São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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ELIO GASPARI

O carnaval dos camarotes W, X, Y e Z

Falta pouco para que o IBGE divulgue a sua primeira estimativa do crescimento do PIB de 2005. Lula achava que "poderemos crescer 5% ou um pouco mais". "Nosso guia" não sabia do que estava falando ou apenas rogava praga em cima da qualidade da política econômica do presidente argentino Néstor Kirchner (9,1% de expansão no ano passado).
Quando o número sair, a patuléia será submetida ao sistema Zé Ketti de empulhação. Ministros, banqueiros e empresas de quiroconsultoria dirão que os números de 2006 serão melhores: "Este ano não vai ser igual àquele que passou". Ao contrário das ekipekonômicas, que prometem e não entregam, o pierrô de "Máscara Negra" não queria deixar para depois: "Vou beijar-te agora, não me leve a mal".
Apesar da ruína, há alguns números intrigantes na economia brasileira. O consumo das diversas modalidades de absorventes femininos é um deles. No ano passado, seu crescimento foi desprezível, mas desde 1995 cresceu 71%, chegando a 6,25 bilhões de unidades. Numa conta grosseira, o consumo médio das brasileiras passou de 60 unidades/ano para 104 unidades/ano. (Durante os anos tucanos, esse crescimento foi três vezes maior que sob a regência de "nosso guia".) No ano passado, o consumo de sabonete cresceu 7%. Por mais que os juros melhorem a vida da turma do Camarote A, ela não passa a consumir mais sabão por conta do Copom.
João Carlos Basílio da Silva, presidente da guilda da indústria da higiene e dos cosméticos, informa que nos últimos anos o seu ramo cresceu a taxas de 10%. Esse resultado decorre, entre outros fatores, da competição pela turma da arquibancada. Um xampu que custava R$ 8 há dez anos, hoje sai por R$ 3. A incorporação dessa massa de consumidores ao mercado não é uma realização de Lula, mas algumas características do seu governo ajudaram a consolidar algo mais importante: a cristalização do poder eleitoral da grande galera nacional. Não se fará mais política no Brasil sem pensá-la da periferia para o centro.
A arquibancada veio para ficar. Caducou a malandragem de chamar aquilo que melhora a vida dos camarotes W, X, Y e Z de populismo eleitoreiro. A Operação Tapa-Buraco nada tem de populista. É besteira mesmo. O mesmo se pode dizer do Primeiro Emprego. Era uma cerebração pueril de sindicalistas deslumbrados. No caso da Operação Tapa-Buraco há algo de essencialmente embusteiro, mas no Primeiro Emprego havia o desejo de acertar. No Banco Popular (R$ 85 milhões de prejuízo) nada havia além de fina maracutaia-companheira. Já num exemplo municipal, o do Bilhete Único para os ônibus de São Paulo, uma administração petista ousou e prevaleceu. Mudou o eixo da discussão sobre transportes urbanos na grandes cidades brasileiras. Não será rotulando os programas petistas que seus adversários conseguirão devolver Lula ao remanso de sua cobertura em São Bernardo.
Quando o governador Geraldo Alckmin promete que "o Brasil vai crescer pra chuchu", candidata-se a um papel de comediante. Seu PSDB organizou um seminário intitulado "Renovar Idéias: Política Monetária e Crescimento Econômico no Brasil". Tremendo camarote A, com um painel onde não só predominava a banca, mas havia dois representantes de uma mesma oficina de investimentos, o Gávea (Armínio Fraga e Ilan Goldfajn, que somam três passagens pela mesa diretora do Banco Central). Representando os trabalhadores, os garçons e os seguranças.


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