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OPOSIÇÃO
"Fora FHC" deve dominar congresso nacional
Moderados do PT
consolidam poder
PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local
O 2º Congresso Nacional do PT,
que começa nesta quarta-feira em
Belo Horizonte (MG), deverá
marcar a consolidação do poder
dos petistas moderados no comando do partido.
A reeleição do deputado José
Dirceu (SP), integrante da corrente Articulação/Unidade na Luta, a
mesma de Luiz Inácio Lula da Silva, está praticamente assegurada.
Os moderados têm garantido o
apoio de 53% dos 928 delegados
que votarão no encontro.
A vantagem numérica sobre o
bloco dos setores mais radicais
pode até alcançar percentuais
maiores, entre 60% e 70%.
Mas isso só vai acontecer se os
moderados conseguirem costurar
uma aliança com parte do grupo
comandado pelo ex-prefeito de
Porto Alegre Tarso Genro e pelo
deputado Arlindo Chinaglia (SP)
e também com a corrente esquerdista Democracia Socialista, da
qual um dos expoentes é Raul
Pont, prefeito da capital gaúcha.
O grupo de Genro, situado no
"centro" do espectro petista, detém 12% dos delegados e deve
lançar candidato à presidência
para marcar posição. Os nomes
mais cotados são os de Chinaglia,
atual secretário-geral do PT, e o
do deputado Fernando Ferro
(PE). O candidato da "esquerda"
é o deputado Milton Temer (RJ).
A provável vitória dos moderados, entretanto, não significa um
abrandamento da oposição petista ao governo Fernando Henrique
Cardoso. Pelo contrário. A ordem
no PT é endurecer as ações oposicionistas, organizando mais mobilizações populares. O diálogo
com o governo está descartado.
"A conjuntura nos indica um
caminho mais para a esquerda.
Temos que fazer oposição frontal
ao governo", afirma o líder do
partido na Câmara, José Genoino
(SP), expoente da ala "light".
Apesar de os moderados terem
maioria no PT e, portanto, mais
chances de aprovar suas teses no
congresso, haverá polêmica na
discussão de vários assuntos.
No encontro, os petistas vão eleger o novo presidente, o Diretório
Nacional, traçar as estratégias para as eleições de 2000 e de 2002,
definir os rumos da sigla para os
próximos anos e discutir projetos
para o país. No final, será aprovada uma tese geral, que norteará o
comportamento do PT.
O congresso termina domingo
e, segundo a organização, custou
cerca de R$ 1 milhão, incluindo
infra-estrutura, hospedagem e
passagens para delegados. Os custos, diz o PT, serão arcados pelos
diretórios estaduais.
A temperatura deve subir com o
debate em torno do lema "Fora
FHC". A "esquerda" quer aprovar
a adoção da palavra de ordem que
propõe o impeachment de FHC e
a antecipação das eleições.
O setor acredita que vai conseguir uma vitória nesse quesito,
pelo fato de que em todos os encontros estaduais do PT, com exceção do realizado no Paraná, o
slogan foi aprovado.
"Algo mais recuado do que o
"Fora FHC" não passa nesse congresso", aposta Temer. "Somos
contra essa palavra de ordem.
Nossa missão é mobilizar a sociedade no próximo ano e governar
nas 400 cidades e nos sete Estados
onde o PT participa das administrações", sustenta Dirceu.
A solução para a controvérsia
deverá ser a elaboração de um
texto que fique entre essas duas
posições. Por coincidência, no 1º
Congresso Nacional do PT, em 91,
houve a mesma polêmica, só que
em relação a Fernando Collor. A
esquerda queria aprovar o "Fora
Collor", os moderados propuseram "Basta de Collor" e venceram. No documento final, porém,
o PT apoiava um pedido de impeachment caso a conjuntura levasse a isso.
Outra discussão será sobre a política de alianças do PT para as
eleições de 2000 e 2002. Os moderados defendem a manutenção da
atual frente de esquerda (com
PDT, PSB, PC do B e PCB) e ampliação das alianças com setores
do PMDB.
No caso da disputa municipal,
eles sustentam que, em algumas
cidades, a coligação pode incluir o
PSDB e o PPS, desde que o diretório estadual dê seu aval.
Os radicais defendem alianças
só com os partidos da frente e ainda fazem restrições a setores do
PDT e do PSB. Nesse contexto, o
debate mais acalorado será em
torno da recente crise entre o governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), e os petistas.
A "esquerda" defende o rompimento com o governador; os moderados, favoráveis à manutenção da aliança, vão fazer de tudo
para que essa discussão não contamine o congresso. Garotinho
chamou o PT de "partido da boquinha", em referência a um suposto fisiologismo da legenda.
"O Garotinho está fazendo um
movimento semelhante ao do Ciro Gomes. Qual a razão de criticar
o Ciro e apoiar o Garotinho?", diz
Valter Pomar, 3º vice-presidente
do PT e integrante da "esquerda".
"A visão desse pessoal é igual ao
jogo de damas, que tem peças
iguais. Não dá para comparar Garotinho com Ciro", afirma o moderado Marcelo Déda (SE).
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