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JANIO DE FREITAS
A ausência
O que pensará um presidente
da República que se vê na
contingência de fugir à celebração de uma data nacional, porque alguns dos seus ex-companheiros de sindicalismo informam que muitos outros ex-companheiros de luta o receberão
com vaias, faixas e refrãos de desaprovação revoltada?
Não, não pensará o mesmo que
nós outros, nem sequer algo parecido com o sentimento de vergonha humilhante que seria, até
onde se pode supor, a primeira
reação geral. Seria, não. Em certa medida já é, que a hipótese
impossível não impede o calafrio, à sua simples e absurda
menção.
Duda Mendonça, o batalhão
de assessores e o exército dos petistas convertidos deveriam preparar com urgência, não importa a que custo, manifestações que
lembrem aquelas de Lula ovacionado, assediado, agarrado, esperado entre risos de emoção e lágrimas de êxtase, para um aceno
olímpico, diante do palácio. Não
importa o grau de falsificação
que se faça necessário para exibir
massas empolgadas: nenhum
grau será maior que o da campanha eleitoral com seus compromissos de 10 milhões de empregos, reforma agrária, recusa à
compra de apoio político com
cargos ministeriais e outros, ministério de competentes, juros
honestos, política de crescimento
e de distribuição de renda.
Não é a nossa, mas sabe-se
qual é a reação de um presidente
que precisa ausentar-se de celebrações assim concomitantes: a
do mártir simbólico da nacionalidade e a dos 20 anos da campanha em que, sem receio dos palanques e identificado com as
massas, pregava as eleições diretas que afinal o levaram à Presidência.
Sim, claro, os que forçaram a
ausência são os que querem "milagres em tão pouco tempo" (de
quanto tempo fala quem acha
um terço do mandato pouco
tempo?), os irresponsáveis e impacientes e radicais. Aqueles ex-"companheiros do movimento
social" a quem o presidente, antes de se desviar das celebrações
para as distâncias da Amazônia,
dirigiu estas palavras: "ajam
com a maior responsabilidade
possível, porque todos nós seremos vítimas das nossas palavras".
Todos coisa nenhuma. Vítimas
das suas palavras são aqueles
que esquecem o que escreveram e
os que não cumprem a palavra
posta em promessas e compromissos.
Correção
No artigo sobre reajustes dos
soldos militares e dos vencimentos do funcionalismo civil, mencionei a promoção financeira ao
posto superior, concedida pelo
general Castello Branco, aos oficiais em passagem para a reserva. Esse privilégio expirou a partir de 2001.
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