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ELIO GASPARI
O carnaval dos
camarotes W, X, Y e Z
Falta pouco para que o
IBGE divulgue a sua primeira estimativa do crescimento do PIB de 2005. Lula achava
que "poderemos crescer 5% ou
um pouco mais". "Nosso guia"
não sabia do que estava falando
ou apenas rogava praga em cima da qualidade da política
econômica do presidente argentino Néstor Kirchner (9,1% de
expansão no ano passado).
Quando o número sair, a patuléia será submetida ao sistema Zé Ketti de empulhação. Ministros, banqueiros e empresas
de quiroconsultoria dirão que
os números de 2006 serão melhores: "Este ano não vai ser
igual àquele que passou". Ao
contrário das ekipekonômicas,
que prometem e não entregam,
o pierrô de "Máscara Negra"
não queria deixar para depois:
"Vou beijar-te agora, não me leve a mal".
Apesar da ruína, há alguns
números intrigantes na economia brasileira. O consumo das
diversas modalidades de absorventes femininos é um deles. No
ano passado, seu crescimento foi
desprezível, mas desde 1995
cresceu 71%, chegando a 6,25 bilhões de unidades. Numa conta
grosseira, o consumo médio das
brasileiras passou de 60 unidades/ano para 104 unidades/ano.
(Durante os anos tucanos, esse
crescimento foi três vezes maior
que sob a regência de "nosso
guia".) No ano passado, o consumo de sabonete cresceu 7%.
Por mais que os juros melhorem
a vida da turma do Camarote
A, ela não passa a consumir
mais sabão por conta do Copom.
João Carlos Basílio da Silva,
presidente da guilda da indústria da higiene e dos cosméticos,
informa que nos últimos anos o
seu ramo cresceu a taxas de
10%. Esse resultado decorre, entre outros fatores, da competição pela turma da arquibancada. Um xampu que custava R$ 8
há dez anos, hoje sai por R$ 3.
A incorporação dessa massa de
consumidores ao mercado não é
uma realização de Lula, mas
algumas características do seu
governo ajudaram a consolidar
algo mais importante: a cristalização do poder eleitoral da
grande galera nacional. Não
se fará mais política no Brasil
sem pensá-la da periferia para
o centro.
A arquibancada veio para ficar. Caducou a malandragem
de chamar aquilo que melhora
a vida dos camarotes W, X, Y e Z
de populismo eleitoreiro. A Operação Tapa-Buraco nada tem
de populista. É besteira mesmo.
O mesmo se pode dizer do Primeiro Emprego. Era uma cerebração pueril de sindicalistas
deslumbrados. No caso da Operação Tapa-Buraco há algo de
essencialmente embusteiro, mas
no Primeiro Emprego havia o
desejo de acertar. No Banco Popular (R$ 85 milhões de prejuízo) nada havia além de fina
maracutaia-companheira. Já
num exemplo municipal, o do
Bilhete Único para os ônibus de
São Paulo, uma administração
petista ousou e prevaleceu. Mudou o eixo da discussão sobre
transportes urbanos na grandes
cidades brasileiras. Não será rotulando os programas petistas
que seus adversários conseguirão devolver Lula ao remanso
de sua cobertura em São Bernardo.
Quando o governador Geraldo Alckmin promete que "o Brasil vai crescer pra chuchu", candidata-se a um papel de comediante. Seu PSDB organizou um
seminário intitulado "Renovar
Idéias: Política Monetária e
Crescimento Econômico no Brasil". Tremendo camarote A, com
um painel onde não só predominava a banca, mas havia dois
representantes de uma mesma
oficina de investimentos, o Gávea (Armínio Fraga e Ilan Goldfajn, que somam três passagens
pela mesa diretora do Banco
Central). Representando os trabalhadores, os garçons e os seguranças.
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