São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO/JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO

A concubina de Chucre

Em Gravatá, cidadezinha típica dos interiores de Pernambuco, nasceu e se criou Chucre Mussa Zarzar -mais conhecido, entre seus amigos, por "Babao Lalao". Filho de pais palestinos -Mussa Nicolau e Gelila Abuhalia Zarzar. Gente que aqui chegou puxando uma cachorrinha, mas que progrediu às custas do suor digno.
Estudou na Escola Tenente Campelo. Onde a diretora, professora Maria José Lira, fornecia farda -mas exigia, dos alunos, que comparecessem às aulas com sapato. Seu pai comprou tudo que os parcos recursos da família podiam comprar -só um par. Usando Chucre o pé direito, e seu irmão, Chimbre, o pé esquerdo. Verdade ou lenda, já não tem importância. O povo de Gravatá sempre acreditou nisso.
Churcre começou a vida na roça. Depois passou a vender, na feira, grampos de cabelo que fazia com arames de velhos pneus. Foi caminhoneiro. E acabou prefeito. Pelo PSDB, em 1988. Sua administração foi uma novidade por aquelas bandas. Porque, na prefeitura, não roubou nem deixou ninguém roubar. Mas nunca abandonou seus hábitos -de trabalho pouco, boêmia grande e amores muitos. Razão por que ninguém esperava se lançasse candidata a vereadora, nas eleições de 1992, sua secretária de Ação Social -mais conhecida como "Zefinha". Que, como sabiam todos os gravataenses, privava da cama de Chucre. E que até imprimia cartões de visita com uma anotação, por baixo do nome -"primeira-dama".
O PT impugnou essa candidatura. Contratando, como advogado, José Roberto Cavalcanti -que sustentou, em mandado de segurança, aplicar-se à concubina (no caso "Zefinha"), todos os impedimentos eleitorais que atingiriam uma esposa de prefeito. Garantindo a moralidade pública. Acusação juridicamente perfeita. Em seguida, falou o advogado de defesa, Geraldo Neves -famoso por seus exageros (inclusive nos casamentos). Na platéia, a "primeira-dama" em pessoa. Vestida de preto -sem que ninguém atinasse a razão. Foi, talvez, a mais curta defesa da história dos TREs.
Geraldo começou a festa -"Chucre com concubina? Pelo amor de Deus. Ele gosta é de rapariga, senhores. Ra-pa-ri-ga". Após o que, olhando para os juízes, encerrou seu breve discurso - "E vocês todos sabem disso. Tenho dito". Resultado de votação? 6 x 0. A favor da "primeira-dama", claro.
P.S. Foi a única alegria de "Zefinha". Durou pouco. Perdeu a eleição. O mundo não é perfeito.


JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO, 54, advogado no Recife, escreve às segundas-feiras nesta coluna




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