São Paulo, sábado, 21 de novembro de 2009

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Pivô do mensalão tenta afastar relator

Defesa do empresário Marcos Valério protocola no STF um pedido que questiona imparcialidade do ministro Joaquim Barbosa

Ao relatar caso do tucano Eduardo Azeredo, ministro do STF atribuiu a Valério vários crimes, o que seria prejulgamento, diz defesa

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Numa tentativa de afastar o ministro Joaquim Barbosa do julgamento do processo do mensalão, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza protocolou ontem no Supremo Tribunal Federal um pedido em que questiona a imparcialidade do relator da ação.
Para justificar o impedimento de Barbosa, o requerimento cita manifestações do ministro que caracterizariam prejulgamento em relação a Valério.
Barbosa referiu-se ao empresário como um "expert em atividades de lavagem de dinheiro", que tem "expertise em crime de lavagem de dinheiro" e "pessoa notória e conhecida por atividades de lavagem de dinheiro".
As afirmações foram feitas no último dia 5, quando o ministro acolheu, como relator, a denúncia contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), acusado de peculato e lavagem de dinheiro no chamado "mensalão mineiro" -desvio de recursos públicos para a frustrada campanha de reeleição do então governador de Minas Gerais, em 1998.
Tido como principal réu da ação penal que abalou a base aliada do governo Lula, Valério também é acusado de ter sido o operador do esquema que envolveu os tucanos em Minas.
Como o empresário é acusado de lavagem de dinheiro no mensalão, a defesa entende que o ministro demonstra "perda da imparcialidade" e "coloca em dúvida séria sua isenção para o processo e julgamento".
O documento é dirigido ao presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, que poderá recusar o pedido ou submetê-lo ao tribunal. Nessa última hipótese, o pedido será encaminhado a Barbosa, para que reconheça, ou não, o seu impedimento. Caso se considere desimpedido, o requerimento será julgado pelo plenário do Supremo, em sessão secreta.
A tendência dos tribunais é rejeitar esse tipo de recurso- chamado exceção de impedimento-, o que é admitido no requerimento assinado pelo próprio Valério e por seu advogado, Marcelo Leonardo.
No documento, o defensor diz saber que "em regra, a prudência recomenda não se arguir o impedimento do magistrado, até porque a tendência natural dos órgãos judiciários é rejeitá-lo e cria-se, desnecessariamente, uma animosidade indesejada com o julgador".
À Folha, Leonardo afirmou: "Tomei essa decisão, que preferia não tomar, para não ser considerado omisso, tendo em vista a forma contundente com que [o ministro] se manifestou sobre alguém que julgará".
Ele entende que "qualquer pessoa que fizer a leitura do voto [no inquérito de Azeredo] terá absoluta certeza de que o mesmo não tem mais condições de processar e julgar a Ação Penal nº 470 [mensalão] com a imparcialidade exigível pelo devido processo legal".
O pedido cita artigo do criminalista Luiz Flávio Gomes, para quem Barbosa "não irá nunca julgar essa causa com isenção, em razão do seu comprometimento moral, psicológico e funcional". "Já não é um juiz independente para julgar esse caso. Deveria, evidentemente, ser afastado do processo."
Procurado em seu gabinete na tarde de ontem, o ministro Barbosa não fez comentários.


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