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Siderúrgicas do PA usaram madeira ilegal
Órgãos ambientais vêem irregularidades em quantidade de carvão vegetal declarada por quatro grandes companhias
Volume de carvão vegetal informado é incompatível com o que seria necessário para produzir ferro-gusa declarado, afirma Ibama
Paulo Santos - 15.fev.2008/Reuters
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Vista aérea de toras de madeira empilhadas em Tailândia (PA) |
FÁBIO GUIBU
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
Grandes siderúrgicas do Pará
foram um dos destinos do carvão produzido com madeira extraída ilegalmente na Amazônia, de acordo com autuações
feitas a partir de 2005.
É o que afirmam o Ibama, a
Sema (Secretaria Estadual de
Meio Ambiente) e o Ministério
Público Federal, com base em
números obtidos pelos órgãos
ambientais sobre o uso de carvão no pólo siderúrgico de Marabá (836 km de Belém).
Em ações movidas desde setembro de 2007 contra quatro
empresas instaladas na cidade,
o Ibama apontou que o volume
de carvão vegetal declarado pelas companhias era incompatível com a demanda energética
necessária para produzir a
quantidade de ferro-gusa (liga
metálica usada na produção de
aço) informada por elas.
Nas contas do órgão ambiental, a cada tonelada de ferro são
consumidos cerca de dois metros cúbicos de carvão vegetal.
A Cosipar (Companhia Siderúrgica do Pará), por exemplo,
informou que, entre 2000 e fevereiro de 2007, produziu 2,2
milhões de toneladas de ferro-gusa e declarou ter usado 1,7
milhão de metros cúbicos de
carvão. Segundo o Ibama, para
tal quantidade de ferro seriam
necessários 4,4 milhões de metros cúbicos de carvão.
O Ibama diz ter constatado
"incompatibilidades" também
em outras três empresas de
Marabá: Simara Marabá, Siderúrgica Ibérica e Usimar.
A Cosipar foi embargada em
2007 após o Ibama constatar
que a empresa operava sem licença ambiental. A companhia,
que em seguida voltou a operar,
diz que o governo estadual demorou a liberar o documento.
Para suspender as ações,
além de pagar uma multa de R$
65 milhões, a Cosipar assinou,
em janeiro, um TAC (Termo de
Ajustamento de Conduta) aceitando plantar mudas de espécies nativas em uma área de 32
mil hectares.
Para o procurador Marco
Mazzoni, do Ministério Público Federal em Marabá, há na
região um problema "interligado, como uma bola de neve".
"As siderúrgicas demandam
muita energia. A fonte é o carvão, que produz desmatamento
e cuja atividade, muitas vezes, é
vinculada a trabalho escravo."
Mazzoni afirma que não há
investigação por parte da Procuradoria que mostre que as siderúrgicas utilizam madeira
extraída ilegalmente de locais
como Tailândia (PA), onde forças federais foram deslocadas
para trabalhar na apreensão de
madeiras junto aos fiscais de
órgãos ambientais.
Segundo a prefeitura, desde
que o município foi fundado,
em 10 de maio de 1988, ele perdeu 70% de sua cobertura vegetal -o que leva a crer que a madeira apreendida na cidade tenha origem em outros locais.
Existem hoje 17 procedimentos investigativos abertos pelo
Ministério Público Federal no
Pará para apurar o possível envolvimento de siderúrgicas em
crimes ambientais e de submissão de trabalhadores a condições análogas à escravidão.
Segundo o superintendente
do Ibama no Pará, Aníbal Picanço, desde o ano passado a
fiscalização feita pelo órgão e
pela Sema passou a ser mais rigorosa com as siderúrgicas.
Para poder operar, as empresas hoje devem declarar a
quantidade de carvão vegetal
que utilizarão a cada mês.
Juntas, dez siderúrgicas de
Marabá declararam à Sema, em
janeiro, que possuíam 211.170
metros cúbicos de carvão. Informaram que a origem seriam
empresas do Maranhão e de
Pernambuco, que, segundo a
Sema, estão suspensas. "Ou as
siderúrgicas se enquadram ou
fecham", diz Picanço.
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