São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 2006

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Marqueteiros políticos abandonam as eleições

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Três das maiores estrelas do marketing político estão fora da campanha presidencial deste ano. Duda Mendonça, Nizan Guanaes e Nelson Biondi tomaram uma decisão idêntica, mas cada um tem suas razões. Só a de Duda tem relação com as investigações das CPIs sobre o caixa dois do PT .
A saída de cena mais estridente é a de Duda, que fez a campanha de Lula em 2002. Desde que revelou à CPI dos Correios que recebeu pagamentos no exterior por essa campanha, Duda passou a viver numa espiral de surpresas.
O governo americano bloqueou o que seria sua segunda conta no exterior, e a CPI descobriu que ele transferiu R$ 4 milhões a familiares dias antes de depor na CPI. Parlamentares crêem que a transferência foi uma medida preventiva contra eventuais bloqueios de sua conta. O advogado de Duda, Tales Castelo Branco, nega a conta no exterior e diz que as transferências foram empréstimos. Duda também está sob investigação da Polícia Federal sob suspeita de uso de caixa dois e lavagem de dinheiro -práticas que ele nega.
Sua decisão de não participar da disputa presidencial seria uma retirada estratégica, segundo a Folha apurou. Se entrasse na disputa, ele acredita que sofreria uma "devassa" maior do que a atual.
Castelo Branco diz, no entanto, que a decisão de seu cliente não decorre do temor de ser investigado. "Ele está desencantado e decepcionado. É como um passarinho na muda: não canta. Mas ele vai voltar. O Duda é guerreiro".
Adversário de Duda na eleição presidencial de 2002, Nizan Guanaes informa que aquela foi sua última campanha e que não há a menor chance de mudar de idéia.
Nizan, que dirigiu as duas campanhas presidenciais de Fernando Henrique Cardoso, ficou tão desencantado com o marketing político que não dá entrevistas sobre isso. Abriu uma exceção à revista "Raça" na edição deste mês.
Questionado sobre o que aprendeu nas campanhas políticas, Nizan respondeu: "A maior lição é que tenho que investir na iniciativa privada, por um motivo muito simples: a política é polarizante. Não é possível estar num negócio em que a cada momento você tem que brigar com um partido. Eu não quero brigar nem com o PT nem com o PSDB. Sou um empresário. Tenho muitos anunciantes, contas e um monte de empregados. Não quero me posicionar. Quem tem que se posicionar são os políticos. O marketing político é uma atividade que não é viável se você tem várias agências."
Nelson Biondi também acha que o negócio com políticos é inviável mesmo quando se tem uma única agência, como ele. Segundo ele, a política faz mal aos negócios: "Os clientes para os quais eu trabalho me pediram para não me meter mais em campanha", diz.
Biondi, que estreou no marketing político em 1992 e atuou na campanha de José Serra em 2002, diz que a clientela reclama do fato de ele ficar afastado da agência na época das campanhas eleitorais: "Não tenho mais vontade de fazer marketing político. Cansei".


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