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Pivô do mensalão tenta afastar relator
Defesa do empresário Marcos Valério protocola no STF um pedido que questiona imparcialidade do ministro Joaquim Barbosa
Ao relatar caso do tucano Eduardo Azeredo, ministro do STF atribuiu a Valério vários crimes, o que seria prejulgamento, diz defesa
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa tentativa de afastar o
ministro Joaquim Barbosa do
julgamento do processo do
mensalão, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza protocolou ontem no Supremo Tribunal Federal um pedido em que questiona a imparcialidade do relator da ação.
Para justificar o impedimento de Barbosa, o requerimento
cita manifestações do ministro
que caracterizariam prejulgamento em relação a Valério.
Barbosa referiu-se ao empresário como um "expert em atividades de lavagem de dinheiro", que tem "expertise em crime de lavagem de dinheiro" e
"pessoa notória e conhecida
por atividades de lavagem de
dinheiro".
As afirmações foram feitas
no último dia 5, quando o ministro acolheu, como relator, a
denúncia contra o senador
Eduardo Azeredo (PSDB-MG),
acusado de peculato e lavagem
de dinheiro no chamado "mensalão mineiro" -desvio de recursos públicos para a frustrada campanha de reeleição do
então governador de Minas Gerais, em 1998.
Tido como principal réu da
ação penal que abalou a base
aliada do governo Lula, Valério
também é acusado de ter sido o
operador do esquema que envolveu os tucanos em Minas.
Como o empresário é acusado de lavagem de dinheiro no
mensalão, a defesa entende que
o ministro demonstra "perda
da imparcialidade" e "coloca
em dúvida séria sua isenção para o processo e julgamento".
O documento é dirigido ao
presidente do STF, ministro
Gilmar Mendes, que poderá recusar o pedido ou submetê-lo
ao tribunal. Nessa última hipótese, o pedido será encaminhado a Barbosa, para que reconheça, ou não, o seu impedimento. Caso se considere desimpedido, o requerimento será julgado pelo plenário do Supremo, em sessão secreta.
A tendência dos tribunais é
rejeitar esse tipo de recurso-
chamado exceção de impedimento-, o que é admitido no
requerimento assinado pelo
próprio Valério e por seu advogado, Marcelo Leonardo.
No documento, o defensor
diz saber que "em regra, a prudência recomenda não se arguir o impedimento do magistrado, até porque a tendência
natural dos órgãos judiciários é
rejeitá-lo e cria-se, desnecessariamente, uma animosidade indesejada com o julgador".
À Folha, Leonardo afirmou:
"Tomei essa decisão, que preferia não tomar, para não ser
considerado omisso, tendo em
vista a forma contundente com
que [o ministro] se manifestou
sobre alguém que julgará".
Ele entende que "qualquer
pessoa que fizer a leitura do voto [no inquérito de Azeredo]
terá absoluta certeza de que o
mesmo não tem mais condições de processar e julgar a
Ação Penal nº 470 [mensalão]
com a imparcialidade exigível
pelo devido processo legal".
O pedido cita artigo do criminalista Luiz Flávio Gomes, para quem Barbosa "não irá nunca julgar essa causa com isenção, em razão do seu comprometimento moral, psicológico
e funcional". "Já não é um juiz
independente para julgar esse
caso. Deveria, evidentemente,
ser afastado do processo."
Procurado em seu gabinete
na tarde de ontem, o ministro
Barbosa não fez comentários.
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