São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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Comissão vai convidar Firmino para depor

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara aprovou ontem o envio à perícia das três fotos que supostamente mostram o jornalista Vladimir Herzog nu, sob custódia do Exército, horas antes de sua morte. O ex-cabo José Alves Firmino, que entregou o material para a comissão, também será convidado a depor.
Ficou decidido que a perícia será feita por dois institutos independentes, mas seus nomes ainda não foram escolhidos.
"Minha primeira proposta é que estas fotos sejam exaustivamente periciadas", afirmou o presidente da comissão, deputado Mário Heringer (PDT-MG).
Nenhum dos deputados da comissão disse ter certeza de que as imagens retratam o jornalista. "Tudo indica que é o Vladimir Herzog. Mas precisamos do exame pericial de dois renomados centros antes de ter certeza", disse Miro Teixeira (PPS-MG).
Também preso no regime militar, o deputado Fernando Gabeira (sem partido-RJ) foi mais taxativo. "Jamais vi alguém ficar nu com relógio de pulso, porque o relógio era retirado para a pessoa perder a noção do tempo. Parece-me absolutamente irreal."
Os deputados vão solicitar às Forças Armadas que sejam identificados e divulgados outros documentos relativos à repressão política. O arquivo da Comissão de Direitos Humanos será o primeiro a passar por um inventário.
Em 1997, Firmino deixou na comissão um conjunto de documentos sigilosos sobre as atividades de inteligência do Comando Militar do Planalto. Entre os papéis estão relatórios de espionagem de partidos políticos nos anos 90.
As três fotos, divulgadas no domingo pelo jornal "Correio Braziliense", mostram um homem nu, sentado em um estrado de madeira, humilhado. A viúva de Herzog, apresentado como suicida em 1975, reconheceu o jornalista em uma das fotos, mas não teve certeza sobre as outras duas.
Nota divulgada no domingo pelo Exército, em que o comando considerou "legítimas" as formas de repressão política, criou mal-estar na Força e no Planalto. Sob ordens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o comandante Francisco Albuquerque divulgou nova nota anteontem, desculpando-se pelo teor da primeira.
Chico Alencar (PT-RJ) e Maria do Rosário (PT-RS) pediram a punição dos responsáveis pelo primeiro texto. A deputada disse que vai apresentar pedido de exoneração do general Antonio Gabriel Esper, chefe do Centro de Comunicação Social do Exército.
A divulgação das três fotos provocou ainda reações dos deputados da Comissão de Direitos Humanos, que defenderam "filtros", consultas às famílias e o aval da comissão antes da publicação de documentos.


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