São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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ELIO GASPARI

O exame do Ipea reprova seu comissariado


Guardiães da fé machucaram o idioma, banalizaram o conhecimento e valorizaram o saber de almanaque

OS DOUTORES que zelam pela doutrina da fé econômica do governo fazem inveja aos bons tempos do cardeal Ratzinger. Em 2000, o Banco Central armou um concurso para 300 analistas e, na prova de títulos, desqualificou a Unicamp, considerada um ninho de pensamento crítico da ekipekonômica tucana. Felizmente a armação foi desfeita. Agora o comissariado do Ipea foi por um caminho parecido e piorado. Abriu um concurso para 62 vagas de técnico de planejamento (R$ 11 mil mensais) e submeteu os candidatos a uma prova que ofendeu o idioma, banalizou a qualificação dos candidatos e beneficiou conhecimentos de almanaque.
Exemplificando, primeiro pela agressão ao idioma, numa pérola pinçada por Madame Natasha: "Considerando aspectos da configuração das redes urbanas regionais no Brasil e do imbricamento dessa morfologia com a economia produtivista nacional, julgue os itens que se seguem (...)".
A prova agrediu a complexidade do pensamento do sociólogo Francisco de Oliveira ao atribuir-lhe a afirmação de "não haver capitalismo monopolista sem o Estado". Tudo bem, mas Dadá Maravilha poderia ter dito a mesma coisa. (Nunca é demais lembrar que em 2003 Nosso Guia mandou tirar um texto de Oliveira de um livro publicado pelo Instituto da Cidadania.)
Uma questão mostra a opção por conhecimentos inúteis: "Uma política de conservação dos cavalos-marinhos deve ser voltada para o Gerenciamento Costeiro e Marinho e a Fiscalização Contra o Comércio Ilegal, dispensando uma articulação com a Política Nacional de Recursos Hídricos e as práticas agrícolas no Continente". Certo ou errado?
Esse concurso atraiu 8.000 jovens que estudaram a sério e querem servir ao Estado. Não deveriam ser testados por examinadores rudimentares, até mesmo desleixados. Acusar os comissários de terem produzido um teste de conhecimento esquerdista é elogio impossível. A prova é apenas burra. Durante a ditadura, foi o rigor acadêmico do Ipea, associado a uma certa tolerância com o pensamento dissidente, que preservou o acervo intelectual de uma geração de economistas como Pedro Malan.

A PETROBRAS PODERÁ ALIVIAR A CRISE COREANA

A Petrobras atendeu ao apelo de Nosso Guia para estimular a economia. Na Coréia.
No primeiro semestre, a empresa resolveu contratar 12 unidades de perfuração. Anunciou seu interesse ao mundo, apareceram cerca de 15 interessados e a indústria brasileira arrematou 10 das 12 empreitadas. Um negócio de US$ 18 bilhões ao longo de mais de dez anos.
Agora o comissariado da empresa quer contratar uma unidade de perfuração para águas profundas em área internacional. Há uma certa corrida contra o tempo para fazer o negócio com a empresa Vantage, que está construindo um equipamento na Coréia. A companhia é uma sociedade de americanos, taiwaneses e noruegueses.
Trata-se de um contrato que pode chegar a US$ 1 bilhão em cinco anos.
Como a unidade será usada fora do Brasil (talvez na Líbia, na Turquia ou em Angola), a Petrobras não está obrigada a cumprir as exigências da legislação brasileira. A contratação poderá ser justificada pela pressa que a Petrobras tem de receber a unidade. Não deixa de ser esquisito que ela conduza o negócio sem uma comunicação formal e pública ao mercado.
Bastaria anunciar à praça o interesse pelo equipamento. Se de fato não houvesse no mundo um fornecedor capaz de concordar com o preço e o prazo, a escolha seria natural como o nascer do sol.

PAPAI NOEL
É falta de educação puxar conversa sobre o tombo do fundo Fairfield Greenwich em rodas do andar de cima de Pindorama. Seu dono, o investidor Walter Noel, tinha excelentes relações com famílias notáveis do Rio de Janeiro. Pode-se especular que as aplicações de brasileiros com Noel tenha passado do bilhão de dólares. Coisa parecida, em ponto muito menor, só aconteceu em 1995, quando quebrou a casa de câmbio do banqueiro Jorge Piano.
Aos 72 anos, Noel viveu a reapresentação da Belle Époque. Há alguns anos comprou uma mansão de US$ 9 milhões perto do lago Agawan, em Nova York. Não era uma casa qualquer, pois fora projetada pelo arquiteto Stanford White, o quindim da plutocracia americana no início do século passado. É de White o palácio do filme do "Grande Gatsby". Stanford White foi assassinado por um corno em 1906. A cena está no filme "Ragtime", com o escritor Norman Mailer no papel do arquiteto.

SÁBIOS DA BANCA
Nos últimos meses, os sábios do banco de investimentos Morgan Stanley previram em duas ocasiões que o Brasil corre o risco de entrar numa recessão a partir do mês que vem. Nada contra previsões, até porque essa possibilidade é real. O que não se entende é que esses mesmos sábios jamais façam previsões sobre o desempenho das casas onde trabalham. O Morgan Stanley fechou o ano com um prejuízo de US$ 2,2 bilhões. Somado ao buraco de 2007, o prejuízo dos acionistas ficou em quase US$ 6 bilhões. Se os sábios da banca tivessem previsto os seus próprios desastres, a conta da geléia financeira de 2008 teria sido menor.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e estava na praia de Sauípe quando chegaram os governantes de 31 países da América Latina e do Caribe para discutir a integração política e econômica da região. Ele decidiu que em abril irá à reunião da Cúpula das Américas, em Trinidad Tobago, para propor a criação, para ele, do cargo de integrador de todos os organismos de integração americana. Pela conta do idiota, as Américas e o Caribe têm 35 nações e os organismos integradores, globais ou setoriais, executivos ou consultivos, existentes ou projetados são 17. A saber: OEA, Mercosul, Unasul, Alba, Aladi, ACS, BID, Caricom, Cepal, Comunidade Andina, Cúpula das Américas, Grupo do Rio, Nafta e Sic . No forno, há o projeto americano da Alca, a proposta do FuSul, do presidente do Equador, e a última novidade, a OEA do B, sem os Estados Unidos.

ZÉ EMANUEL
No início de novembro, quando Barack Obama anunciou a escolha de Rahm Emanuel para a chefia da Casa Civil de seu governo, o jornalista Tutty Vasques escreveu: "Guardem bem este nome: Rahm Emanuel. É o Zé Dirceu do Obama. Depois não digam que não avisei..." De arrecadador de fundos para Bill Clinton em 1992, passou a operador político de seu governo. Saiu da Casa Branca e associou-se a uma butique de investimentos, onde juntou US$ 18 milhões em dois anos e meio. Com amparo da turma do papelório, elegeu-se deputado. Obama ainda não tomou posse e o nome de Emanuel já queimou um filme. Apareceu no radar das conversações com o governador do Illinois, que leiloava a cadeira de senador de Obama.


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