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QUESTÃO AGRÁRIA
Ministro discute com líder dos sem-terra por meio da imprensa; Gilberto Portes pede audiência ao Incra
Jungmann desafia MST a abrir sua "caixa preta"
VALÉRIA DE OLIVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) e o líder
do MST Gilberto Portes discutiram ontem por meio da imprensa. Jungmann desafiou o movimento a abrir sua "caixa preta".
Ele se referia, entre outras questões, à alocação de recursos do
movimento, acusado por auditorias do Incra (Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária) de recolher parte de empréstimos do governo a assentados.
Portes revidou, dizendo que o
ministro estava "com paranóia"
da caixa preta do avião da FAB
(Força Aérea Brasileira) que ele
usou para passear na ilha de Fernando de Noronha. Ao saber que
o ministro desafiara o movimento
a abrir suas contas bancárias, o
Portes respondeu que a medida
seria "ridícula" e que qualquer
acusação de Jungmann era "assunto para psiquiatra".
Portes disse ter pedido audiência para a próxima segunda-feira
com o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, para, segundo ele, saber do conteúdo das
sindicâncias do Incra. Ele disse
que o MST não teve chance de se
defender durante o processo, cujo
resultado foi enviado à procuradoria e à Polícia Federal.
Com base no levantamento,
Jungmann afirmou ser "até perigoso" se aproximar do MST porque, para "determinado segmento da população", o movimento
significa "algo próximo" de banditismo, por causa "desse negócio
de toma dinheiro, pega dinheiro".
Isidoro Revers, coordenador da
Comissão Pastoral da Terra, admitiu que o MST cobra contribuições que chegam a 3% dos empréstimos dos assentados.
Portes disse que não iria responder às declarações do ministro porque "Jungmann vive de fazer factóides", que teriam o objetivo de desviar a atenção da sociedade dos problemas do campo.
O dirigente do MST afirmou
que os sem-terra não poderão comercializar a safra de 2000/2001.
Segundo ele, o plantio nos assentamentos está sendo apenas para
subsistência. O motivo seria a negativa do governo de emprestar
dinheiro aos assentados na linha
A do Pronaf (programa de financiamento da agricultura familiar),
com juros de 1,15% e desconto de
40% sobre o empréstimo.
Jungmann negou. O ministro
afirmou que na segunda-feira estarão disponíveis no Banco do
Brasil R$ 200 milhões para os assentados. Mas eles terão de seguir
as regras da linha C, ainda que
modificada. Os juros serão de 4%,
com desconto de R$ 200 e bônus
de R$ 40 para quem pagar em dia.
Portes disse que o MST continua não aceitando essa modalidade de empréstimo. Além disso,
afirmou, mesmo que o governo
disponibilizasse o dinheiro na linha A os assentados não o pegariam. "Passou da hora", disse.
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