São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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MÍDIA

Para tentar melhorar popularidade, presidente inicia ofensiva na mídia; em entrevista, prometeu desenvolvimento a partir de junho

A Ratinho, Lula diz que adubou e vai colher

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou ontem em Brasília -no feriado de Tiradentes- uma ofensiva nos meios de comunicação a fim de tentar reverter a crise política e a queda de popularidade do seu governo.
Ontem à tarde, ele recebeu na Granja do Torto o apresentador Carlos Massa, o Ratinho, a quem afirmou que fazer greve contra o governo é "inútil" e prometeu que começará a "colher em junho o que plantou", numa reedição agrária da promessa de espetáculo do crescimento, previsto para julho do ano passado.
O encontro -uma entrevista-churrasco- durou cerca de cinco horas, das 11h às 16h e foi registrado por seis câmeras do SBT. O material -foram três horas só de gravação-deverá ir ao ar em um programa especial no 30 de abril.
Pela manhã, em gravação especial do seu "Café com o Presidente", programa quinzenal veiculado em rede de rádio, anunciou medidas antigas que até hoje não saíram do papel, como o "Farmácia Popular" e crédito a juros baixos para aposentados.
O presidente também tem agendada para a semana que vem participação no "Programa do Jô", de Jô Soares, da Globo. A Folha apurou que os convites das emissoras a Lula vêm desde o início do ano, mas só agora, com o arrefecimento do caso Waldomiro Diniz, sentiu-se à vontade para aceitá-los.
No caso do Ratinho, a assessoria disse que Lula atendeu a um convite de um "amigo". A ofensiva na mídia ocorre num momento em que o governo enfrenta uma série de greves no funcionalismo, onda de invasões do MST e cobranças por um salário-mínimo maior.

Participação especial
A entrevista de Ratinho com o presidente teve a "participação especial" da dupla sertaneja Bruno e Marrone, que cantou para e com o presidente. A princípio, o encontro teria a presença do cantor Leonardo (que com o irmão, Leonardo, foi um dos símbolos da Era Collor, com o hit "Pense em Mim"). Mas Leonardo não pôde ir, por problemas de agenda.
Bruno e Marrone tornaram-se conhecidos publicamente pela música "Dormi na Praça", cujo refrão diz: "seu guarda, eu não sou vagabundo, não sou delinquente/ sou um cara carente".
Segundo Ratinho, a entrevista ocorreu em um clima de "alto astral", sem formalidades. As conversas foram captadas durante uma caminhada e durante um almoço. Na edição, serão pontuadas com músicas da dupla.
Segundo Fábio Furiatti, diretor-geral do "Programa do Ratinho", no almoço foram servidos churrasco, arroz, feijão tropeiro, salada, molho vinagrete e mandioca, acompanhados de água e Coca-Cola. De sobremesa, pudim de leite. Participaram do encontro a primeira-dama Marisa Letícia, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o assessor especial José Graziano, o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, e o deputado estadual do Paraná Carlos Ratinho Junior, filho de Ratinho.
Segundo Ratinho, a entrevista começou a ser arquitetada há um mês, num café-da-manhã com Lula. "Pedi uma força para o programa, uma entrevista exclusiva", disse o apresentador, que se tornou amigo de Lula pouco antes da campanha presidencial de 2002.
Ratinho afirma que perguntou de tudo ao presidente. "Ele está muito otimista. Falou que arou a terra no primeiro ano [de governo], jogou adubo, plantou no começo deste ano e começa a colher em junho".
Também conversou com Marisa. "Perguntei se tinha ciúme do presidente. Falou que não".
Na próxima quarta, Lula deve dar entrevista em Brasília para Jô Soares. Segundo Soares, o material deve ser exibido no mesmo dia. Ratinho, que só deve levar seu material ao ar dois dias depois, diz não ter medo de ser furado pelo concorrente, que tem outro público. "Nossas perguntas são melhores do que as dele [Jô]", provocou.

Café com presidente
No programa de rádio, Lula disse que o Ministério da Previdência deve anunciar nos próximos dias a criação de uma linha de financiamento para aposentados a juros mais baixos em relação ao mercado. A medida já fora anunciada em setembro de 2003.
Lula falou sobre salário mínimo, cujo novo valor deve ser definido nos próximos dias e entrará em vigor em maio. "Estamos preparando as bases para que a gente possa cumprir os nossos compromissos e dobrar o poder aquisitivo do salário mínimo. Agora, enquanto essas coisas não acontecem, vamos criar mecanismos para facilitar a vida do aposentado."


Colaborou a Sucursal de Brasília

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