São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2001

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SAIBA QUEM É
Senador mineiro sofre assédio de governo e oposição

THOMAS TRAUMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos 15 filhos de uma família que vivia na pobreza da Zona da Mata mineira e hoje dono de uma indústria que vai faturar R$ 1 bilhão, o senador José Alencar Gomes da Silva (PMDB-MG) passou os últimos três meses como o político mais assediado do país.
Antes de se definir pela possível candidatura a vice numa chapa liderada pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva, Alencar foi convidado pelo presidenciável Ciro Gomes a entrar no PPS ou no PTB. Ciro disse a um amigo que Alencar também seria o vice ideal da sua chapa.
Em maio, o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, o procurou para saber se ele gostaria de participar do governo FHC, a quem apoiou com material e dinheiro nas eleições presidenciais de 1998.
"Todo mundo ficou me procurando. A última vez que me senti assim foi quando tinha 19 anos, já trabalhava e todas as moças queriam me namorar", comparou rindo, na semana passada, o senador de 69 anos, dono da Coteminas, fábrica das marcas Artex e Santista.
Há duas explicações para o PT ter disputado com o PPS e o governo federal o apoio de um milionário empresário peemedebista - ousadia inimaginável nas eleições passadas.
A primeira é que Alencar é desafeto do governador Itamar Franco (PMDB), que o derrotou na convenção de maio do PMDB mineiro.
Numa chapa presidencial, o senador poderá contrapor o apoio natural que Itamar terá no eleitorado de Minas.

Dormindo no corredor
O segundo motivo é a sua trajetória de homem de sucesso. Alencar começou a trabalhar aos 15 anos como balconista de uma loja de tecidos. Economizava dinheiro dormindo no corredor de uma pensão.
Montou seu próprio comércio de secos e molhados aos 18 anos. Nos anos 60, com subsídios da extinta Sudene, abriu a Coteminas. Os empréstimos da Sudene foram pagos.
A Coteminas tem um dos mais modernos parques industriais têxteis do país e no ano passado faturou mais de R$ 700 milhões. A previsão para 2001 é chegar a R$ 1 bilhão em vendas.
Em várias conversas com dirigentes petistas, Lula definiu o senador como um empresário inteligente, de visão nacionalista e sem preconceitos com o partido. Disse que ele deveria ser ouvido pelos economistas do PT nas discussões sobre comércio exterior.
Quase um terço do faturamento da Coteminas vem de exportações.
Na semana passada, antes de anunciar a saída do PMDB, Alencar devolveu as gentilezas. "Gosto muito do Lula. Ele tem sentimento nacional, sensibilidade social e é honesto. Os empresários deveriam ouvi-lo mais", disse.
Para um candidato que sofre restrições no empresariado, como Lula, uma chapa com Alencar seria um sinal de que um eventual governo petista vai apoiar a livre iniciativa.



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