São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI

Funcionário nega ter recebido propina de R$ 3.000 e atribui responsabilidade das licitações aos indicados por Sílvio Pereira

Marinho se diz "bode expiatório" e acusa PT

FERNANDA KRAKOVICS
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à CPI dos Correios, o funcionário Maurício Marinho classificou-se como um "bode expiatório" e atribuiu a responsabilidade pelas licitações à presidência e às diretorias da empresa, preenchidas por indicações políticas. Ele fez questão de destacar as duas com o maior volume de recursos, Tecnologia e Operações, que seriam da cota do secretário-geral do PT, Sílvio Pereira.
"Cada diretoria da empresa tem um partido político por trás, eu não sou político. Os diretores de Tecnologia e de Operações, que têm grande valor orçamentário, quem está por trás é o PT, é o seu Sílvio Pereira", afirmou, interrompido aos berros pelo deputado Henrique Fontana (PT-RS) e gerando gritaria geral.
Marinho contou que José Fortuna Neto, coronel reformado da Polícia Militar e apontado como responsável pela gravação que flagrou Marinho, o ajudou a conseguir seu cargo anterior nos Correios, em 2003. Segundo o funcionário, Fortuna afirmou ter "trânsito" e conseguiu indicá-lo para um posto da cota do PTB na área de Recursos Humanos por meio do deputado José Chaves.
Ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da ECT [Empresa de Correios e Telégrafos], Marinho causou constrangimento ao citar nominalmente os padrinhos de cada diretor da estatal.
Segundo ele, o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), que estava presente na sessão, é o responsável pela diretoria de recursos humanos; o senador Hélio Costa (PMDB-MG), pela diretoria comercial; o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), pela diretoria de administração; o ministro Eunício Oliveira (Comunicações), do PMDB, pela diretoria financeira; o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), pela presidência da empresa; e o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, pelas diretorias de Tecnologia e de Operações.
Marinho aparece em um vídeo negociando propina com dois empresários para favorecê-los em licitações na estatal. Na gravação ele coloca no bolso R$ 3.000 e diz que agia sob o comando de Roberto Jefferson e do diretor de administração Antônio Osório Batista. Conforme já havia dito em inquérito na Polícia Federal, Marinho negou ontem conhecer Jefferson e afirmou que os R$ 3.000 eram pagamento por uma consultoria. "Eu fiz autopromoção porque tenho interesse em ter minha consultoria no futuro", disse.
Dizendo ser um funcionário técnico, Marinho afirmou que está sendo usado como "bode expiatório". Foi repreendido por estar lendo um roteiro em lugar de prestar um depoimento espontâneo. Após alguma discussão entre os parlamentares, Marinho foi eximido de assinar termo de compromisso por ser alvo da investigação e não uma testemunha.
"A ECT tem milhares de pessoas ocupando funções de confiança, indicados por parlamentares. As principais funções exercidas dentro da organização são indicadas por políticos, que possuem compromissos partidários", afirmou, alegando que muitas dessas pessoas não têm competência para exercer o trabalho.
Marinho disse que não é corrupto e que foi vítima de uma armação que durou 45 dias para ser montada, com quatro gravações. Ele reconheceu, porém, ter recebido o dinheiro e falado mais do que deveria: "Eu falei demais, trabalhei nos Correios fora do horário em assuntos que não eram da empresa, recebi dinheiro que não pedi. Não estou me eximindo das minhas responsabilidades".
Marinho disse que não acredita que Arthur Wascheck tenha sido o único mandante da fita que o incrimina, conforme aponta o inquérito da Polícia Federal, sugerindo que haveria interesses políticos em questão. Sobre a motivação, disse que Wascheck estaria "revoltado" por supostos prejuízos em um contrato com os Correios: "Houve um revolta desde essa época e por outras licitações que ele não ganhou", disse.


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