São Paulo, Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 1999
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COMÉRCIO EXTERIOR
Presidente ataca barreiras impostas por União Européia e EUA às exportações agrícolas do Mercosul
FHC condena protecionismo europeu

da Sucursal do Rio

O presidente Fernando Henrique Cardoso condenou ontem no Rio o "protecionismo de países desenvolvidos", na abertura da Primeira Reunião do Foro Empresarial Mercosul-Europa.
O presidente disse que, de 1990 a 1996, as importações de produtos dos países da União Européia pelo Mercosul aumentaram 274%, mas as exportações cresceram só 25%.
""Nos últimos três anos, os saldos comerciais do Mercosul com o mercado comunitário evoluíram de uma posição de superávit para uma situação de déficit", afirmou. ""Esses dados mostram que os países membros da União Européia são grandes beneficiários do regionalismo praticado pelo Mercosul."
FHC concentrou seus ataques no setor agrícola. ""Sublinho a preocupação especial do Brasil e de nossos parceiros do Mercosul com a agricultura. No intuito de isolá-la das regras normais da competição, foi montado o maior aparato de protecionismo e subsidiação de que se tem notícia, para a preservação dos interesses de um setor."
De acordo com o presidente, ""mais de US$ 160 bilhões são despendidos a cada ano por países desenvolvidos para impedir que sua agricultura se veja exposta às regras da concorrência. E pior ainda: para distorcer, com o uso de subsídios, a concorrência em terceiros mercados."
No meio do seu discurso, lido, FHC improvisou, quando criticava as medidas protecionistas: ""Talvez, em defesa da União Européia, eu possa dizer que os Estados Unidos fazem a mesma coisa." Nesse momento, foi aplaudido. E acrescentou: "De repente, também usam as mesmas práticas mal disfarçadas para proteger indústrias que muitas vezes lá não têm capacidade mais de competir com as que aqui se fizeram".
Cerca de cem empresários de 16 países participaram da abertura do encontro, que segue até amanhã.
FHC apontou ""o interesse de alguns de preservar, nas economias mais desenvolvidas, injustificáveis nichos de proteção. Não se pode pressupor uma inesgotável disposição dos países em desenvolvimento de rebaixar suas tarifas industriais, enquanto continuam elevadas as barreiras ao ingresso de determinados produtos de nosso interesse exportador".
O tom dos parceiros do Brasil no Mercosul também foi duro. Julio Sanguinetti, presidente do Uruguai, disse que o assunto da agricultura "tem de aparecer". "Se não falarmos de agricultura, não falaremos de nada", afirmou.
O chanceler argentino, Guido di Tella, representante do presidente Carlos Menem no encontro, falou no mesmo tom e também criticou os gastos dos países desenvolvidos com o protecionismo agrícola. "É claro que o tema do protecionismo agropecuário vai ter que surgir em todas as nossas próximas reuniões." Ele também foi aplaudido.
Menem não viajou ao Rio, segundo sua assessoria, devido a problemas de saúde.
Para o presidente do Paraguai, Raúl Cubas, ""a questão agrícola deve ser mais discutida".
FHC disse acreditar que o Brasil continuará a receber investimentos estrangeiros. ""Foi notável o afluxo do investimento estrangeiro direto. Esses capitais entraram e continuarão entrando, não só no Brasil como nos vizinhos do Mercosul, porque não vêm atraídos por fantasias especulativas."
""Sofremos com ataques especulativos. O último foi contra o Brasil", afirmou FHC. Antes do discurso de FHC, Sanguinetti, Di Tella e Cubas manifestaram solidariedade ao Brasil.
Quase no final de seu discurso, FHC agradeceu a solidariedade dos dos governos latino-americanos. Disse também que a superação da pobreza vai de mãos dadas com o crescimento econômico.


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