São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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José Airton ameaça hegemonia do partido no Estado

DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Um nome quase desconhecido em seu próprio Estado até o começo da campanha eleitoral, José Airton Cirilo deixa o PT pela primeira vez perto do poder no Ceará e ameaça a hegemonia de Tasso Jereissati, há 16 anos no governo.
Segundo o Ibope, ele está encostado no candidato de Tasso, Lúcio Alcântara (PSDB), com 42% das intenções de voto, contra 47% -a margem de erro é de 2,5 pontos percentuais.
Vereador em Fortaleza e prefeito por duas vezes da pequena Icapuí, no sertão, o petista enfrenta na campanha a acusação de ter ganho uma casa de um empreiteiro. O imóvel, em Icapuí, teria sido presente da Construtora Costa Lima, que teria prestado serviços à prefeitura na gestão de Airton.
""É tudo perseguição, minha vida é limpa", defende-se, dizendo que pela escritura, a casa não em relação com o empreiteiro. (KF)
 

Agência Folha - O sr. sentiu dificuldades dentro do próprio partido pelo descrédito de uma vitória frente ao candidato de Tasso?
José Airton Cirilo -
No início, havia uma certa descrença, porque a militância e as nossas lideranças estão mais envolvidas com os candidatos proporcionais e tinham dificuldade de acreditar na nossa vitória. Houve dificuldades muito grandes, ainda temos dificuldades, mas temos algo que é extraordinário, que é o sentimento de construir uma sociedade mais justa e solidária. Estamos numa nova etapa, vitoriosa.

Agência Folha - Como o sr. se posicionaria num eventual governo do tucano José Serra? Teria dificuldades?
Cirilo -
Esse governo do PSDB deixou o Estado numa situação dramática, endividado, fragilizado do ponto de vista social, e só com o apoio de um projeto nacional poderá superar essas dificuldades. Se, por acaso, uma tragédia dessas vier a acontecer [Serra vencer", é evidente que nós teríamos de fazer um esforço maior, mas nós saberíamos conduzir o Estado, como eu já fiz: fui prefeito na oposição e nunca tive apoio do governo do Estado.

Agência Folha - A principal crítica de seu adversário é que o sr. teria menos preparo.
Cirilo -
Essa é uma forma preconceituosa de querer me desqualificar, mas vamos começar pelo Tasso: ele nunca foi nem suplente de vereador, foi governador do Ceará e se acha competente. A minha competência já provei duas vezes quando fui prefeito num município pobre, miserável, que tinha 70% de analfabetos, 73% de favelados, zero de saneamento, saúde era artigo de luxo, a mortalidade era de 150 por mil, e nós tornamos esse município exemplo do Ceará.

Agência Folha - No seu programa de governo, os projetos levam no nome o "zero", "Fome Zero", "Desemprego Zero". É possível chegar nesse número?
Cirilo -
Isso é um indicativo, uma proposta simbólica, claro que você não vai atender isso, mas é um indicativo.

Agência Folha - O sr. conseguiu o apoio de todos os candidatos de oposição, PMDB, PDT, PSB. Isso não pode descaracterizar seu governo?
Cirilo -
Não, porque todos sabem que eu sou um homem com uma sólida formação socialista, eu tenho, como meu partido, princípios e valores éticos e morais inarredáveis e, principalmente, eu sou da geração que foi forjada na luta política pelas liberdades. Todos os apoios vieram de um compromisso de fazer profundas transformações na realidade do Ceará e nós não vamos abrir mão de um milímetro desse nosso caminho.

Agência Folha - Qual seria a sua primeira medida no governo?
Cirilo -
Mobilizar a sociedade para debater os problemas e as soluções.

Agência Folha - Como será sua relação com a Assembléia Legislativa, que tem maioria governista?
Cirilo -
Vai ser baseada no interesse público, e eu vou dialogar permanentemente, até porque nós vamos sempre discutir com a sociedade antes.


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