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ECOS DO REGIME
José Firmino afirma que vigiou presidente durante congresso em 93
Cabo reformado diz que Lula foi espionado nos anos 90
Alan Marques/Folha Imagem
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O cabo reformado José Alves Firmino segura bandeira do PT usada durante operações de espionagem das quais teria participado |
ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GOIÂNIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, partidos políticos, sindicatos e entidades estudantis foram
alvos de espionagem na história
recente. A afirmação é do cabo reformado José Alves Firmino, 34,
que apresenta uma série de documentos para confirmar a atuação
de arapongas no início e meados
dos anos 1990.
Ele conta que agiu como espião
infiltrado por várias vezes na década de 90. Um exemplo é documento nº 03 de 1993 do Serviço de
Inteligência do Exército que descreve o 8º Encontro Nacional do
PT, realizado em Brasília.
As denúncias são reforçadas
por uma documentação desviada
do Exército. Embora o caso já tivesse sido encaminhado à Comissão de Direitos Humanos da Câmara em 1997, voltou à tona depois que fotos inéditas supostamente do jornalista Vladimir
Herzog foram encontradas no
meio dos documentos.
O Centro de Comunicação Social do Exército informou que não
vai comentar as afirmações de
Firmino.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Agência Folha - Como era sua
atuação no Serviço de Inteligência
do Exército?
José Alves Firmino - Geralmente
me passava por jornalista ou estudante ligado a algum movimento.
O Exército conseguia os documentos. Em alguns casos a matéria até chegava a ser publicada em
um jornal de Marabá (PA), que
não me lembro o nome.
Agência Folha - Era sempre assim
que você se infiltrava?
Firmino - É. Por exemplo, no
MST eu entrava como repórter,
pedia exclusividade [para a suposta cobertura jornalística], justamente para que, caso aquele
acampamento fosse invadido pela polícia, a mídia não tomasse conhecimento.
Agência Folha - Você ingressou
no Exército em 1989. Quando você
começou a atuar como espião?
Firmino - A partir do ano de
1990, ainda como soldado. Mas
ativo mesmo, fazendo infiltrações, a partir de 1992. Aí ficava infiltrado em partidos políticos, sindicatos, fazia campanas para o
Lula, o Cristovam Buarque, a
Alerte Avelar Sampaio, hoje deputada distrital, a Maninha, deputada federal pelo PT, o Agnelo
Queiroz, ministro do Esporte,
Sérgio Arouca. Além de lideranças de países como Cuba, que
sempre foi uma preocupação do
Exército. Assim como a Coréia.
Agência Folha - E sempre como
repórter desse jornal de Marabá?
Ele circula?
Firmino - Sempre Marabá. É um
jornalzinho lá, ligado aos órgãos
de informação, se não for do próprio Exército. E depois, para dar
um suporte maior, foram destacados alguns agentes para tirar
documentos da Fenaj [Federação
Nacional dos Jornalistas], espelhos de jornalistas. A missão foi
distribuída para vários agentes.
Em agosto de 1997, eu entreguei
os documentos originais para a
Comissão de Direitos Humanos e
o caso veio a público.
Agência Folha - E o alvo principal
era o PT?
Firmino - PT, PC do B, PPS, esses
partidos mais de esquerda. Mas
aconteceu, por exemplo, o MR-8,
ligado ao PMDB.
Agência Folha - Você tem uma foto com Lula. Onde foi tirada?
Firmino - É de 1993, no 8º Encontro do PT. Na época, o general fez
um comentário sobre a fala de
abertura do Lula. Nele, avalia que
há várias divergências dentro do
PT, que o Lula estava dividido e
que provavelmente não ganharia
a eleição. E isso se confirmou. A
aproximação era para saber que
linha o Lula ia seguir, se era a ala
moderada ou a radical, que preocupava o Setor de Inteligência.
Agência Folha - O Lula era espionado só em ocasiões específicas?
Firmino - Sempre que o Lula ia a
Brasília a equipe de São Paulo avisava a nossa, que fazia campana e
o seguia aonde ele fosse.
Agência Folha - Como você teve
acesso à documentação?
Firmino - Me mandaram queimá-la. Eu estava sendo ameaçado
na época e só uma parte, que falava da minha vida, das infiltrações,
para provar. Aí eu recebi um presente na minha casa, eram três
caixas entregues por um oficial.
Não tem como um cabo arrancar
50 mil documentos.
Agência Folha - As fotos do Herzog já estavam no material encaminhado à comissão. Então, por
que só agora você está falando sobre isso?
Firmino - Porque nem eu sabia.
Foi um repórter que descobriu a
foto jogada lá na comissão e descobriu o documento por causa da
morte do Herzog. Eu cansei de
denunciar. Fui candidato a vereador em Goiânia neste ano porque
pensei que a política iria me possibilitar ter acesso para continuar
denunciando.
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