquérito ficou muito tempo no Supremo. Várias diligências que pedimos à época foram negadas pela Justiça. Agora tudo é mais difícil. É como num assassinato. Quanto mais o tempo passa, mais as provas esfriam", disse Avelar.
Uma segunda investigação foi aberta à época, desta vez no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a pedido do PSDB, que acusou o presidente e outros cinco petistas de abuso de poder econômico na eleição.
O ministro relator da representação, o hoje presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Cesar Asfor Rocha, mandou arquivar o caso. Ele entendeu que não era possível vincular o dinheiro apreendido à campanha eleitoral, e concluiu que o principal prejudicado com o dossiegate foi Lula. O PSDB recorreu ao STF.

Personagens
Seguindo a lógica do caso, pouco mudou também na vida dos personagens do dossiegate.
Valdebran Padilha, que intermediou a venda do dossiê entre a família Vedoin, dona do material, e o PT, segue em Cuiabá, onde administra uma construtora que vive de contratos públicos.
Hamilton Lacerda, que foi apontado pela PF como o transportador do dinheiro para o hotel, se desfiliou do partido, mas ainda participa de reuniões do PT e do lançamento de candidaturas petistas.
Também citado no escândalo, Freud Godoy, ex-segurança de Lula, não tem mais cargo no governo, mas presta serviço de segurança ao partido.
Já Jorge Lorenzetti, ex-coordenador da área de inteligência da campanha e quem determinou a análise do dossiê, trabalha hoje em uma lanchonete que montou com a família.


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