São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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POLÍTICA DA IMAGEM

Teoria da dependência

RENATA LO PRETE
q Alckmin é Serra, informa em letras miúdas o quadro de abertura da propaganda televisiva do governador. No entanto, a liderança lhe permite tocar uma campanha que em nada lembra o desespero do colega tucano em disputa pela Presidência.
Genoino é Lula, não se cansa de repetir com entusiasmo o locutor do horário petista. Mas, à diferença do padrinho, o candidato à sucessão paulista não está em condições de ser "paz e amor".
Os personagens representados pelos dois finalistas da eleição federal se invertem no plano estadual, em que coube a Genoino o papel de raivoso.
Seus 12 pontos de desvantagem em relação a Alckmin, se não parecem intransponíveis como os 29 existentes entre Lula e Serra, tampouco constituem déficit de fácil reversão até domingo.
Mas a matemática é insuficiente para explicar o tom da campanha do PT em São Paulo, fruto da incorporação de elementos essenciais do discurso malufista.
Como o adversário eliminado no primeiro turno, Genoino concentra suas críticas à atual administração em um tripé formado por pedágios, progressão continuada e criminalidade.
O mimetismo vai além do cardápio de temas, refletindo-se na própria escolha das palavras. Cliente de Duda Mendonça -que de Maluf entende como poucos-, o petista promete dar fim à "farra dos pedágios" e ao sistema educacional "em que crianças chegam à quinta série sem saber ler nem escrever".
O terceiro problema ele pretende resolver com a "Operação Linha Dura", abracadabra que pode ser descrito como uma espécie de "Fura-fila" da segurança.
Apesar do empenho, o eleitorado do ex-prefeito se transfere majoritariamente para Alckmin, mostra o Datafolha publicado hoje.
Outro fator a explicar os excessos verbais de Genoino é a personalidade de seu oponente. Frio e metódico ao extremo, o governador revela-se osso duro de roer.
Em dois debates na semana passada, bombardeou o petista com perguntas técnicas sobre a gestão do Estado. Obteve respostas vagas e não raro destemperadas. O que planeja fazer quanto ao saneamento básico? "Muito mais do que você está fazendo."
Nem a tática de associação a FHC, que tanto tira Serra do sério, parece funcionar com Alckmin. Diante de questões nessa linha, ele faz rápido reconhecimento de mérito do governo federal e, sem trauma aparente, parte para o que lhe interessa: vender a própria administração.
Em contrapartida, quando fustiga o adversário por "ficar na sombra do presidenciável de seu partido", Alckmin toca em ponto sensível. A candidatura Genoino é, de fato, "luladependente".
Boa parte das respostas do petista consiste em afirmar que os problemas serão resolvidos com "Lula presidente e a mudança do modelo econômico". Dá a impressão de um vestibulando surpreendido ao passar na primeira fase e sem tempo de se preparar adequadamente para a segunda.
Enquanto isso, Alckmin conduz a campanha clássica de quem está no cargo, conhecida por marqueteiros como "fez-fará". A propaganda é um desfile de obras. Esqueça a disputa federal e o "modelo econômico".
Já foi dito que, se Serra perder e Alckmin ganhar, os governadores de São Paulo e de Minas serão os novos donos do PSDB.
Sem dúvida há diferenças de estilo entre os dois. Impossível imaginar o reservado Alckmin flagrado pelo "Jornal Nacional", como foi Aécio Neves, jogando vôlei de calção de banho no dia seguinte à vitória. Mas também é certo que ambos partilham enorme distância, em discurso e imagem, da geração de tucanos que, indicam as pesquisas, deverá sair derrotada desta eleição.


A repórter RENATA LO PRETE escreve às segundas-feiras nesta coluna


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