São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONTAS EM XEQUE

CPI dos Correios reclama de informações incompletas sobre movimentações financeiras enviadas por BankBoston, Real e Safra

Falhas obstruem apuração sobre 44 suspeitos

LEONARDO SOUZA
RUBENS VALENTE

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Falhas na documentação enviada por três bancos à CPI dos Correios levaram à paralisação das investigações sobre a movimentação financeira de 44 pessoas e empresas sob suspeita.
A lista inclui personagens-chave do escândalo do "mensalão", como os publicitários Duda Mendonça e Marcos Valério, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) e o empresário Ioannis Amerssonis (dono da prestadora de serviços de aviação Beta).
"Vamos auditar as contas do Duda", disse o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator de movimentação financeira.
Na sexta-feira, a Folha revelou transferências de R$ 4 milhões da conta pessoal de Duda às vésperas de seu depoimento à CPI. O dado foi descoberto pela análise de parte do extrato bancário de Duda por técnicos ligados à oposição.
Os arquivos enviados pelos bancos BankBoston, Safra e Real não identificam os responsáveis por receber ou creditar recursos em milhares de operações. Sem os nomes, técnicos da CPI não podem continuar a investigação.
O Banco Safra afirma já ter enviado os dados requisitados. BankBoston e Real dizem estar corrigindo as deficiências.
Devido à demora no envio das informações solicitadas, o deputado Fruet disse que passará a formalizar pedidos de complementação dos dados bancários diretamente ao presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS). Segundo o deputado, após as reportagens da Folha sobre falhas na base de dados da CPI, o BankBoston colocou um técnico à disposição da comissão para ajudar na complementação dos dados.
Há 17 clientes do BankBoston sob investigação. Segundo técnicos da CPI, em nenhum caso os dados bancários estão completos. O banco enviou a movimentação financeira das contas, mas não informou (parcialmente em alguns casos e integralmente em outros) nem o nome dos depositantes nem o dos beneficiários.
Entre os 17, estão também Zilmar Fernandes (sócia de Duda), Renilda Santiago (mulher de Marcos Valério), Geiza Dias dos Santos (funcionária da agência de publicidade SMPB, pela qual Valério distribuía o "mensalão"), Cristiano de Mello Paz (sócio de Valério) e as empresas CEP Comunicação e Estratégia Política Ltda. (pertencente a Duda), Graffiti Participações e 2S Participações, das quais Valério é sócio.
Há 47 operações sem identificação na conta do deputado cassado José Dirceu (PT-SP), no Banco Real, incluindo uma entrada e uma saída de R$ 32 mil cada uma.
Na base de dados enviada pelo banco, também estão sem explicações 2.648 operações de crédito e débito nas contas da empresa de aviação Skymaster Airlines, contratada dos Correios.
A maior atenção na CPI hoje gira em torno das contas de Duda Mendonça. São aproximadamente 2.080 operações que o banco não identificou apenas na conta da Duda Mendonça Associados.
O publicitário depôs na CPI no dia 11 de agosto de 2005. Entre os dias 5 e 16 do mesmo mês, transferiu R$ 4,3 milhões a parentes e a empresas de sua propriedade. No dia 10, repassou R$ 1 milhão à sua agência de publicidade, Duda Mendonça Associados.
As contas correntes de Duda tanto na pessoa física como na jurídica são do BankBoston. Na base de dados enviada pelo banco à CPI, aparece o recebimento de R$ 1 milhão no dia, sem identificação do depositante. Na de pessoa física, há dados disponíveis para movimentações feitas somente até o fim de agosto.


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