São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Ex-assessor diz que empresário fez doação a campanha do PT

Em acareação, Waldomiro e Cachoeira divergem de novo

IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA (GO)

Numa acareação de duas horas e 15 minutos ontem, em Goiânia, o ex-assessor da Presidência Waldomiro Diniz e o empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, mantiveram versões conflitantes, gerando decepção nos deputados da CPI da Loterj na Assembléia do Rio.
Waldomiro disse que recebeu "quatro ou cinco" ligações de Cachoeira em seu gabinete no Planalto às vésperas da divulgação do vídeo de 2002 em que aparece pedindo propina ao empresário. Os dois voltaram a se contradizer: o ex-assessor afirma que não respondeu aos recados, e Cachoeira diz que Waldomiro ligou de volta.
Demonstrando impaciência por voltar aos temas já questionados pela CPI anteriormente, Waldomiro fez um mea-culpa por ter omitido, em vez de divulgar a suposta extorsão praticada por Cachoeira. "Deveria ter reagido e não o fiz, me acovardei, me intimidei. Pago até hoje o ônus do meu ato." Já Cachoeira demonstrou calma ao fim da acareação e se disse "satisfeito". "Estou satisfeito e com a consciência tranqüila. Logicamente, vim para colaborar com esta comissão [a CPI]."
Ex-homem de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil), Waldomiro ocupou a Subchefia de Assuntos Parlamentares da Presidência, responsável pelas negociações com o Congresso, até 13 de fevereiro, quando foi divulgado vídeo em que pede propina sobre o valor de supostas doações de campanha.
O caso se converteu no principal desgaste do governo do PT.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigaram o caso. Em abril, o procurador Marcelo Serra Azul denunciou Waldomiro, que também foi presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), suspendendo o trabalho da PF. A denúncia ainda não foi acolhida pela Justiça.

Contradições
Mesmo tendo prestado um juramento em que prometeram só dizer a verdade, Cachoeira e Waldomiro deram versões conflitantes sobre ocasiões-chave. Exemplo: o ex-assessor disse ter recebido cinco parcelas de R$ 20 mil em dinheiro das mãos de Cachoeira, como doação à campanha de Geraldo Magela (PT) ao governo do Distrito Federal.
Mas o empresário rebateu: "Nego veementemente, nunca dei nenhum centavo".
A doação não consta da prestação de contas de Magela, que nega ter recebido. Segundo Waldomiro, o dinheiro era entregue ao tesoureiro de campanha do petista, que também nega envolvimento.
Quando indagados de forma mais incisiva sobre as versões, Waldomiro e Cachoeira procuravam se ater aos depoimentos já dados, chegando a reler trechos.
Presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Assembléia Legislativa que investiga supostas irregularidades na Loterj, o deputado Alessandro Calazans (PV) disse que vai recomendar ao Ministério Público do Estado do Rio que peça a prisão de Waldomiro.
Após a acareação, Calazans defendeu a prisão de Waldomiro, que presidiu a Loterj de fevereiro de 2001 a dezembro de 2002.
"Não tenho dúvidas de que foram cometidos crimes como corrupção ativa e passiva e prevaricação, além de uma afronta à Lei de Licitações. Enquanto foi presidente da Loterj, Waldomiro Diniz usou o cargo para auferir favores pessoais, desviou-se de suas funções com objetivos escusos. A CPI vai recomendar a sua prisão ao Ministério Público", afirmou o deputado.
O deputado Paulo Melo (PMDB) disse, após o término da acareação, que Waldomiro e Carlinhos Cachoeira "se associaram em uma quadrilha para lesar o Estado do Rio de Janeiro".
A sessão de ontem da CPI foi na Assembléia de Goiás por solicitação dos advogados de Cachoeira.


Colaborou a Sucursal do Rio

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