São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004

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FORÇAS ARMADAS

Embraer não recebe presidente da Sukhoi

Rússia diz que "empresta" 12 caças ao Brasil se ganhar licitação da FAB

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Rússia ofereceu a cessão imediata de 12 caças para suprir as necessidades do Brasil no hiato entre a aposentadoria dos atuais Mirage e a chegada dos aviões "zero quilômetro", caso seja escolhida para fornecer o novo supersônico da FAB (Força Aérea Brasileira). E confirmou que quer a Embraer como parceira caso ganhe a concorrência F-X, como o negócio de US$ 700 milhões é conhecido.
"Temos uma solução para o caso", disse o presidente da Sukhoi, Mikhail Pogosyan. Ele encerrou no dia 19 uma visita de dois dias a autoridades no Brasil como parte de uma missão de empresários russos que querem aumentar o comércio bilateral, hoje estimado em US$ 2 bilhões anuais.
Sua solução são 12 caças Sukhoi Su-27, a versão anterior do modelo oferecido ao Brasil, o Su-35. O problema todo é que, qualquer que seja o avião escolhido pela FAB, ele não estará disponível antes de 2007 para suprir a defesa aérea do Brasil quando os Mirage forem aposentados. E essa aposentadoria começa no fim deste ano, criando a ameaça de um "apagão" no Grupo de Defesa Aérea baseado em Anápolis (GO), que cobre o centro-sul do Brasil.
"Além disso, de uma só vez o país conta com aviões que já são mais avançados que os atuais Mirage e fazem a transição para o equipamento do F-X", disse o representante do consórcio russo que oferece do Su-35 no Brasil, Luiz Mauro Vianna Camargo.
Outros concorrentes na disputa também apresentaram opções para esse "apagão". A Lockheed americana sugeriu o uso de versões antigas do F-16, por exemplo, só que em forma de leasing. No caso russo, o país pagaria apenas o seguro dos aparelhos.
"Vamos negociar obrigatoriamente", disse Pogosyan sobre a eventual associação com a Embraer. Ele confirmou, conforme a Folha havia publicado em dezembro, que a negociação envolve o mercado de aviação civil. O governo já anunciou que a indústria nacional participará do processo.
A Embraer não aceita a proposta, mesmo porque é concorrente direta da Sukhoi no fornecimento dos caças. Os russos ofertam o Su-35, em associação com a brasileira Avibrás. Já a Embraer é sócia dos franceses da Dassault na oferta do Mirage 2000BR.
Pogosyan e o diretor-geral da Sukhoi, Andrei Belianinov, chegaram a visitar a Embraer em São José dos Campos, como integrantes da missão russa. Foram barrados. O incidente deixou o Comando da Aeronáutica contrariado, mas nem os russos nem a Embraer comentam o caso.
A Sukhoi rebateu críticas ao custo operacional de seu avião. O consórcio que oferece o anglo-sueco Gripen diz que o Su-35 custa até dez vezes mais para voar que o seu modelo -cuja hora-vôo é estimada em US$ 2.300.
"Isso é uma inverdade, e eles parecem não ser bons de contas, porque disseram que o avião era dez vezes mais caro para operar e gastava três vezes mais combustível. Não fecha", disse Camargo.
A hora-vôo do Sukhoi custa US$ 8.000. Argumentam os russos que é bom negócio porque um aparelho, por ter duas turbinas e maior capacidade de carregar armas e combustível, pode fazer sozinho o serviço de oito Gripen ou de seis Mirage. De todo modo, não serão as considerações puramente militares que definirão o vencedor, que deve ser anunciado em março. As compensações comerciais e considerações geopolíticas darão o tom da decisão.


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