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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/TROCA DE GUARDA
Nova ministra da Casa Civil ressalta porém que a articulação do Planalto com o Legislativo não será uma de suas atribuições
Gestão deve ter conteúdo político, diz Dilma
JULIA DUAILIBI
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Escolhida para o cargo em razão
de seu perfil técnico, a nova ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, 57, tomou posse ontem afirmando que o seu trabalho na pasta não será apenas de gestão dos
projetos prioritários do governo
mas também de exercer política,
"no seu sentido mais nobre".
Por outro lado, ressalvou que a
articulação com o Congresso não
será sua responsabilidade, mantendo assim a divisão formal existente hoje entre Casa Civil e Coordenação Política.
"Há uma tentativa de tornar a
gestão igual a uma atividade técnica sem conteúdo político, o que
eu acho que é uma versão absolutamente incorreta de gestão pública. Gestão pública é gerir projetos: quais são os prioritários,
quais são os critérios políticos que
fazem com que um projeto tenha
prioridade em relação a outro. Eu
estou falando de política no sentido mais específico da palavra",
disse a ex-ministra de Minas e
Energia, logo após receber o cargo
de José Dirceu, em cerimônia no
final da tarde no Planalto.
Num evento concorrido, diante
de 22 ministros, dos presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva, Severino
Cavalcanti (Câmara), Renan Calheiros (Senado) e Nelson Jobim
(Supremo Tribunal Federal), Dilma chamou Dirceu de "querido
companheiro de luta" e elogiou
Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Primeira mulher a ocupar o cargo na história, insistiu também na
tese de que é uma "simplificação"
afirmar que o trabalho de gestão é
basicamente técnico. Com a missão de coordenar os principais
projetos de infra-estrutura do
país, Dilma disse acreditar que o
Congresso, em tempos de CPI, terá "amadurecimento" para votar
questões relevantes para o Brasil.
"É perfeitamente possível conjugar uma tramitação adequada
dos projetos com as investigações
da CPI. Esse é um desafio da maturidade do Brasil: a gente ser capaz de ter uma atividade democrática, diria assim, institucional,
com a atividade executiva política, que é a tramitação, o trâmite
dos projetos. Não vejo razão para
fazer essa suposição de paralisia
do Congresso. Seria subestimar o
nosso Congresso", afirmou.
Dilma comandará uma pasta
que perdeu oficialmente a função
de coordenação política em janeiro de 2004. Desde então, a articulação com o Legislativo foi transferida para a Secretaria de Coordenação Política, de Aldo Rebelo
(PC do B). Mas Dirceu, enfraquecido politicamente após o caso
Waldomiro Diniz (2004), voltou
gradualmente à coordenação.
O PT pretende retomar a pasta
na reforma ministerial que Lula
pretende fazer nos próximos dias.
Embora tenha defendido uma
"interface" com o Parlamento,
Dilma, que conta com o ceticismo
até de petistas em relação a sua
habilidade de coordenar ações
com parlamentares, disse que o
contato com políticos ficará com
a pasta hoje de Aldo.
"Não podemos confundir os
dois aspectos. A política é outro
departamento. O meu é gestão
pública, cuja prioridade é definida por projetos e visões de desenvolvimento do país", disse.
A uma platéia de cerca de 500
pessoas, a ministra deixou de lado
a emoção e fez um discurso pontuado, usando palavras como
"gestão", "execução" e "diretrizes". Minutos antes, Dirceu havia
feito discurso emocionado. Ambos destacaram o tempo em que
militaram em organizações de esquerda na ditadura (1964-85).
Dilma falou do trabalho que fará como "facilitadora e potencializadora" dos projetos dos ministérios. Nesse momento, citou Palocci. "Vejo também toda a luta
pela estabilidade desenvolvida
pelo ministro Palocci."
Dilma foi questionada sobre a
polêmica entre ela e Dirceu em relação à construção da usina nuclear Angra 3. A então ministra de
Minas e Energia era contrária ao
projeto. Dilma disse que a questão será encaminhada ao Conselho Nacional de Política Energética com a posição do então ministro, favorável à construção.
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