São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/TROCA DE GUARDA

Nova ministra da Casa Civil ressalta porém que a articulação do Planalto com o Legislativo não será uma de suas atribuições

Gestão deve ter conteúdo político, diz Dilma

JULIA DUAILIBI
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Escolhida para o cargo em razão de seu perfil técnico, a nova ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, 57, tomou posse ontem afirmando que o seu trabalho na pasta não será apenas de gestão dos projetos prioritários do governo mas também de exercer política, "no seu sentido mais nobre".
Por outro lado, ressalvou que a articulação com o Congresso não será sua responsabilidade, mantendo assim a divisão formal existente hoje entre Casa Civil e Coordenação Política.
"Há uma tentativa de tornar a gestão igual a uma atividade técnica sem conteúdo político, o que eu acho que é uma versão absolutamente incorreta de gestão pública. Gestão pública é gerir projetos: quais são os prioritários, quais são os critérios políticos que fazem com que um projeto tenha prioridade em relação a outro. Eu estou falando de política no sentido mais específico da palavra", disse a ex-ministra de Minas e Energia, logo após receber o cargo de José Dirceu, em cerimônia no final da tarde no Planalto.
Num evento concorrido, diante de 22 ministros, dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Severino Cavalcanti (Câmara), Renan Calheiros (Senado) e Nelson Jobim (Supremo Tribunal Federal), Dilma chamou Dirceu de "querido companheiro de luta" e elogiou Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Primeira mulher a ocupar o cargo na história, insistiu também na tese de que é uma "simplificação" afirmar que o trabalho de gestão é basicamente técnico. Com a missão de coordenar os principais projetos de infra-estrutura do país, Dilma disse acreditar que o Congresso, em tempos de CPI, terá "amadurecimento" para votar questões relevantes para o Brasil.
"É perfeitamente possível conjugar uma tramitação adequada dos projetos com as investigações da CPI. Esse é um desafio da maturidade do Brasil: a gente ser capaz de ter uma atividade democrática, diria assim, institucional, com a atividade executiva política, que é a tramitação, o trâmite dos projetos. Não vejo razão para fazer essa suposição de paralisia do Congresso. Seria subestimar o nosso Congresso", afirmou.
Dilma comandará uma pasta que perdeu oficialmente a função de coordenação política em janeiro de 2004. Desde então, a articulação com o Legislativo foi transferida para a Secretaria de Coordenação Política, de Aldo Rebelo (PC do B). Mas Dirceu, enfraquecido politicamente após o caso Waldomiro Diniz (2004), voltou gradualmente à coordenação.
O PT pretende retomar a pasta na reforma ministerial que Lula pretende fazer nos próximos dias.
Embora tenha defendido uma "interface" com o Parlamento, Dilma, que conta com o ceticismo até de petistas em relação a sua habilidade de coordenar ações com parlamentares, disse que o contato com políticos ficará com a pasta hoje de Aldo.
"Não podemos confundir os dois aspectos. A política é outro departamento. O meu é gestão pública, cuja prioridade é definida por projetos e visões de desenvolvimento do país", disse.
A uma platéia de cerca de 500 pessoas, a ministra deixou de lado a emoção e fez um discurso pontuado, usando palavras como "gestão", "execução" e "diretrizes". Minutos antes, Dirceu havia feito discurso emocionado. Ambos destacaram o tempo em que militaram em organizações de esquerda na ditadura (1964-85).
Dilma falou do trabalho que fará como "facilitadora e potencializadora" dos projetos dos ministérios. Nesse momento, citou Palocci. "Vejo também toda a luta pela estabilidade desenvolvida pelo ministro Palocci."
Dilma foi questionada sobre a polêmica entre ela e Dirceu em relação à construção da usina nuclear Angra 3. A então ministra de Minas e Energia era contrária ao projeto. Dilma disse que a questão será encaminhada ao Conselho Nacional de Política Energética com a posição do então ministro, favorável à construção.


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