São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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JANIO DE FREITAS

A ausência

O que pensará um presidente da República que se vê na contingência de fugir à celebração de uma data nacional, porque alguns dos seus ex-companheiros de sindicalismo informam que muitos outros ex-companheiros de luta o receberão com vaias, faixas e refrãos de desaprovação revoltada?
Não, não pensará o mesmo que nós outros, nem sequer algo parecido com o sentimento de vergonha humilhante que seria, até onde se pode supor, a primeira reação geral. Seria, não. Em certa medida já é, que a hipótese impossível não impede o calafrio, à sua simples e absurda menção.
Duda Mendonça, o batalhão de assessores e o exército dos petistas convertidos deveriam preparar com urgência, não importa a que custo, manifestações que lembrem aquelas de Lula ovacionado, assediado, agarrado, esperado entre risos de emoção e lágrimas de êxtase, para um aceno olímpico, diante do palácio. Não importa o grau de falsificação que se faça necessário para exibir massas empolgadas: nenhum grau será maior que o da campanha eleitoral com seus compromissos de 10 milhões de empregos, reforma agrária, recusa à compra de apoio político com cargos ministeriais e outros, ministério de competentes, juros honestos, política de crescimento e de distribuição de renda.
Não é a nossa, mas sabe-se qual é a reação de um presidente que precisa ausentar-se de celebrações assim concomitantes: a do mártir simbólico da nacionalidade e a dos 20 anos da campanha em que, sem receio dos palanques e identificado com as massas, pregava as eleições diretas que afinal o levaram à Presidência.
Sim, claro, os que forçaram a ausência são os que querem "milagres em tão pouco tempo" (de quanto tempo fala quem acha um terço do mandato pouco tempo?), os irresponsáveis e impacientes e radicais. Aqueles ex-"companheiros do movimento social" a quem o presidente, antes de se desviar das celebrações para as distâncias da Amazônia, dirigiu estas palavras: "ajam com a maior responsabilidade possível, porque todos nós seremos vítimas das nossas palavras".
Todos coisa nenhuma. Vítimas das suas palavras são aqueles que esquecem o que escreveram e os que não cumprem a palavra posta em promessas e compromissos.

Correção
No artigo sobre reajustes dos soldos militares e dos vencimentos do funcionalismo civil, mencionei a promoção financeira ao posto superior, concedida pelo general Castello Branco, aos oficiais em passagem para a reserva. Esse privilégio expirou a partir de 2001.


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