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FOLCLORE POLÍTICO/JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO
A concubina de Chucre
Em Gravatá, cidadezinha
típica dos interiores de Pernambuco, nasceu e se criou Chucre Mussa Zarzar -mais conhecido, entre seus amigos, por "Babao Lalao". Filho de pais palestinos -Mussa Nicolau e Gelila
Abuhalia Zarzar. Gente que aqui
chegou puxando uma cachorrinha, mas que progrediu às custas
do suor digno.
Estudou na Escola Tenente
Campelo. Onde a diretora, professora Maria José Lira, fornecia farda -mas exigia, dos alunos, que
comparecessem às aulas com sapato. Seu pai comprou tudo que
os parcos recursos da família podiam comprar -só um par.
Usando Chucre o pé direito, e seu
irmão, Chimbre, o pé esquerdo.
Verdade ou lenda, já não tem importância. O povo de Gravatá
sempre acreditou nisso.
Churcre começou a vida na roça. Depois passou a vender, na
feira, grampos de cabelo que fazia
com arames de velhos pneus. Foi
caminhoneiro. E acabou prefeito.
Pelo PSDB, em 1988. Sua administração foi uma novidade por
aquelas bandas. Porque, na prefeitura, não roubou nem deixou
ninguém roubar. Mas nunca
abandonou seus hábitos -de
trabalho pouco, boêmia grande e
amores muitos. Razão por que
ninguém esperava se lançasse
candidata a vereadora, nas eleições de 1992, sua secretária de
Ação Social -mais conhecida como "Zefinha". Que, como sabiam
todos os gravataenses, privava da
cama de Chucre. E que até imprimia cartões de visita com uma
anotação, por baixo do nome
-"primeira-dama".
O PT impugnou essa candidatura. Contratando, como advogado, José Roberto Cavalcanti
-que sustentou, em mandado de
segurança, aplicar-se à concubina (no caso "Zefinha"), todos os
impedimentos eleitorais que atingiriam uma esposa de prefeito.
Garantindo a moralidade pública. Acusação juridicamente perfeita. Em seguida, falou o advogado de defesa, Geraldo Neves -famoso por seus exageros (inclusive
nos casamentos). Na platéia, a
"primeira-dama" em pessoa. Vestida de preto -sem que ninguém
atinasse a razão. Foi, talvez, a
mais curta defesa da história dos
TREs.
Geraldo começou a festa
-"Chucre com concubina? Pelo
amor de Deus. Ele gosta é de rapariga, senhores. Ra-pa-ri-ga".
Após o que, olhando para os juízes, encerrou seu breve discurso
- "E vocês todos sabem disso.
Tenho dito". Resultado de votação? 6 x 0. A favor da "primeira-dama", claro.
P.S. Foi a única alegria de "Zefinha". Durou pouco. Perdeu a eleição. O mundo não é perfeito.
JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO, 54,
advogado no Recife, escreve às segundas-feiras nesta coluna
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