São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2006

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PF vai investigar violação de sigilo

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal instaurou inquérito para apurar as circunstâncias e os responsáveis pela violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. A pedido do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a investigação também irá abranger a origem de depósitos de cerca de R$ 25 mil na conta dele na Caixa Econômica Federal.
Anteontem, o Coaf enviou relatório à PF no qual identifica como movimentação atípica os créditos feitos na conta de Francenildo desde janeiro deste ano. O salário do caseiro é de R$ 700 mensais. Há depósitos de R$ 9.990 e R$ 10 mil em sua conta.
Segundo Francenildo, o dinheiro foi depositado por seu pai biológico, o empresário Eurípedes Soares da Silva, que tem uma empresa de ônibus em Teresina (PI). Silva confirma ter feito os depósitos, mas nega a paternidade.
A Folha apurou que o presidente do inquérito, delegado Rodrigo Carneiro Gomes, pedirá à Justiça hoje a quebra do sigilo da conta de Francenildo, pois só pode iniciar a investigação com dados oficiais. Já circulam em Brasília os extratos bancários dele. A PF também pedirá judicialmente que a Caixa informe quem acessou os dados sigilosos de seu correntista, que se tornou famoso ao revelar que o ministro Antonio Palocci freqüentava uma casa no Lago Sul conhecida como "casa do lobby".
A casa foi alugada e era freqüentada, ao longo de 2004, por ex-assessores de Palocci, como Vladimir Poleto, Rogério Buratti e Ralf Barquete. O grupo ficou conhecido como "República de Ribeirão" e é investigado por suspeita de ter intermediado negócios com o governo, com cobrança de propina.
É provável que a PF ouça nesta semana funcionários da Caixa e que também solicite à Justiça autorização para busca e apreensão de documentos no banco a fim de elucidar as responsabilidades sobre a violação do sigilo.
Em entrevista, o presidente da Caixa, Jorge Mattoso, admitiu que, pelo formato das cópias de extrato da conta de Francenildo e pelos dados que os papéis que circulam em Brasília contêm, os documentos realmente saíram do sistema do banco, conforme a Folha revelou ontem.
Ontem o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, enviou ofício ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, no qual informa ter determinado a abertura de inquérito para apurar "suposta ilegalidade" na obtenção dos dados bancários do caseiro e pede que o Ministério Público Federal acompanhe as investigações conduzidas pela PF.
Dirigindo-se ao procurador-geral, Bastos diz no ofício: "Agradeceria a Vossa Excelência a indicação, com a urgência que o caso requer, de um procurador para acompanhar" a investigação.
Na segunda-feira, Bastos disse que o caso é "grave" e que a PF irá apurá-lo com rigor. O Ministério Público do Distrito Federal abriu procedimento investigatório criminal para apurar a violação do sigilo. A medida atende à representação do advogado do caseiro.


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