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TO BE OR NOT TO BE
Para ministro das Relações Exteriores, fim de teste eliminatório vai democratizar o acesso à carreira
Inglês limitado é ação afirmativa, diz Amorim
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para o ministro das Relações
Exteriores, Celso Amorim, acabar
com o caráter eliminatório da
prova de inglês para a carreira diplomática equivale a uma ação
afirmativa -ou seja, um dispositivo oficial para democratizar o
acesso ao Itamaraty.
Aborrecido com as críticas que
recebeu por causa da polêmica
decisão de retirar o caráter eliminatório da prova de inglês do teste
para entrar no Instituto Rio Branco, Amorim, 62, disse que o Itamaraty pretende assumir os custos de formar potenciais futuros
diplomatas que não "trouxeram o
conhecimento da língua estrangeira do berço".
Folha - Por que o Itamaraty alterou a regra do teste de inglês?
Celso Amorim - É preciso esclarecer que o inglês não foi eliminado
do concurso nem deixará de ser
obrigatório, apenas deixará de ser
eliminatório. O diplomata brasileiro continuará tendo de saber
inglês, como deverá saber outras
línguas também. O que o Itamaraty resolveu foi tomar para si os
custos da complementação necessária para que o diplomata tenha o domínio da língua.
Folha - Qual o objetivo?
Amorim - É alargar o leque de
pessoas que possam vir a ser diplomatas. Há muitas pessoas que
eu conheci ao longo da vida que
teriam todas as condições para ser
diplomatas, mas que talvez tivessem dificuldade de passar em um
exame de inglês eliminatório.
Folha - Se a pessoa tiver conhecimento mínimo em inglês, ela vai
poder ingressar no Rio Branco?
Amorim - Ela poderá entrar porque justamente nós estamos eliminando o caráter eliminatório,
mas o edital do Rio Branco ainda
não ficou pronto. Há detalhes que
ainda não estão resolvidos. O importante é que o Estado brasileiro,
por meio do Itamaraty, está tomando para si a responsabilidade
de dar uma formação a pessoas
que tenham competência para ser
diplomata, mas que ainda não puderam, por dificuldades financeira ou por circunstâncias de vida,
ter completado os conhecimentos
nessa aptidão.
Folha - Os dois anos de curso do
Rio Branco são suficientes para
aprender inglês? Não deveriam ser
para ensinar a utilizar essa ferramenta no exercício da diplomacia?
Amorim - Eu acho que a pessoa
vai aprender a ferramenta, obviamente voltada para esse objetivo.
Mas, se em dois anos a pessoa não
tiver atingido nível suficiente, ela
continuará, poderá até começar a
exercer a função diplomática, mas
poderá não ser removida para o
exterior. Eu vejo nisso uma preocupação excessiva. Ninguém vai
passar no Rio Branco só com inglês de colégio, isso é certo.
Hoje em dia se fala muito em
ação afirmativa. Não estou falando somente em ação afirmativa
com relação a raça, mas em geral,
com relação a classe social e tudo.
Ação afirmativa é assumir para o
Estado a responsabilidade que o
Estado não conseguiu cumprir
antes, que foi dar uma formação
adequada a todo mundo.
Folha - Negociações internacionais envolvem detalhes semânticos, muitas vezes cruciais, que dão
vantagens para negociadores de
língua inglesa. Isso não pode ser
uma desvantagem para o Brasil?
Amorim - Detalhes semânticos,
muitas vezes, envolvem tradução.
Você tem de saber as várias línguas. Não só inglês. Tem de saber
mais inglês porque, em geral, a
negociação é em inglês, mas você
não tem de ser fluente em Shakespeare. As pessoas acham que eu
sou idiota? Como pode passar pela cabeça de alguém que achamos
que diplomata não precisa saber
inglês?
A ação afirmativa não é para
ajudar alguns coitadinhos, é para
tornar nossa carreira mais representativa da realidade brasileira.
O Itamaraty não tem de ser só para a elite econômica, que muitas
vezes é diferente da elite intelectual, tem de ser para todos.
Folha - O diplomata do futuro terá que saber mais sobre problemas
sociais e menos sobre champanhe,
safra de vinho e coquetéis?
Amorim - O coquetel e o champanhe ajudam também, às vezes.
Não vamos denegrir tudo o que
foi feito. Mas o principal requisito
de um diplomata é estar imbuído
da necessidade de defender os interesses de seu país.
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