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PT não pode mais aparelhar governo de Lula, diz Maggi
Governador reeleito de Mato Grosso afirma que petistas
têm de abrir espaço para coalizão no segundo mandato
Ameaçado de expulsão do
PPS por apoiar o petista,
Maggi critica a possibilidade
de Marta Suplicy assumir
o Ministério das Cidades
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
Despontando como um dos
principais aliados de Lula em
seu segundo mandato, o governador reeleito de Mato Grosso,
Blairo Maggi (PPS), disse em
entrevista à Folha que o partido do presidente não pode
mais promover um "aparelhamento do Estado". "Acho que o
PT passou dessa fase."
Maggi, que declarou voto em
Lula no segundo turno, após o
governo liberar cerca de R$ 1
bilhão para ajudar os produtores de soja, criticou a possibilidade de a ex-prefeita de São
Paulo Marta Suplicy (PT) assumir o Ministério das Cidades e
afirmou que o critério de escolha dos cargos deve ser técnico.
"Tem que haver um governo de
coalização, o PT tem que abrir
espaço." O governador recebe o
presidente para uma visita hoje
à BR-364 e a uma usina de biodiesel no Estado. Leia trechos
da entrevista.
FOLHA - Que papel o sr. deve desempenhar no segundo mandato
do presidente Lula?
BLAIRO MAGGI - Nós [Maggi e
Lula] tivemos oportunidade de
conversar várias vezes e acho
que essa aproximação decorreu
da minha pré-disposição de
sair, de buscar votos, de recolocá-lo num segmento em que ele
estava desgastado [o agronegócio]. Em 1996, tivemos uma crise [na agricultura] pior que essa. E demorou de três a cinco
anos para resolver os problemas. Na crise de 2005 nós resolvemos muitos problemas, e
faltam muito poucos para resolver. A minha missão foi a de
reavivar a memória das pessoas
de que Lula fez o papel dele.
FOLHA - O PT pode atrapalhar a
configuração política que o presidente ensaia?
MAGGI - Eu creio que não. O
presidente é maior que o PT.
Tem que haver um governo de
coalização, o PT tem que abrir
espaço.
FOLHA - Além da corrida por cargos, existe um projeto de governo
por trás desse novo cenário?
MAGGI - É aí que eu entro e defendo a tese de que tem que ter
um projeto de nação. Tem órgãos que existem nas três esferas [federal, estadual e municipal] e esses mesmos órgãos
muitas vezes trabalham em direções diferentes. Nós precisamos ter um alinhamento de pensamento. Isso para mim
não passa nem por quem vai
exercer o cargo, mas o perfil de
quem vai exercer o cargo.
FOLHA - Que perfil é esse?
MAGGI - Aqui em Mato Grosso,
o que menos importa é a questão política. O que mais importa é a questão técnica. Esse é o
governo que eu imagino que
deve ser montado. Claro que as
pessoas que o presidente indicará estão dentro de um partido. O presidente e sua equipe
vão olhar para dentro daquele
partido e dizer: "Esse é o perfil
que preciso para trabalhar".
FOLHA - Mas o critério técnico nem
sempre foi o adotado pelo PT, não?
MAGGI - Acho que o PT passou
dessa fase. Essa página do PT
deve ter ficado para trás, porque o primeiro mandato de Lula foi, e ninguém pode negar, o
mandato do PT. Houve um aparelhamento do Estado. Não vejo disposição do presidente em
repetir isso. A intenção dele
não é a de fazer um governo de
derrotados. "Ah, não conseguiu
ser governador, vem para cá."
Me parece que a intenção do
presidente vai muito na direção
do que eu estou falando, de tentar compor o que é político,
mas que tem também uma coisa mais técnica. O Marcio Fortes, do Ministério de Cidades, é
um profissional de carreira, um
técnico, alguém que conhece o
Brasil. É um ministério que não
pode ser dado para a Marta Suplicy, por exemplo. O que vai
acontecer? O negócio vai acontecer em São Paulo, e o resto do
Brasil não vai ver mais nada no
Ministério das Cidades.
FOLHA - O que é preciso mudar na
política econômica para que aconteça o crescimento prometido?
MAGGI - Acho que, para a iniciativa privada participar efetivamente do crescimento, o
Brasil tinha que acreditar mais
na política econômica que ele
tem e extinguir de vez a TR [Taxa Referencial de Juros]. Outra
questão que atrapalha os investimentos, mais especificamente no agronegócio, é a biotecnologia. Temos muito transgênico
produzindo muito mais do que
se produz hoje. Essas coisas
precisam passar por uma força
tarefa por parte do governo, e
sei que isso não é fácil. E precisamos derrubar muitos cartéis,
como o dos agroquímicos.
FOLHA - Como o sr. vê as críticas de
que advoga em causa própria quando defende o agronegócio, já que é
dono de uma das maiores empresas
de grãos do Brasil, o grupo Amaggi?
MAGGI - Tenho que aceitar essas críticas. O importante é que
nessas questões, renegociações
e coisas parecidas, a minha empresa não precisa dessa ajuda.
Agora, sou governador de um
Estado que é eminentemente
agropecuário. E, quando eu defendo o Estado, claro que defendo quem está dentro desse negócio e eu estou incluído.
FOLHA - Como está a negociação
para ir para o PSB?
MAGGI - Não acho que eu fiz algo errado, acho que é uma injustiça o que estão fazendo comigo. Agora, lá na frente eu vou
sair do partido? Eu vou, acho
que não tem mais clima para ficar. Mas expulso, não. Vou brigar na Justiça, me defender.
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