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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Lorenzetti chefiou compra do dossiê, diz PF
Para a polícia, ex-analista da campanha de Lula visava prejudicar Serra em SP; inquérito pode ser prorrogado por 30 dias
Documento parcial aponta haver "fortes indícios" de que o R$ 1,7 milhão que seria usado na compra dos papéis teve origem ilegal
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relatório parcial do delegado federal Diógenes Curado Filho aponta, por ora, Jorge Lorenzetti, ex-analista de risco e
mídia da campanha de Lula, como "a pessoa que articulou em
âmbito nacional a compra do
dossiê". Entregue ontem à Justiça Federal do Mato Grosso e
obtido pela Folha, o relatório
de Curado afirma que Lorenzetti tinha "tudo sob seu comando e, estranhamente, não
sabia do dinheiro".
Encarregado do inquérito do
dossiegate, o delegado da PF
sugere que Hamilton Lacerda,
ex-coordenador da campanha
de Aloizio Mercadante (PT) ao
governo paulista, seja o homem
da mala porque "está cada vez
mais difícil acreditar na sua
versão". Lacerda nega ter
transportado o dinheiro.
"O dossiê, com certeza, visava alterar o rumo das pesquisas
do eleitorado paulista, fazendo
uma relação do candidato José
Serra [do PSDB, eleito em 1º de
outubro] com a máfia dos sanguessugas", diz Curado. A PF
pretende ouvir o candidato
derrotado do PT ao governo
paulista, Aloizio Mercadante.
Curado não cita Freud Godoy, ex-assessor especial de
Lula, entre os suspeitos. O nome de Godoy aparece apenas
uma vez no documento. "Negou qualquer envolvimento
com o escândalo do dossiê, dizendo que não deu apoio às
pessoas envolvidas."
O delegado também não
mostrou interesse em ouvir de
novo o ex-assessor especial.
Entrevista à "IstoÉ"
No relatório, o delegado narra que Valdebran Padilha recebeu R$ 1 milhão antecipadamente de Gedimar Passos em
"garantia" para que Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia dos
sanguessugas, concedesse entrevista à revista "IstoÉ" envolvendo José Serra no escândalo.
Esse R$ 1 milhão é parte do
R$ 1,7 milhão apreendido pela
PF em 15/9, quando flagrou a
negociação entre Valdebran e
Gedimar, subordinado de Lorenzetti na campanha de Lula e
único indiciado por ora no inquérito (supressão de provas).
No relatório, o delegado diz
que Luiz Antonio "Vedoin e outros tramaram a venda de documentos e informações de interesse do Judiciário a terceiros". Afirma que as investigações demonstraram que Vedoin "manipulava documentos
e informações para achacar
pessoas envolvidas" com a máfia das ambulâncias.
Origem do dinheiro
Após um mês de investigação, Curado diz "sem medo de
errar" que "em todas as declarações, depoimentos e interrogatórios juntados nos autos não
se retira uma indicação sobre a
origem do dinheiro".
No entanto, o delegado diz
ter "fortes indícios" de que
"parcela do numerário veio do
jogo do bicho carioca". Ele avalia que todo o dinheiro é ilegal e
oriundo de fontes diversas.
Numa resposta indireta à crítica da oposição de que a PF estaria atrasando a investigação
para beneficiar o presidente
Lula, Curado declara que "desde o início, os trabalhos estão
sendo feitos e tratados em caráter institucional".
Ele pediu à Justiça a prorrogação do inquérito por 30 dias.
Nas "diligências restantes",
Curado afirma que falta concluir os "trabalhos sobre a origem dos dólares". Antes, relata
que "começaram a surgir fraudes" para esconder a real origem da moeda americana por
meio de "laranjas".
O delegado diz que ainda faltam algumas investigações para "comprovar que parte do numerário em reais veio" do jogo
do bicho no Rio de Janeiro.
Afirma que, "no devido tempo", tomará o depoimento de
Mercadante, do responsável
pela "IstoÉ", de Darci Vedoin e
"de pessoas identificadas no
decorrer das diligências".
Ele relata ainda que precisará ouvir novamente Valdebran
Padilha, Gedimar Passos, Hamilton Lacerda, Jorge Lorenzetti e Luiz Antonio Vedoin.
Por último, diz que fará "conclusão das perícias do dinheiro
e das imagens do Hotel Íbis".
Curado afirma que "quebras
de sigilo telefônico identificaram outros envolvidos", mas
não diz nomes. Ele afirma que
pedirá mais quebras de sigilos
telefônicos e bancários.
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