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ECOS DO REGIME
Ministro afirma que apenas arquivo sobre o Araguaia foi destruído
Sem "motivação", Viegas diz que vai buscar documentos
EDUARDO SCOLESE
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro José Viegas (Defesa)
afirmou ontem que, apesar de
não estar "motivado", vai buscar
informações nos arquivos do governo federal e do Exército para
saber da existência ou não de documentos sobre a atuação repressiva das Forças Armadas durante
a ditadura militar (64-85).
"Eu vou procurar me informar
a esse respeito [da existência de
documentos] (...) Veja, eu não tenho nenhuma motivação de ficar
revolvendo estes casos do passado. Eles pertencem à história e devem ser analisados por historiadores. Não fazem parte da preocupação imediata do ministro da
Defesa", afirmou, pela manhã, no
Palácio do Planalto.
Antes, passou pela Câmara, onde também tratou do tema. "Vamos ver, se for necessário, evidentemente que sim."
Para Viegas, a única certeza que
existe é sobre a incineração dos
documentos referentes à guerrilha do Araguaia -movimento
armado de integrantes do PC do B
que atuou na divisa dos Estados
do Tocantins (na época, Goiás),
Pará e do Maranhão, entre os
anos de 1972 e 1975.
Os conflitos com as Forças Armadas começaram em 1972, mas
somente três anos depois o foco
guerrilheiro foi completamente
destruído. "Todas as minhas declarações sobre arquivos se referem ao Araguaia, e não a outros
arquivos", disse.
Nota infeliz
Em nota divulgada no último
domingo, o Exército afirmou que
a Defesa "tem, insistentemente,
enfatizado que não há documentos históricos" que comprovem
mortes durante as operações militares na ditadura.
"Esse foi um dos pontos em que
a nota é muito infeliz. O Ministério da Defesa tem dito e continuo
a dizer que não há arquivos oficiais referentes ao episódio da
guerrilha do Araguaia (...) Eu não
tenho dúvidas que eles foram
queimados (...) Transformar essa
afirmação em uma exoneração
mais ampla com relação a outros
episódios é absolutamente indevido, de maneira que isso não corresponde aos fatos", afirmou.
Ontem, em entrevistas, Viegas
aproveitou para criticar mais uma
vez o teor da primeira nota divulgada pela Força acerca de fotos
inéditas que supostamente mostram o jornalista Vladimir Herzog antes de morrer sob custódia
do Exército, em 1975. O laudo oficial da época apontou "suicídio"
como a causa da morte.
Anteontem, sob pressão de Viegas e do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, o Exército recuou da
primeira nota, divulgando um
texto de retratação. Na primeira
versão, a Força defendeu a repressão da ditadura.
Desgaste
Em conversas reservadas na
manhã de ontem em Brasília, o
presidente Lula julgou superada a
crise. Apesar disso, o desgaste do
ministro Viegas aumentou, o que
eleva a possibilidade de ele vir a
ser substituído na reforma ministerial que Lula pretende fazer
após as eleições municipais.
Para o ministro, "o caso Herzog" também se encerrou com a
retratação do Exército. Ele disse
não acreditar numa reação negativa dos militares por causa do
episódio.
"Eu espero que não haja nenhuma reação nesse sentido. A nota
de correção era necessária para
corrigir distorções e enfoques errôneos que a nota publicada no
domingo continha."
Na Câmara, Viegas participou
de comemoração ao Dia do Aviador e ao Dia da Força Aérea Brasileira. Os comandantes da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos da
Silva Bueno, e da Marinha, almirante Roberto de Guimarães Carvalho, também compareceram ao
evento.
Eles não quiseram fazer comentários sobre a existência de supostos arquivos nem sobre a crise iniciada com a primeira nota do
Exército. A assessoria de comunicação da Aeronáutica reafirmou
que não possui arquivos da repressão durante o regime militar.
O comandante do Exército, general Francisco Albuquerque,
responsável pela nota de retratação de anteontem, não foi à solenidade e mandou representante.
Segundo a Força, ele participou
durante todo o dia de reunião do
Alto Comando do Exército.
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