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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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CASO CC-5

Delegado responsável pela investigação diz que existem 300 dossiês sobre movimentação suspeita de US$ 30 bilhões

Remessas ilegais envolvem políticos, diz PF

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O delegado da Polícia Federal José Francisco de Castilho Neto, que conduz as investigações sobre remessas ilegais de recursos por meio da agência do Banestado em Nova York, disse ontem que "existem, sim, e aparecem inúmeros nomes de políticos" na movimentação suspeita de US$ 30 bilhões entre 1996 e 1999.
Segundo o delegado, há 300 dossiês "alinhavados" sobre operações que envolvem empresários e políticos, ressalvando que o último grupo é minoritário, mas integrado por gente de "renome".
"Alguns [políticos aparecem] com pequenas remessas, mas isso não interessa. O esquema é ilícito. Isso é falta de decoro."
Castilho Neto e o perito Renato Barbosa, os dois policiais federais à frente do trabalho que investiga as remessas que chegaram ao Banestado por meio de contas CC-5 em Foz do Iguaçu (PR), foram convidados a depor na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado e na Subcomissão de Evasão Fiscal da Câmara.
Aos deputados, Castilho Neto disse que o caso, que desenhará o "mapa da corrupção no Brasil", é "suporte para a limpeza do cenário público nacional" e "cai como uma luva" sobre uma investigação relacionada à "construção de uma avenida" por uma "prefeitura de um importante Estado brasileiro".
Trata-se de uma referência indireta à construção da avenida Água Espraiada, na gestão do ex-prefeito Paulo Maluf (1993-1996), obra que, segundo investigação da PF, teria sido superfaturada em US$ 100 milhões. Maluf nega envolvimento com irregularidades.
Em junho de 2001, a Folha revelou que Maluf e seus familiares mantêm US$ 200 milhões depositados em Jersey, paraíso fiscal no canal da Mancha. O ex-prefeito nega categoricamente ter dinheiro depositado no exterior.
O promotor Silvio Marques, que investiga o caso Jersey em São Paulo, esteve em Nova York quando Castilho e Barbosa ainda estavam na cidade levantando dados. A Folha apurou que o perito, cruzando dados com o promotor, desenhou um mapa que descreveria o caminho dos recursos supostamente desviados da obra superfaturada desde o Brasil até a Europa, passando pelos EUA.
O delegado foi convidado para depor no Senado pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que tem em mãos um requerimento para instalar uma CPI sobre o caso, mas disse estar "aguardando o momento correto". Salvatti foi questionada pelo colega Antero Paes de Barros (PSDB-MT). Ele afirmou que irá apresentar seu próprio pedido de CPI, pois a senadora estaria protelando a iniciativa para atender ao governo.
Pela manhã, no Senado, o delegado criticou a direção da Polícia Federal por tê-lo chamado de volta ao Brasil, alegando falta de recursos. "Fiquei envergonhado quando me disseram que, numa investigação de US$ 30 bilhões, não tinha verba para pagar uma diária de US$ 300", declarou.
Castilho pediu ainda "sossego" para continuar a investigação, além do pagamento de diárias que estariam em atraso e sua nomeação formal para presidir o inquérito que hoje comanda. "Colocaram-me [quando fui para Nova York] como um free-lancer, com seis pessoas sem um comando."


Colaborou ROBERTO COSSO, da Reportagem Local


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