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SOMBRA NO PLANALTO
Ex-assessor diz que empresário fez doação a campanha do PT
Em acareação, Waldomiro e Cachoeira divergem de novo
IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA (GO)
Numa acareação de duas horas
e 15 minutos ontem, em Goiânia,
o ex-assessor da Presidência Waldomiro Diniz e o empresário de
jogos Carlos Augusto Ramos, o
Carlinhos Cachoeira, mantiveram versões conflitantes, gerando
decepção nos deputados da CPI
da Loterj na Assembléia do Rio.
Waldomiro disse que recebeu
"quatro ou cinco" ligações de Cachoeira em seu gabinete no Planalto às vésperas da divulgação
do vídeo de 2002 em que aparece
pedindo propina ao empresário.
Os dois voltaram a se contradizer:
o ex-assessor afirma que não respondeu aos recados, e Cachoeira
diz que Waldomiro ligou de volta.
Demonstrando impaciência
por voltar aos temas já questionados pela CPI anteriormente, Waldomiro fez um mea-culpa por ter
omitido, em vez de divulgar a suposta extorsão praticada por Cachoeira. "Deveria ter reagido e
não o fiz, me acovardei, me intimidei. Pago até hoje o ônus do
meu ato." Já Cachoeira demonstrou calma ao fim da acareação e
se disse "satisfeito". "Estou satisfeito e com a consciência tranqüila. Logicamente, vim para colaborar com esta comissão [a CPI]."
Ex-homem de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil),
Waldomiro ocupou a Subchefia
de Assuntos Parlamentares da
Presidência, responsável pelas negociações com o Congresso, até 13
de fevereiro, quando foi divulgado vídeo em que pede propina sobre o valor de supostas doações de
campanha.
O caso se converteu no principal desgaste do governo do PT.
A Polícia Federal e o Ministério
Público Federal investigaram o
caso. Em abril, o procurador Marcelo Serra Azul denunciou Waldomiro, que também foi presidente da Loterj (Loteria do Estado
do Rio de Janeiro), suspendendo
o trabalho da PF. A denúncia ainda não foi acolhida pela Justiça.
Contradições
Mesmo tendo prestado um juramento em que prometeram só
dizer a verdade, Cachoeira e Waldomiro deram versões conflitantes sobre ocasiões-chave. Exemplo: o ex-assessor disse ter recebido cinco parcelas de R$ 20 mil em
dinheiro das mãos de Cachoeira,
como doação à campanha de Geraldo Magela (PT) ao governo do
Distrito Federal.
Mas o empresário rebateu: "Nego veementemente, nunca dei nenhum centavo".
A doação não consta da prestação de contas de Magela, que nega
ter recebido. Segundo Waldomiro, o dinheiro era entregue ao tesoureiro de campanha do petista,
que também nega envolvimento.
Quando indagados de forma
mais incisiva sobre as versões,
Waldomiro e Cachoeira procuravam se ater aos depoimentos já
dados, chegando a reler trechos.
Presidente da CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) da Assembléia Legislativa que investiga
supostas irregularidades na Loterj, o deputado Alessandro Calazans (PV) disse que vai recomendar ao Ministério Público do Estado do Rio que peça a prisão de
Waldomiro.
Após a acareação, Calazans defendeu a prisão de Waldomiro,
que presidiu a Loterj de fevereiro
de 2001 a dezembro de 2002.
"Não tenho dúvidas de que foram cometidos crimes como corrupção ativa e passiva e prevaricação, além de uma afronta à Lei de
Licitações. Enquanto foi presidente da Loterj, Waldomiro Diniz
usou o cargo para auferir favores
pessoais, desviou-se de suas funções com objetivos escusos. A CPI
vai recomendar a sua prisão ao
Ministério Público", afirmou o
deputado.
O deputado Paulo Melo
(PMDB) disse, após o término da
acareação, que Waldomiro e Carlinhos Cachoeira "se associaram
em uma quadrilha para lesar o Estado do Rio de Janeiro".
A sessão de ontem da CPI foi na
Assembléia de Goiás por solicitação dos advogados de Cachoeira.
Colaborou a Sucursal do Rio
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