São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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Autor da modernização do jogo do bicho, Capitão Guimarães levou "paz" aos chefões

DA SUCURSAL DO RIO

Oficial da reserva do Exército, Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, é o "pai" da modernização do bicho a partir do fim dos anos 70. Graças a ele, o jogo se informatizou, adotou procedimentos empresariais e conseguiu até a paz entre chefões que até então traíam e matavam uns aos outros.
O mesmo sucesso Guimarães obteve no samba. Antes de ele fundar e assumir o controle da Liga das Escolas de Samba, as apurações eram caóticas. Dirigentes e seguranças se esbofeteavam, disparavam tiros, rasgavam boletins de notas. Hoje, todos se respeitam.
Essa é sua marca, a da organização. No bicho, foi ele quem, ainda novato em meio a chefões antigos, como Castor de Andrade, Turcão e Raul Corrêa, o Raul Capitão, adotou o sistema de atas nas reuniões. Até então, valia a palavra dada.
Foi Guimarães também quem mapeou o jogo no Estado. Antes, era tudo mais ou menos improvisado: "daqui para lá, é meu; daqui para cá, é seu".
Seus primeiros passos no que os chefes ainda hoje só se referem como "contravenção" foram dados por volta de 1975, quando ele caiu nas graças de Ângelo Maria Longa, o Tio Patinhas, bicheiro veterano, então responsável pela seguro das apostas, a "descarga".
Na ocasião, Guimarães já ostentava a Medalha do Pacificador com Palma, honraria que o Exército concede a poucos de seus profissionais. Já era investigado internamente por envolvimento em contrabando.
Guimarães formou-se oficial na Academia Militar das Agulhas Negras (RJ) em 1962. Sua atuação foi marcada pela repressão a opositores ao regime. Como todos os lotados no Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna) do 1º Exército, tinha um codinome: dr. Jorge Gimenez.
Primeiramente, Guimarães, promovido a capitão em 1968, participou de operações de rua. Depois, de interrogatórios. O Grupo Tortura Nunca Mais lista sete vítimas de torturas supostamente praticadas por ele.
Do Doi-Codi, Guimarães foi para a Polícia do Exército. À frente de militares amigos, teria passado a roubar contrabandistas de bebidas, eletrônicos e das então valorizadas calças americanas da marca Lee.
Alertado sobre a ação do grupo liderado pelo capitão, o Exército abriu um inquérito policial militar que resultou em processo. Guimarães foi inocentado pelo Superior Tribunal Militar. Só deixou o Exército em 1981, por vontade própria. Já controlava o jogo em Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, na região metropolitana.
Guimarães chegou a Niterói para dividir pontos com Agostinho Lopes da Silva, o Guta. Bicheiro menor, Guta não durou muito. Ele e seu carro sumiram em uma noite de julho de 1979. Capitão Guimarães assumiu seu pontos e nunca mais parou de crescer. Tinha 37 anos.
Hoje, aos 65, ampliou seus domínios para Espírito Santo, Bahia e parte do Nordeste. Desde que deixou a prisão, em 1996, abandonou a noite e as caminhadas matinais no calçadão de Icaraí, praia mais famosa de Niterói, onde mora até hoje. (SERGIO TORRES)


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