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São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 2003

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BAHIAGATE

Paulo Magalhães e o então delegado Valdir Barbosa teriam interceptado petição que investigaria pedidos de grampo

Juíza diz que sobrinho de ACM a pressionou

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A Polícia Federal já tem um forte indício que liga o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) aos grampos instalados ilegalmente em quase 200 linhas telefônicas na Bahia.
Com base nele e em novos depoimentos, o inquérito instaurado para apurar as escutas ilegais deverá apontar o senador entre os mandantes do crime.
Segundo o Conselho de Ética do Senado, a conclusão do inquérito será a base para um eventual pedido de cassação do mandato de senador de ACM.
O indício que liga o senador aos grampos, de acordo com a PF, surgiu antes mesmo de o caso ter vindo à tona, quando o deputado federal Paulo Magalhães (PFL-BA), sobrinho de ACM, e o então delegado-chefe da Polícia Civil baiana, Valdir Barbosa, interceptaram de maneira irregular uma petição que poderia ter dado início às investigações em setembro do ano passado.
Paulo Magalhães teria pressionado a juíza de Itapetinga (BA) Teresa Cristina Navarro Ribeiro, que autorizou as quebras de sigilo, a não levar o caso adiante.
Para os policiais federais, a tentativa de um membro da família Magalhães de impedir que as investigações fossem iniciadas, quando ainda não recaíam suspeitas sobre a ligação do senador com o caso, podem ser suficientes para provar que ACM e seu grupo político estão entre os autores do crime de escuta ilegal.

Tim
A juíza, em setembro do ano passado, havia recebido de uma das operadoras de telefonia celular da Bahia, a Tim, uma petição solicitando uma investigação do Ministério Público nos grampos e na adulteração das autorizações da Justiça para as escutas.
Logo após a juíza ter dado prosseguimento jurídico ao pedido da operadora, Barbosa, segundo relato de Teresa, a teria procurado para, em nome do governo, convencê-la a voltar atrás e entregar-lhe a petição.
Ela aceitou, mas, dias depois, pressionada pela operadora, pediu a devolução do documento. O deputado, então, a teria pressionado para esquecer o caso. Intimidada, a juíza recuou.
As primeiras investigações da PF começaram pouco depois do episódio, após o deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), ter suspeitado dos grampos em seu telefone.
Em seu depoimento à PF, no último dia 13, a juíza não citou o nome de ACM. O delegado Gesival Gomes de Souza, responsável pelo inquérito, disse que ela cometeu irregularidades no caso, mas descarta que haja "má-fé".
Outro ponto que reforça a tese da polícia de participação do grupo político de ACM no caso é o fato de o delegado-chefe, que à época alegava estar investigando um crime de sequestro para instalar os grampos, ter tido conhecimento de que a petição existia, mesmo não fazendo parte do Judiciário.
Barbosa teria tido acesso à informação por meio de um telefone grampeado ou com algum funcionário da operadora. O delegado-chefe é quem teria levado ao conhecimento do deputado a existência da petição.
Segundo um dos depoimentos colhidos ao longo do inquérito que investiga os grampos, Barbosa também teria procurado um representante jurídico da Tim na Bahia, Charles Mota, para pedir que a empresa abortasse a tentativa de investigação.

Demissão
Mota prestou depoimento nesta semana em Salvador ao delegado da PF. Ele negou a acusação, mas não soube explicar uma série de pontos obscuros levantados pela investigação, entre eles a demissão, em dezembro último, de funcionários da TIM que conheciam detalhes sobre as escutas.
O delegado também investiga a ligação entre Mota e políticos "carlistas" (ligados a ACM) do interior baiano.


Colaborou a Agência Folha, em Salvador


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