São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 2009

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ONG do PC do B recebe mais verba do que prefeitos de SP

Instituição elogiada pelo TCU recebeu R$ 8,5 mi do Esporte, pasta controlada pelo partido

Maior doadora da campanha da ex-jogadora de basquete Karina, que dirige a ONG, foi uma empresa que mantém contrato com a instituição


Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
A ex-jogadora de basquete Karina, que dirige a ONG Bola pra Frente, em Jaguariúna, interior de SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma ONG ligada ao PC do B recebeu do Ministério do Esporte mais recursos do que 12 Estados ou todas as prefeituras paulistas contempladas pela pasta no ano passado. O ministério é controlado pela sigla desde o início do governo Lula.
A ONG Bola pra Frente, que recebeu R$ 8,5 milhões em 2008 do governo, é dirigida pela ex-jogadora de basquete Karina Valéria Rodrigues, eleita, em Jaguariúna (SP), vereadora pelo PC do B, no ano passado, com 642 votos. O partido elegeu outro vereador na mesma cidade com o mesmo número de votos, contra nenhum nas eleições anteriores.
A verba do Ministério do Esporte é repassada por meio do Programa Segundo Tempo, que promove práticas esportivas com alunos no período em que eles não estão em aula.
A ONG promoveu uma licitação para escolher a fornecedora de alimentos por dois anos. O valor do contrato é de R$ 4,4 milhões e a vencedora foi a RNC Comércio de Produtos Alimentícios e Artigos Esportivos. Essa empresa foi a maior doadora da campanha de Karina em 2008, responsável por 54,3% dos R$ 28,5 mil arrecadados pela candidata. Em média, cada voto recebido por Karina custou R$ 44.
Para comparação, cada voto dado ao prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM), custou R$ 7,85 e para a sua adversária Marta Suplicy (PT), R$ 8,57. "Todas as doações são legais e declaradas", diz Karina.
Ganhadores ou perdedores, os quase 380 mil candidatos a prefeito e vereador gastaram cerca de R$ 2,2 bilhões nas eleições passadas, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Foram R$ 17 por eleitor.

Repasses
O ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, visitou a ONG em abril de 2008.
Somando-se todos os valores repassados por meio do Segundo Tempo para os Estados de Acre, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins chega-se a um total de R$ 8,3 milhões. Somando-se os repasses para 23 prefeituras paulistas no último ano, o total foi de R$ 5,35 milhões.
A sede da ONG fica na casa de Karina, enquanto a sede administrativa está em uma sala no centro da cidade. A vereadora diz que não alterou o endereço da sede por conta das correspondências.
Segundo o balanço de 2008, as despesas da instituição somaram R$ 7,5 milhões, custo de R$ 418 anuais por aluno.
O gasto com pessoal totalizou R$ 1,82 milhão. As despesas operacionais somaram R$ 4,3 milhões, entre elas R$ 132,5 mil com combustível e lubrificantes e R$ 3,33 milhões com refeições e lanches para os alunos.

TCU
O TCU (Tribunal de Contas da União) já fez duras observações sobre repasses do programa Segundo Tempo. Mas citou apenas uma vez a Bola Pra Frente, elogiando o trabalho.
De acordo com a ONG, são atendidas 18 mil crianças em cidades do interior paulista. O dinheiro do ministério é responsável por 81% da receita total.
Karina argumenta que, além do TCU, a CGU (Controladoria Geral da União) também elogiou o trabalho da ONG. Apresenta ainda auditorias feitas nas contas da instituição.
Sobre a filiação ao PC do B, diz que procurou o partido mais ligado a esportes e que todos os seus projetos na Câmara são ligados ao tema. Sempre que questionado sobre o Segundo Tempo, o Ministério do Esporte diz que ligações partidárias não são consideradas.


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