São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004

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Essa lei será a segunda Abolição, diz ministro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Antigo defensor do confisco de terras onde exista mão-de-obra em condição análoga à escravidão, o ministro Nilmário Miranda, titular da Secretaria Especial de Direitos Humanos, classificou como "contorcionismo" o argumento dos ruralistas baseado na previsão constitucional que impede a desapropriação de propriedades produtivas. Leia a seguir trechos da entrevista:
 

Folha- A Constituição diz que as propriedades produtivas são "insuscetíveis" de desapropriação. O confisco ficará limitado às áreas improdutivas?
Nilmário Miranda -
Não depende disso. Estamos falando de impedimento do bem. Já existe essa tradição, como no caso dos traficantes, que perdem aeronaves, apartamentos. É uma questão penal. Desde a Constituição [de 1988], não existe direito de propriedade absoluto no Brasil e muita gente ainda não entendeu. Apelar para questão da propriedade produtiva é contorcionismo.

Folha - Essa emenda constitucional vai solucionar o problema da mão-de-obra escrava?
Nilmário -
No caso de trabalhador escravo, passou da porteira para dentro, o dono não tem como dizer que não sabe. Se delegou a contratação para outro, problema dele. Se o confisco for aplicado poucas vezes, vai acabar com o trabalho escravo, com papel educativo de intimidação. As pessoas já dizem que essa lei vai ser a segunda Abolição.

Folha - Por quê?
Nilmário -
A gente pode dizer que ainda há impunidade. A nossa lei estabelece de dois a oito anos de prisão no caso de trabalho escravo, mas na prática as penas viram alternativas, como doação de cesta básica. O impedimento do bem [imóvel rural] é uma punição definitiva.

Folha - Há casos de parlamentares acusados de usar trabalho escravo em suas fazendas. Isso dificulta a aprovação da emenda que prevê a expropriação das terras?
Nilmário -
Não acredito que a resistência vá conseguir impedir a aprovação. Com a morte dos fiscais do trabalho em Unaí, a sociedade está indignada. (ID e EDS)


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