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9 dos 18 novos deputados respondem a ações
Congressistas que assumem vagas de eleitos nas eleições municipais argumentam que processos são disputas políticas
Levantamento foi feito no TSE, STF, STJ e TREs; número de processados pode ser maior, já que pode haver ação em outra instância
MARIA CLARA CABRAL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No começo do próximo ano
legislativo, 18 novos deputados
assumem o mandato na Câmara no lugar de congressistas
eleitos na última eleição municipal. Desses 18 suplentes, pelo
menos 9 já ingressam no Congresso Nacional com problemas na Justiça.
O levantamento foi feito junto ao TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), STF (Supremo Tribunal Federal), STJ (Superior
Tribunal de Justiça) e TREs
(Tribunal Regional Eleitoral).
Ou seja, o número de enrolados
com a Justiça pode ser ainda
maior, já que outros deputados
podem responder a algum tipo
de processo em outras instâncias. Cabe a ressalva óbvia: ninguém é culpado até que o caso
esteja transitado em julgado,
ou seja, com condenação sem
possibilidade de recurso.
A grande maioria dos congressistas que assume a partir
do ano que vem ocupa ou já
ocupou postos políticos. Muitos já passaram inclusive pela
Câmara dos Deputados, como é
o caso de Jairo Vieira (DEM-MG), que também já foi prefeito de Montes Claros, em Minas.
Ele é o campeão de processos.
Responde a mais de dez na Justiça do Estado e um no STF. Os
casos variam de improbidade
administrativa a crimes de responsabilidade de prefeitos.
Por São Paulo, são três os suplentes que deveriam assumir
em janeiro. Benedito Alves
Ferreira (PTB), no entanto,
corre grande risco de não chegar na Câmara, já que Frank
Aguiar (PTB), eleito vice-prefeito de São Bernardo na chapa
de Luiz Marinho, pode não assumir e permanecer como deputado federal. Ferreira não
tem nenhum problema nos
quatro tribunais pesquisados.
Já Geraldo Filho (DEM-SP),
conhecido como Bispo Gê, tem
vaga praticamente garantida
no Congresso. Ele esteve no
posto por um ano, mas agora
quer a vaga definitivamente no
lugar de Silvinho Peccioli
(DEM). Bispo Gê, ligado ao comando da igreja Renascer, responde a inquérito por acusação
de ter contratado parentes de
Sônia e Estevam Hernandes
-fundadores da igreja- como
funcionários fantasmas.
A terceira vaga aberta em São
Paulo deve ser assumida por
João Hermann (PDT), que já
foi deputado por cinco vezes.
Ele tem um processo em seu
nome que corre na Justiça há
anos devido a problemas tributários de empresa familiar.
No Rio Grande do Sul, os dois
que assumem, também têm explicações judiciais para dar.
Fernando Marroni (PT) responde a acusação por improbidade administrativa. Ele teria
dispensado licitação para conceder um bem público da prefeitura para que uma empresa
realizasse a exploração mineral. Já Osvaldo Biolchi (PMDB)
tem problemas com o TSE por
abuso do poder econômico e
captação ilícita de sufrágio.
Além de Biolchi, Ari Moutinho Junior (PMDB-AM) é o
outro suplente que assume e
responde a um mandado de segurança no TSE pelos mesmos
motivos: abuso de poder político e captação ilícita de sufrágio.
Pelo Rio de Janeiro Paulo
César Almeida (PR) também
tem problemas com a Justiça
Eleitoral. Ele responde a processo da época que era candidato a prefeito de Cabo Frio por
suposta campanha antecipada.
O tucano José Vieira Lins, do
Maranhão, responde no STF a
processo por dano moral. Segundo ele, o motivo foi a ausência de contador suficiente para
ajudar com as contas da prefeitura, o que causou os erros.
Outro suplente a assumir é
Joseph Wallace Faria Bandeira
(PT-BA), que responde a inquérito no STF por crimes praticados por funcionários públicos contra a administração.
A Folha não localizou nenhum caso em nome dos suplentes Elizeu Aguiar (PTB-PI), Fernando do Nascimento
(PT-PE), Marcos Lima
(PMDB-MG), Lucínio Castelo
de Assunção (PSB-ES), Marcio
Carlos Marinho (PR-BA) e Antônio Carlos Ramos (PTB-AL).
O mesmo acontece com os suplentes de Santa Catarina, Paulo Roberto Bauer (PSDB) e José Catarino Boeira (PT).
Outro lado
Os suplentes que assumem
no ano que vem na Câmara e
respondem a processos judiciais alegam, em sua maioria,
perseguição política e dizem
que os casos não têm nenhuma
relação com o desempenho deles no Congresso.
O deputado Jairo Vieira responde a diversos processos,
nem ele soube precisar exatamente quantos. "Tenho ações
políticas que não me preocupam. Creio que todas são originadas de disputa política, ações
que não têm sentido", disse.
Fernando Marroni diz que a
ação que responde por improbidade foi movida por seu adversário político. "Tudo isso é
uma tremenda confusão ou luta política", afirmou.
Paulo César Almeida tem o
mesmo argumento. "Eu acho
que a questão é que os políticos,
em sua maioria, têm processos.
Ao invés de se pautarem pela
ética, os adversários ficam procurando outros jeitos de se beneficiarem, por meio, de ações,
por exemplo", afirmou.
Já Geraldo Tenuta Filho,
acusado de empregar funcionários fantasmas, diz que os citados no caso trabalhavam ativamente em seu gabinete e que as
acusações são infundadas.
José Vieira Lins diz que o
processo que responde no STF
é fruto de disputa local. Segundo ele, todo prefeito de cidade
pequena do Nordeste passa por
problemas parecidos.
João Hermann diz que em
seu caso, a questão judicial é referente a um problema financeiro empresarial familiar, que
já está sendo quitado. Outros
deputados com problemas, Ari
Jorge Moutinho Junior e Joseph Bandeira não responderam aos recados da Folha. Biolchi não foi localizado.
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