São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Em viagem ao Nordeste, presidente afirma que quatro anos é pouco, e que "reparte com os pobres o dinheiro arrecadado com os ricos"

Lula ataca "elite" e diz que seu governo está fazendo história

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A JUAZEIRO E PETROLINA

Em plena campanha não declarada à reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não está preocupado com pesquisas nem com seus adversários políticos. Na prática, porém, em eventos oficiais em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), comportou-se como candidato.
Lula falou duas vezes de improviso e ainda concedeu uma rápida entrevista. Afirmou que quatro anos são insuficientes para mudar o país, atacou a "elite" que o antecedeu no Palácio do Planalto, disse que seu governo está fazendo história ao "repartir com os pobres o dinheiro arrecadado com os ricos" e voltou a anunciar uma peregrinação pelo país. "Vou percorrer cada obra que anunciamos para saber se ela está andando."
Os eventos de ontem nos municípios vizinhos abriram a série de visitas que o presidente fará até hoje em obras de novos campi de universidades federais. Em dois dias, Lula percorrerá sete cidades de seis Estados.
Ao comentar a possibilidade de um boiadeiro se formar nesses campi, o presidente Lula atacou o que chama de elite: "Quem é que disse a ele que o destino lhe reservou montar num cavalo a vida inteira para correr atrás de uma rês perdida pela caatinga afora? Esse, na verdade, é o destino provocado por uma elite que nunca se lembrou dos pobres e, muito menos, que tinha vaqueiro no meio de pobre".
A recuperação do presidente Lula nas pesquisas eleitorais está em grande parte sedimentada entre os eleitores de faixas de renda mais baixas, como a população a que o presidente se dirigiu ontem em seus discursos.

Baianidade
Ontem pela manhã, em Juazeiro, por alguns momentos Lula se esqueceu do tema do evento e, no lugar disso, ele narrou ações do governo e impressões pessoais sobre si mesmo.
Diante do governador baiano Paulo Souto (PFL), primeiro se declarou com o "coração transbordando de alegria" por estar na "querida Bahia" e que o "sangue de matuto do Nordeste brasileiro" corre em suas veias.
Depois, ao sugerir que deve ter sido baiano em outra encarnação, Lula conseguiu o inusitado: arrancou aplausos de pefelistas e petistas que se misturavam diante do palanque.
A declaração lembrou um comentário do governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência, Geraldo Alckmin (PSDB). Um mês atrás, em Recife (PE), o governador, nascido em Pindamonhangaba (SP), afirmou ser baiano e ter "raízes nordestinas".
Ontem, Lula disse que sua gestão está fazendo história. "Duvido que desde o dia em que o Brasil foi descoberto teve algum governo que cuidou mais dos pobres da Bahia do que nós estamos cuidando neste governo. Duvido."
Mais tarde, prosseguiu o sermão em Petrolina, ao citar as ações do governo na área da educação. Os eventos reuniram poucos estudantes. A maioria dos presentes -cerca de 500 pessoas em cada um dos eventos- era composta de militantes políticos e de trabalhadores sem terra.
No município pernambucano, o presidente ainda posou para fotos ao lado de vaqueiros vestidos à caráter antes de dar um recado indireto aos tucanos, envoltos na disputa entre Alckmin e José Serra pela candidatura ao Planalto.
"A única coisa que eu peço a Deus e peço aos políticos é que quem quiser brigar que brigue, mas me permitam governar o país até o final do meu mandato", afirmou o presidente.
Lula também fez comparações com o governo anterior. O presidente citou créditos da agricultura familiar, a construção da ferrovia transnordestina e as extensões das universidades federais -ações que deseja ver em maio nas inserções petistas no rádio e na TV e na campanha eleitoral.


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