|
Texto Anterior | Índice
CASO CC-5
Delegado responsável pela investigação diz que existem 300 dossiês sobre movimentação suspeita de US$ 30 bilhões
Remessas ilegais envolvem políticos, diz PF
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O delegado da Polícia Federal
José Francisco de Castilho Neto,
que conduz as investigações sobre
remessas ilegais de recursos por
meio da agência do Banestado em
Nova York, disse ontem que
"existem, sim, e aparecem inúmeros nomes de políticos" na movimentação suspeita de US$ 30 bilhões entre 1996 e 1999.
Segundo o delegado, há 300
dossiês "alinhavados" sobre operações que envolvem empresários
e políticos, ressalvando que o último grupo é minoritário, mas integrado por gente de "renome".
"Alguns [políticos aparecem]
com pequenas remessas, mas isso
não interessa. O esquema é ilícito.
Isso é falta de decoro."
Castilho Neto e o perito Renato
Barbosa, os dois policiais federais
à frente do trabalho que investiga
as remessas que chegaram ao Banestado por meio de contas CC-5
em Foz do Iguaçu (PR), foram
convidados a depor na Comissão
de Fiscalização e Controle do Senado e na Subcomissão de Evasão
Fiscal da Câmara.
Aos deputados, Castilho Neto
disse que o caso, que desenhará o
"mapa da corrupção no Brasil", é
"suporte para a limpeza do cenário público nacional" e "cai como
uma luva" sobre uma investigação relacionada à "construção de
uma avenida" por uma "prefeitura de um importante Estado brasileiro".
Trata-se de uma referência indireta à construção da avenida
Água Espraiada, na gestão do ex-prefeito Paulo Maluf (1993-1996),
obra que, segundo investigação
da PF, teria sido superfaturada em
US$ 100 milhões. Maluf nega envolvimento com irregularidades.
Em junho de 2001, a Folha revelou que Maluf e seus familiares
mantêm US$ 200 milhões depositados em Jersey, paraíso fiscal no
canal da Mancha. O ex-prefeito
nega categoricamente ter dinheiro depositado no exterior.
O promotor Silvio Marques,
que investiga o caso Jersey em São
Paulo, esteve em Nova York
quando Castilho e Barbosa ainda
estavam na cidade levantando dados. A Folha apurou que o perito,
cruzando dados com o promotor,
desenhou um mapa que descreveria o caminho dos recursos supostamente desviados da obra superfaturada desde o Brasil até a
Europa, passando pelos EUA.
O delegado foi convidado para
depor no Senado pela senadora
Ideli Salvatti (PT-SC), que tem em
mãos um requerimento para instalar uma CPI sobre o caso, mas
disse estar "aguardando o momento correto". Salvatti foi questionada pelo colega Antero Paes
de Barros (PSDB-MT). Ele afirmou que irá apresentar seu próprio pedido de CPI, pois a senadora estaria protelando a iniciativa para atender ao governo.
Pela manhã, no Senado, o delegado criticou a direção da Polícia
Federal por tê-lo chamado de volta ao Brasil, alegando falta de recursos. "Fiquei envergonhado
quando me disseram que, numa
investigação de US$ 30 bilhões,
não tinha verba para pagar uma
diária de US$ 300", declarou.
Castilho pediu ainda "sossego"
para continuar a investigação,
além do pagamento de diárias
que estariam em atraso e sua nomeação formal para presidir o inquérito que hoje comanda. "Colocaram-me [quando fui para Nova
York] como um free-lancer, com
seis pessoas sem um comando."
Colaborou ROBERTO COSSO, da Reportagem Local
Texto Anterior: Celso Pinto: Dólares de curto prazo não vão faltar Índice
|