São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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ESTIAGEM

Perda de safras nos dois Estados, tipicamente de culturas de subsistência, chegou a 95% nas áreas mais afetadas

PI e PE têm 236 municípios em emergência

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Animal morto devido à seca em Monsenhor Hipólito, no Piauí


FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A seca no Nordeste já levou 236 municípios do Piauí e de Pernambuco a decretarem estado de emergência neste ano. A situação é mais grave no Piauí, onde a falta de água e a fome castigam 87% das 223 cidades do Estado.
Em Pernambuco, esse percentual é de 22,8%, mas, segundo o chefe da divisão de operações da Defesa Civil estadual, Hélder Carlos da Silva, há risco de agravamento em razão da perspectiva de continuidade da estiagem.
A quebra da safra agrícola nos dois Estados, baseada nas culturas de subsistência, chegou a 95% nas áreas mais afetadas. O gado está morrendo por falta de pasto e de água e até regiões urbanas começam a ser afetadas.
No sertão, onde o problema é mais grave, não deverá chover pelo menos até dezembro, disse o chefe da Defesa Civil em Pernambuco. E se o período seco avançar para o mês de janeiro, não haverá recursos previstos para o combate aos efeitos da seca.
Nos dois Estados, o governo federal implantou dois programas paliativos: o Bolsa-Renda, que oferece R$ 30 por mês a trabalhadores rurais cadastrados com renda familiar de até R$ 100 mensais, e os carros-pipa.
Os convênios assinados com os Estados prevêem a manutenção dos benefícios até novembro. No Piauí, existe ainda um projeto estruturador avaliado em R$ 3 milhões destinado à perfuração e recuperação de 300 poços nas regiões atingidas pela estiagem.

"Calote"
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Piauí, Adonias Higino, reclama da abrangência dos programas e afirma que o fornecimento de água pelos carros-pipa vem sendo interrompido pelos donos dos caminhões, que temem um "calote" após a derrota do governador e ex-candidato à reeleição, Hugo Napoleão (PFL).
"A situação é de desespero em muitas cidades", disse Higino. De acordo com ele, famílias inteiras de lavradores estão abandonando suas propriedades no sertão por falta de "condições mínimas de sobrevivência".
"Os barreiros [pequenos açudes cavados na terra" secaram, a comida acabou, o Bolsa-Renda paga cada vez menos e atende no máximo 20% dos flagelados", disse o presidente do sindicato.
O secretário da Defesa Civil do Piauí, João Calixto Lobo, nega a denúncia de suspensão do fornecimento de água. Segundo ele, os 180 carros-pipa contratados para realizar o serviço continuam atendendo os 52 municípios em situação considerada mais grave, "sem qualquer interrupção".
"Não há falta de recursos", declarou o secretário. "O dinheiro para o pagamento do serviço executado entre os dias 15 de setembro e 15 de outubro já está em caixa, e estamos pagando tudo direitinho", afirmou.
De acordo com o secretário, apenas a verba referente ao mês de agosto continua pendente em razão de o Estado ter assumido os custos sozinho. "Mas isso também estamos resolvendo."
Lobo reconhece, entretanto, que a situação "é grave e inspira cuidados". Segundo ele, se a seca persistir em janeiro não haverá dinheiro para manter o atendimento emergencial. "O Estado terá que renegociar mais verbas com o governo federal."
Lobo disse que, após o segundo turno, os técnicos envolvidos nos programas de combate aos efeitos da seca no Piauí vão se reunir para reavaliar as ações.


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