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POLÍTICA DA IMAGEM
Teoria da dependência
RENATA LO PRETE
q
Alckmin é Serra, informa
em letras miúdas o quadro
de abertura da propaganda televisiva do governador. No entanto,
a liderança lhe permite tocar uma
campanha que em nada lembra o
desespero do colega tucano em
disputa pela Presidência.
Genoino é Lula, não se cansa de
repetir com entusiasmo o locutor
do horário petista. Mas, à diferença do padrinho, o candidato à sucessão paulista não está em condições de ser "paz e amor".
Os personagens representados
pelos dois finalistas da eleição federal se invertem no plano estadual, em que coube a Genoino o
papel de raivoso.
Seus 12 pontos de desvantagem
em relação a Alckmin, se não parecem intransponíveis como os 29
existentes entre Lula e Serra, tampouco constituem déficit de fácil
reversão até domingo.
Mas a matemática é insuficiente para explicar o tom da campanha do PT em São Paulo, fruto da
incorporação de elementos essenciais do discurso malufista.
Como o adversário eliminado
no primeiro turno, Genoino concentra suas críticas à atual administração em um tripé formado
por pedágios, progressão continuada e criminalidade.
O mimetismo vai além do cardápio de temas, refletindo-se na
própria escolha das palavras.
Cliente de Duda Mendonça
-que de Maluf entende como
poucos-, o petista promete dar
fim à "farra dos pedágios" e ao
sistema educacional "em que
crianças chegam à quinta série
sem saber ler nem escrever".
O terceiro problema ele pretende resolver com a "Operação Linha Dura", abracadabra que pode ser descrito como uma espécie
de "Fura-fila" da segurança.
Apesar do empenho, o eleitorado do ex-prefeito se transfere majoritariamente para Alckmin,
mostra o Datafolha publicado hoje.
Outro fator a explicar os excessos verbais de Genoino é a personalidade de seu oponente. Frio e
metódico ao extremo, o governador revela-se osso duro de roer.
Em dois debates na semana
passada, bombardeou o petista
com perguntas técnicas sobre a
gestão do Estado. Obteve respostas vagas e não raro destemperadas. O que planeja fazer quanto
ao saneamento básico? "Muito
mais do que você está fazendo."
Nem a tática de associação a
FHC, que tanto tira Serra do sério, parece funcionar com Alckmin. Diante de questões nessa linha, ele faz rápido reconhecimento de mérito do governo federal e,
sem trauma aparente, parte para
o que lhe interessa: vender a própria administração.
Em contrapartida, quando fustiga o adversário por "ficar na
sombra do presidenciável de seu
partido", Alckmin toca em ponto
sensível. A candidatura Genoino
é, de fato, "luladependente".
Boa parte das respostas do petista consiste em afirmar que os
problemas serão resolvidos com
"Lula presidente e a mudança do
modelo econômico". Dá a impressão de um vestibulando surpreendido ao passar na primeira fase e
sem tempo de se preparar adequadamente para a segunda.
Enquanto isso, Alckmin conduz
a campanha clássica de quem está no cargo, conhecida por marqueteiros como "fez-fará". A propaganda é um desfile de obras.
Esqueça a disputa federal e o
"modelo econômico".
Já foi dito que, se Serra perder e
Alckmin ganhar, os governadores
de São Paulo e de Minas serão os
novos donos do PSDB.
Sem dúvida há diferenças de estilo entre os dois. Impossível imaginar o reservado Alckmin flagrado pelo "Jornal Nacional", como
foi Aécio Neves, jogando vôlei de
calção de banho no dia seguinte à
vitória. Mas também é certo que
ambos partilham enorme distância, em discurso e imagem, da geração de tucanos que, indicam as
pesquisas, deverá sair derrotada
desta eleição.
A repórter RENATA LO PRETE escreve
às segundas-feiras nesta coluna
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