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Calandra afirma desconhecer fotos
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sentado num amplo gabinete
no 16º andar do prédio da Polícia
Civil de São Paulo, o delegado
Aparecido Laertes Calandra, conhecido pelo codinome "Capitão
Ubirajara", disse ontem desconhecer as fotografias que supostamente exibem o jornalista Vladimir Herzog, nu e abatido, antes de
ser morto sob custódia da Força,
em outubro de 1975.
"Não sei do que você está falando. Não sei nada disso. Tenho trabalhado muito e não vi nada", disse ontem Calandra, enquanto
despachava com um assessor.
O "Capitão Ubirajara" estava de
serviço num sábado, dia 25 de outubro de 1975, quando Herzog
morreu no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo.
Foi o "Capitão" quem comunicou à divisão de criminalística a
existência de um morto na cela especial nº 1, requerendo os serviços
da perícia. Esse pedido foi assinado pelo "Capitão Ubirajara", codinome que Calandra não reconhece como sendo dele.
Questionado sobre o dia em que
o jornalista morreu e se considerava possível as fotos serem mesmo de Herzog, voltou a responder
que desconhecia o assunto. "Realmente não sei do que você está falando", disse Calandra, que afirmou não ter autorização para falar com repórteres.
Em maio do ano passado, em
entrevista à Folha, Calandra disse
que não conheceu Herzog e que
"não tem nada com essa história".
Também não respondeu sobre o
pedido de perícia encaminhado
por ele no dia da morte.
Calandra trabalha hoje no setor
de materiais do Departamento de
Administração do Pessoal (DAP)
da Polícia Civil, no bairro da Luz
(centro de SP). O cargo é ocupado
por ele desde agosto de 2003,
quando o governador Geraldo
Alckmin (PSDB), sem maior alarde, determinou sua transferência
para um setor burocrático.
Antes, o delegado trabalhava no
Departamento de Inteligência da
Polícia Civil (Dipol) e tinha acesso
a informações sigilosas, o que
causou grande revolta em organismos de direitos humanos, que
exigiram seu afastamento.
A identidade completa do delegado só foi conhecida em 1983,
quando ele foi trabalhar com o senador Romeu Tuma (PFL-SP) na
superintendência da Polícia Federal. Até então, os ex-presos políticos o conheciam pelo codinome.
Entre amigos da polícia, apenas
os mais antigos e mais íntimos
têm a liberdade de chamá-lo de
"Capitão Ubirajara". Sobre a
atuação dele no DOI-Codi, os policiais evitam falar. Dizem apenas
que Calandra é de "extrema direita" e recorre a expressões como
"vermelho" ou "comunista" para
se referir aos ex-presos políticos.
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