São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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OPOSIÇÃO
"Fora FHC" deve dominar congresso nacional
Moderados do PT consolidam poder

PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local

O 2º Congresso Nacional do PT, que começa nesta quarta-feira em Belo Horizonte (MG), deverá marcar a consolidação do poder dos petistas moderados no comando do partido.
A reeleição do deputado José Dirceu (SP), integrante da corrente Articulação/Unidade na Luta, a mesma de Luiz Inácio Lula da Silva, está praticamente assegurada. Os moderados têm garantido o apoio de 53% dos 928 delegados que votarão no encontro.
A vantagem numérica sobre o bloco dos setores mais radicais pode até alcançar percentuais maiores, entre 60% e 70%.
Mas isso só vai acontecer se os moderados conseguirem costurar uma aliança com parte do grupo comandado pelo ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Genro e pelo deputado Arlindo Chinaglia (SP) e também com a corrente esquerdista Democracia Socialista, da qual um dos expoentes é Raul Pont, prefeito da capital gaúcha.
O grupo de Genro, situado no "centro" do espectro petista, detém 12% dos delegados e deve lançar candidato à presidência para marcar posição. Os nomes mais cotados são os de Chinaglia, atual secretário-geral do PT, e o do deputado Fernando Ferro (PE). O candidato da "esquerda" é o deputado Milton Temer (RJ).
A provável vitória dos moderados, entretanto, não significa um abrandamento da oposição petista ao governo Fernando Henrique Cardoso. Pelo contrário. A ordem no PT é endurecer as ações oposicionistas, organizando mais mobilizações populares. O diálogo com o governo está descartado.
"A conjuntura nos indica um caminho mais para a esquerda. Temos que fazer oposição frontal ao governo", afirma o líder do partido na Câmara, José Genoino (SP), expoente da ala "light".
Apesar de os moderados terem maioria no PT e, portanto, mais chances de aprovar suas teses no congresso, haverá polêmica na discussão de vários assuntos.
No encontro, os petistas vão eleger o novo presidente, o Diretório Nacional, traçar as estratégias para as eleições de 2000 e de 2002, definir os rumos da sigla para os próximos anos e discutir projetos para o país. No final, será aprovada uma tese geral, que norteará o comportamento do PT.
O congresso termina domingo e, segundo a organização, custou cerca de R$ 1 milhão, incluindo infra-estrutura, hospedagem e passagens para delegados. Os custos, diz o PT, serão arcados pelos diretórios estaduais.
A temperatura deve subir com o debate em torno do lema "Fora FHC". A "esquerda" quer aprovar a adoção da palavra de ordem que propõe o impeachment de FHC e a antecipação das eleições.
O setor acredita que vai conseguir uma vitória nesse quesito, pelo fato de que em todos os encontros estaduais do PT, com exceção do realizado no Paraná, o slogan foi aprovado.
"Algo mais recuado do que o "Fora FHC" não passa nesse congresso", aposta Temer. "Somos contra essa palavra de ordem. Nossa missão é mobilizar a sociedade no próximo ano e governar nas 400 cidades e nos sete Estados onde o PT participa das administrações", sustenta Dirceu.
A solução para a controvérsia deverá ser a elaboração de um texto que fique entre essas duas posições. Por coincidência, no 1º Congresso Nacional do PT, em 91, houve a mesma polêmica, só que em relação a Fernando Collor. A esquerda queria aprovar o "Fora Collor", os moderados propuseram "Basta de Collor" e venceram. No documento final, porém, o PT apoiava um pedido de impeachment caso a conjuntura levasse a isso.
Outra discussão será sobre a política de alianças do PT para as eleições de 2000 e 2002. Os moderados defendem a manutenção da atual frente de esquerda (com PDT, PSB, PC do B e PCB) e ampliação das alianças com setores do PMDB.
No caso da disputa municipal, eles sustentam que, em algumas cidades, a coligação pode incluir o PSDB e o PPS, desde que o diretório estadual dê seu aval.
Os radicais defendem alianças só com os partidos da frente e ainda fazem restrições a setores do PDT e do PSB. Nesse contexto, o debate mais acalorado será em torno da recente crise entre o governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), e os petistas.
A "esquerda" defende o rompimento com o governador; os moderados, favoráveis à manutenção da aliança, vão fazer de tudo para que essa discussão não contamine o congresso. Garotinho chamou o PT de "partido da boquinha", em referência a um suposto fisiologismo da legenda.
"O Garotinho está fazendo um movimento semelhante ao do Ciro Gomes. Qual a razão de criticar o Ciro e apoiar o Garotinho?", diz Valter Pomar, 3º vice-presidente do PT e integrante da "esquerda".
"A visão desse pessoal é igual ao jogo de damas, que tem peças iguais. Não dá para comparar Garotinho com Ciro", afirma o moderado Marcelo Déda (SE).



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