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entrevista
Fazer primária fortalece sigla, diz pesquisador
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO
O cientista político norte-americano John Michael Carey, da Universidade de
Dartmouth, fez uma pesquisa sobre primárias em toda a
América Latina. Ele analisou
cerca de 700 escolhas de candidatos por esse sistema, em
mais de 90 eleições, em países como Argentina, Uruguai
e República Dominicana.
Autor de "Primary Elections and Candidate
Strength in Latin America"
(primárias e a força dos candidatos na América Latina),
Carey diz que as "pré-eleições" trazem resultados positivos aos partidos. "Se um
candidato é nomeado em
processo de primária, ele
tende a ter entre 4% e 5% a
mais de votos."
FOLHA - Os partidos ganham ao
fazer primárias?
JOHN MICHAEL CAREY - No geral,
sou favorável às primárias. O
que se argumenta normalmente é que elas dão mais
transparência e trazem processos abertos e democráticos aos partidos. Por outro
lado, uma percepção comum
é que, no final, os candidatos
podem sair enfraquecidos.
Mas pesquisas apontam para
outra direção.
FOLHA - Qual?
CAREY - O efeito das primárias é positivo para o resultado eleitoral dos partidos. E a
minha expectativa era outra.
É claro que estamos olhando
para 700 escolhas de candidatos à Presidência em 25
anos e, portanto, há casos em
que o resultado é negativo.
Mas, no geral, ele é positivo.
FOLHA - Positivo como?
CAREY - Se um candidato é
nomeado em processo de
primária, ele tende a ter entre 4% e 5% a mais de votos.
Como cheguei a esse resultado? Estabeleci um modelo
estatístico para prever o percentual de votos que você esperaria que um candidato tivesse em uma eleição. Para
isso contam muitos fatores:
como está a situação da economia? O partido está no poder atualmente? Fez coligação? A partir disso, perguntamos se o candidato foi escolhido via primárias.
FOLHA - Por que o resultado é
melhor?
CAREY - Creio que o resultado seja melhor porque as primárias são uma espécie de
"teste de marketing". Os eleitores vão dar indicações de
qual tipo de candidato preferem. Além disso, os líderes
partidários são especialistas
em várias áreas, mas nem
sempre sabem o que vai
agradar ao eleitor médio.
Talvez eles sejam bons em
escolher alguém que vá governar bem, o que não significa, necessariamente, que
seja bom em campanhas.
FOLHA - Há outras hipóteses?
CAREY - Se o candidato tem
uma fraqueza, um escândalo
no histórico, isso pode ser
exposto só na eleição. Em
uma primária, as fraquezas
aparecem antes, selecionando o candidato mais forte.
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