São Paulo, sábado, 21 de novembro de 1998

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Policiais, sem salário, ficam nos quartéis

do enviado especial

Não sair de casa para não morrer. É esse o conselho que o presidente da Associação de Cabos e Soldados dá aos capixabas enquanto os 8.000 homens da Polícia Militar permanecem aquartelados.
"Recomendamos às pessoas não sair de casa e ao comércio não abrir as portas para não correr risco de vida", diz o cabo Messias da Silva, 35, presidente da associação.
Segundo ele, só na quinta-feira houve cinco assaltos a banco no Estado. A Secretaria de Segurança Pública, no entanto, fala em dois.
"A tendência é piorar a partir do final de semana", avalia o cabo Silva, que é casado e tem duas filhas, de 3 e 8 anos.
Há quatro meses sem receber o salário de R$ 750, segundo diz, o policial conta que quem está sustentando a família é a mulher. '"Estamos conseguindo sobreviver da costura dela para fora", afirma ele.
˛ Penúria no palácio
A crise financeira do Espírito Santo chegou ao Palácio Anchieta, a sede do Executivo. Literalmente, até as ante-salas do poder.
Falta toalha de papel para enxugar as mãos no banheiro do gabinete do governador do Estado.
Não só. Vitor Buaiz diz que vários telefones foram cortados por falta de pagamento. E diárias e viagens foram suspensas.
'"Estamos em uma economia de guerra", afirma ele. Como os cerca de 45 mil funcionários públicos estaduais, Buaiz também não vê a cor do salário bruto de R$ 11.250 há quatro meses.
É esse o salário que o governador, um professor licenciado, conta para sustentar a família: os três filhos e a mulher -uma assistente social que trabalha sem remuneração.
Até agora, entretanto, ele afirma que, se teve que cortar gastos no orçamento público, o familiar ainda não precisou ver a tesoura.
"Temos uma vida muito discreta. Nunca saio para jantar, tomar cerveja, nem nada. Sempre foi uma vida muito regrada."
Sua situação financeira deve se agravar quando ele deixar o governo e voltar a dar aulas na Universidade Federal do Espírito Santo.
Segundo ele, seu salário como professor é de cerca de R$ 600. "Está congelado há quatro anos", diz, repetindo queixa da maioria dos funcionários públicos. (LAR)


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