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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI
Funcionário nega ter recebido propina de R$ 3.000 e atribui responsabilidade das licitações aos indicados por Sílvio Pereira
Marinho se diz "bode expiatório" e acusa PT
FERNANDA KRAKOVICS
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento à CPI dos Correios, o funcionário Maurício Marinho classificou-se como um
"bode expiatório" e atribuiu a responsabilidade pelas licitações à
presidência e às diretorias da empresa, preenchidas por indicações
políticas. Ele fez questão de destacar as duas com o maior volume
de recursos, Tecnologia e Operações, que seriam da cota do secretário-geral do PT, Sílvio Pereira.
"Cada diretoria da empresa tem
um partido político por trás, eu
não sou político. Os diretores de
Tecnologia e de Operações, que
têm grande valor orçamentário,
quem está por trás é o PT, é o seu
Sílvio Pereira", afirmou, interrompido aos berros pelo deputado Henrique Fontana (PT-RS) e
gerando gritaria geral.
Marinho contou que José Fortuna Neto, coronel reformado da
Polícia Militar e apontado como
responsável pela gravação que flagrou Marinho, o ajudou a conseguir seu cargo anterior nos Correios, em 2003. Segundo o funcionário, Fortuna afirmou ter "trânsito" e conseguiu indicá-lo para
um posto da cota do PTB na área
de Recursos Humanos por meio
do deputado José Chaves.
Ex-chefe do Departamento de
Contratação e Administração de
Material da ECT [Empresa de
Correios e Telégrafos], Marinho
causou constrangimento ao citar
nominalmente os padrinhos de
cada diretor da estatal.
Segundo ele, o senador Ney
Suassuna (PMDB-PB), que estava
presente na sessão, é o responsável pela diretoria de recursos humanos; o senador Hélio Costa
(PMDB-MG), pela diretoria comercial; o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), pela diretoria de
administração; o ministro Eunício Oliveira (Comunicações), do
PMDB, pela diretoria financeira;
o presidente do PMDB, Michel
Temer (SP), pela presidência da
empresa; e o secretário-geral do
PT, Sílvio Pereira, pelas diretorias
de Tecnologia e de Operações.
Marinho aparece em um vídeo
negociando propina com dois
empresários para favorecê-los em
licitações na estatal. Na gravação
ele coloca no bolso R$ 3.000 e diz
que agia sob o comando de Roberto Jefferson e do diretor de administração Antônio Osório Batista. Conforme já havia dito em
inquérito na Polícia Federal, Marinho negou ontem conhecer Jefferson e afirmou que os R$ 3.000
eram pagamento por uma consultoria. "Eu fiz autopromoção
porque tenho interesse em ter minha consultoria no futuro", disse.
Dizendo ser um funcionário
técnico, Marinho afirmou que está sendo usado como "bode expiatório". Foi repreendido por estar lendo um roteiro em lugar de
prestar um depoimento espontâneo. Após alguma discussão entre
os parlamentares, Marinho foi
eximido de assinar termo de compromisso por ser alvo da investigação e não uma testemunha.
"A ECT tem milhares de pessoas ocupando funções de confiança, indicados por parlamentares. As principais funções exercidas dentro da organização são indicadas por políticos, que possuem compromissos partidários", afirmou, alegando que muitas dessas pessoas não têm competência para exercer o trabalho.
Marinho disse que não é corrupto e que foi vítima de uma armação que durou 45 dias para ser
montada, com quatro gravações.
Ele reconheceu, porém, ter recebido o dinheiro e falado mais do
que deveria: "Eu falei demais, trabalhei nos Correios fora do horário em assuntos que não eram da
empresa, recebi dinheiro que não
pedi. Não estou me eximindo das
minhas responsabilidades".
Marinho disse que não acredita
que Arthur Wascheck tenha sido
o único mandante da fita que o incrimina, conforme aponta o inquérito da Polícia Federal, sugerindo que haveria interesses políticos em questão. Sobre a motivação, disse que Wascheck estaria
"revoltado" por supostos prejuízos em um contrato com os Correios: "Houve um revolta desde
essa época e por outras licitações
que ele não ganhou", disse.
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