São Paulo, sábado, 21 de novembro de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
Sem-terra dizem que vão intensificar protestos
MST invade duas fazendas em PE e tenta saquear caminhão

e da Sucursal de Brasília

Duas fazendas foram invadidas ontem na Zona da Mata e agreste de Pernambuco por lavradores ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
As propriedades foram tomadas por 75 famílias acampadas nas regiões de Vitória de Santo Antão, Glória de Goitá e Buíque. Não houve registro de confronto.
O único incidente envolvendo trabalhadores sem terra ocorreu em Escada -também na Zona da Mata- durante tentativa de saque a um caminhão carregado com arroz, feijão e café.
O veículo foi interceptado na rodovia que liga o município a Vitória de Santo Antão e o motorista obrigado a conduzi-lo até o engenho Camaçari, onde estão acampadas cerca de 80 famílias.
Policiais militares foram alertados e seguiram até o local. No engenho, conseguiram dispersar os lavradores com tiros para o alto e recuperar a carga, sem feridos.
Com as ações de ontem, subiu para seis o número de propriedades invadidas desde domingo em Pernambuco pelo MST. No período foram registrados ainda um saque e uma tentativa de saque.
Segundo o movimento, as invasões vão ser intensificadas hoje e amanhã, últimos dias da 3ª Jornada de Luta pela Terra, evento que tem como objetivo mobilizar os trabalhadores e exigir rapidez no processo de reforma agrária.
De acordo com o MST, o maior número de ações deverá ocorrer amanhã. A expectativa é de que pelo menos dez fazendas sejam invadidas durante o fim-de-semana.
A maior invasão de ontem ocorreu em Buíque, no agreste pernambucano. Cerca de 45 famílias voltaram a acampar na fazenda Sanharó, de onde haviam sido despejadas em julho. A segunda invasão foi feita por 30 agricultores, a cerca de 50 km de Recife.
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São Paulo
O ministro da Justiça, Renan Calheiros, e o ministro de Política Fundiária, Raul Jungmann, vão apresentar denúncia e pedir que o Ministério Público Federal fiscalize o inquérito sobre a destruição da sede da fazenda Rio Verde, em Itararé (SP).
Na próxima semana, os dois ministros vão conversar sobre o tema com o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro.
Ontem, no Ministério da Justiça, Renan Calheiros e Raul Jungmann receberam Roberto Maschietto, 68, proprietário da fazenda há 32 anos, em um "ato de solidariedade" pelo ocorrido.
Segundo o proprietário, a sede de sua fazenda foi invadida e depredada por cerca de 30 sem-terra, armados e com capuz.
Ele conta que seu filho foi ferido na boca e que teve dinheiro, jóias e gado roubados. Os sem-terra deixaram a sede, mas ainda estariam dentro da propriedade, desrespeitando decisão judicial.
Os representantes do governo classificaram a ação de "banditismo". "Não aceitamos violência", disse Jungmann. O ministro afirmou que será feita vistoria para atestar se a propriedade invadida de 3.800 hectares é produtiva.



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