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Autor da modernização do jogo do bicho, Capitão Guimarães levou "paz" aos chefões
DA SUCURSAL DO RIO
Oficial da reserva do Exército, Aílton Guimarães Jorge, o
Capitão Guimarães, é o "pai" da
modernização do bicho a partir
do fim dos anos 70. Graças a ele,
o jogo se informatizou, adotou
procedimentos empresariais e
conseguiu até a paz entre chefões que até então traíam e matavam uns aos outros.
O mesmo sucesso Guimarães
obteve no samba. Antes de ele
fundar e assumir o controle da
Liga das Escolas de Samba, as
apurações eram caóticas. Dirigentes e seguranças se esbofeteavam, disparavam tiros, rasgavam boletins de notas. Hoje,
todos se respeitam.
Essa é sua marca, a da organização. No bicho, foi ele quem,
ainda novato em meio a chefões antigos, como Castor de
Andrade, Turcão e Raul Corrêa,
o Raul Capitão, adotou o sistema de atas nas reuniões. Até
então, valia a palavra dada.
Foi Guimarães também
quem mapeou o jogo no Estado. Antes, era tudo mais ou menos improvisado: "daqui para
lá, é meu; daqui para cá, é seu".
Seus primeiros passos no que
os chefes ainda hoje só se referem como "contravenção" foram dados por volta de 1975,
quando ele caiu nas graças de
Ângelo Maria Longa, o Tio Patinhas, bicheiro veterano, então
responsável pela seguro das
apostas, a "descarga".
Na ocasião, Guimarães já ostentava a Medalha do Pacificador com Palma, honraria que o
Exército concede a poucos de
seus profissionais. Já era investigado internamente por envolvimento em contrabando.
Guimarães formou-se oficial
na Academia Militar das Agulhas Negras (RJ) em 1962. Sua
atuação foi marcada pela repressão a opositores ao regime.
Como todos os lotados no Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de
Operações de Defesa Interna)
do 1º Exército, tinha um codinome: dr. Jorge Gimenez.
Primeiramente, Guimarães,
promovido a capitão em 1968,
participou de operações de rua.
Depois, de interrogatórios. O
Grupo Tortura Nunca Mais lista sete vítimas de torturas supostamente praticadas por ele.
Do Doi-Codi, Guimarães foi
para a Polícia do Exército. À
frente de militares amigos, teria passado a roubar contrabandistas de bebidas, eletrônicos e das então valorizadas calças americanas da marca Lee.
Alertado sobre a ação do grupo liderado pelo capitão, o
Exército abriu um inquérito
policial militar que resultou em
processo. Guimarães foi inocentado pelo Superior Tribunal
Militar. Só deixou o Exército
em 1981, por vontade própria.
Já controlava o jogo em Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, na
região metropolitana.
Guimarães chegou a Niterói
para dividir pontos com Agostinho Lopes da Silva, o Guta. Bicheiro menor, Guta não durou
muito. Ele e seu carro sumiram
em uma noite de julho de 1979.
Capitão Guimarães assumiu
seu pontos e nunca mais parou
de crescer. Tinha 37 anos.
Hoje, aos 65, ampliou seus
domínios para Espírito Santo,
Bahia e parte do Nordeste. Desde que deixou a prisão, em
1996, abandonou a noite e as
caminhadas matinais no calçadão de Icaraí, praia mais famosa de Niterói, onde mora até
hoje.
(SERGIO TORRES)
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