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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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GIRO DIPLOMÁTICO

Encontro do Grupo do Rio deve debater fortalecimento da ONU e estratégia conjunta em relação à Alca

Lula discute no Peru relações com os EUA

PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A CUZCO

Confrontar os Estados Unidos sem afrontá-los. É esse o espírito que deve guiar as discussões dos 19 chefes de Estado e de governo que se reúnem a partir de amanhã na 17ª Cúpula do Grupo do Rio em Cuzco (Peru). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje à cidade histórica, antiga capital do império inca.
Lula desembarca às 15h locais (17h de Brasília). No final da tarde, ele se encontra com o presidente do Peru, Alejandro Toledo, e, às 20h (22h de Brasília), janta com os presidentes Vicente Fox (México), Ricardo Lagos (Chile) e Eduardo Duhalde (Argentina).
A confrontação política com os EUA já começou com a condenação do Grupo do Rio à ação militar no Iraque e deve continuar com o pedido de abertura de discussão sobre um novo papel para a ONU (Organização das Nações Unidas), na tentativa de fortalecê-la após o ataque americano sem o aval explícito do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A principal confrontação econômica é a tentativa de construir uma estratégia mínima de ação dos países nas discussões da Alca (Área Livre de Comércio das Américas), que vem sendo chamada de "regionalismo aberto".

Nota da entidade
Com 17 anos de existência, articulado sob a liderança de Brasil, México e Argentina, o Grupo do Rio é um fórum político que permite a comunicação e contato pessoal entre os chefes de Estado, de governo e os chanceleres dos 19 países-membros.
Reunião dos chanceleres do Grupo do Rio em março já havia aprovado a elaboração de nota condenando o ataque dos EUA ao Iraque. "Lamentavelmente, não se conseguiu uma solução pacífica para a crise no estrito cumprimento das resoluções do Conselho de Segurança. O órgão se viu superado, produzindo uma grave quebra no sistema de segurança coletiva", disse o ministro das Relações Exteriores do Peru, Allan Wagner, país que dirige hoje o grupo, conforme rodízio anual.
Os chanceleres aprovaram o início de esforços diplomáticos para reiniciar com "urgência" o processo de reforma da ONU, para ampliar sua eficácia.
No ano que vem, a presidência do Grupo do Rio caberá ao Brasil, que liderará as discussões sobre um projeto da região para a ONU, o que inclui a tentativa de apoio à antiga reivindicação brasileira de tornar-se um membro permanente do Conselho de Segurança.

Protestos
Cerca de 2.000 grevistas da área de educação e de transportes do Peru fizeram protesto ontem na principal praça de Cuzco (a 1.100 km ao sudeste da capital Lima).
Cerca de 3.000 policiais dissolveram as manifestações com cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo e bloquearam ruas e acessos a hotéis onde começaram a chegar as delegações diplomáticas. Pelo menos 12 pessoas foram presas.
O sindicato dos trabalhadores de educação, que entrou em sua segunda semana de greve, promete novos confrontos para hoje e para amanhã. Ontem o sindicato de transportes também iniciou uma greve.
Na segunda-feira, cerca de 400 grevistas impediram a passagem do trem que levava cerca de 200 turistas de Cuzco a Machu Picchu. A polícia teve de usar gás lacrimogêneo para dispersá-los. Houve diversos outros confrontos entre polícia e manifestantes, que fizeram bloqueios nas ruas de Cuzco.
O presidente Alejandro Toledo, que se inclui entre a leva de esquerdistas no poder na América do Sul ao lado de Lula e do venezuelano Hugo Chávez, passa por um momento de baixa popularidade. Pesquisa realizada neste mês mostra que apenas 14% da população aprova seu governo, 16 pontos a menos do que em levantamento semelhante em janeiro passado.


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