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Gravações da PF indicam favorecimento a empresas
Conversas em poder da polícia sugerem negociações com juízes sobre sentenças
Relatório do serviço de
inteligência menciona,
entre outras, decisão
favorável à Parmalat
em novembro de 2006
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Relatórios do serviço de inteligência da Polícia Federal incluídos na Operação Têmis
mencionam diálogos que teriam sido mantidos entre a juíza federal Maria Cristina Barongeno Cukierkorn, da 23ª
Vara Cível, e advogados, aparentemente tratando de decisões judiciais de interesse de
bingos e de empresas privadas.
A operação foi deflagrada na
sexta-feira pela Polícia Federal
e pelo Ministério Público Federal numa ofensiva contra suposta quadrilha que negociava
a venda de decisões judiciais na
Justiça Federal em São Paulo.
Foram cumpridos mais de 80
mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro e Campo Grande (MS),
quando 400 policiais federais
vasculharam gabinetes de três
desembargadores no Tribunal
Regional Federal, em São Paulo. A busca atingiu residências
de magistrados, policiais, escritórios e casas de advogados,
empresários e de um procurador da Fazenda Nacional e funcionários da Receita Federal.
Segundo a Polícia Federal,
donos de bingos e empresários
faziam pagamentos mensais
entre R$ 20 mil e R$ 30 mil a
magistrados por decisões favoráveis a seus interesses.
"As diversas conversas (...)
revelam negociações diretas
entre a juíza [Maria Cristina] e
Pardo [advogado Luiz Roberto
Pardo] sobre o teor da sentença
que autorizará o funcionamento dos diversos bingos autores
da ação", afirma o documento.
Pardo é citado pela Polícia Federal como intermediário de
bingos para obter decisões judiciais de interesse de clientes.
Segundo o texto da PF, "a
participação de Maria Cristina
na organização criminosa fica
bem evidenciada no diálogo de
19.12.2006, às 11:00:09, com
Beto [Luiz Roberto Pardo], em
que ela diz que "aquela questão
já foi, já tá toda feita", provavelmente referindo-se à sentença
que acabara de prolatar".
Há menção a conversas com
advogada em que são citadas
uma federação de hipismo e
uma confederação de damas.
A desembargadora Alda Basto é citada em alguns relatórios.
Entre os casos identificados pelo Ministério Público Federal,
há um processo de interesse da
CBTE (Confederação Brasileira de Tiro Esportivo). Conversas entre advogados fazem
menção à desembargadora. A
CBTE impetrara mandado de
segurança que tramitou na 12ª
Vara Cível, tendo obtido decisão favorável. A União apelou, e
esse processo ainda se encontrava pendente de julgamento
na data do relatório da PF.
Os diálogos envolvem ainda
um processo da Golden Bingo,
de Florianópolis. Segundo o relatório da PF, é mencionado o
pedido de extensão dos efeitos
da ação para outra empresa, o
que teria sido deferido pela desembargadora em dezembro.
Parmalat
O relatório cita a concessão,
também atribuída a Alda Basto,
de decisão favorável à Parmalat
em novembro de 2006. Foram
gravados diálogos entre advogados e outros intermediários
sugerindo venda de decisões.
O Ministério Público Federal
acredita que se usou linguagem
cifrada nas referências a pagamentos, quando essa empresa
era citada como "Leite".
Há referências a uma decisão
do desembargador Nery Júnior
em apelação que teria beneficiado uma empresa denominada de Companhia Comercial
OMB (no código usado nos diálogos, "o caso Ó"), em que teria
sido admitida a compensação
de créditos de IPI.
A decisão de primeira instância concedera parcialmente a
segurança para uso de parte do
crédito-prêmio incidente sobre
exportações.
Outros diálogos envolvem
uma ação que tramitava na vara
da juíza Maria Cristina Barongeno Cukierkorn de interesse
do Frigorífico Margem Ltda.
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