São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Nos picadeiros

O suspense já vinha do dia anterior e recomeçou com o "Bom Dia Brasil":
- A CPI dos Correios começa hoje com Maurício Marinho, flagrado ao receber propina.
Foi para o jornal "Hoje", "o primeiro a falar será Marinho". E avançou tarde adentro com um repórter dizendo ao vivo, num intervalo da Globo, que "o depoimento mais aguardado começa daqui a pouco".
Os canais de notícias entraram da CPI no início da noite, mas nada de depoimento, só questão de ordem etc. Na boca de cena, os nobres César Borges, Denise Frossard, Ney Suassuna, José Eduardo Cardozo, ACM Neto -e ela, Heloísa Helena.
Marinho só foi surgir minutos antes do "Jornal Nacional". Abriu o "circo", na expressão de um integrante da CPI, ontem. Marinho, dedo em riste:
- Não sou bandido!
Seguiu-se um debate curioso dos parlamentares, sobre seu eventual "direito de mentir".
 
Mas não, não foi Maurício Marinho a estrela do "JN".
Foi Fernanda Karina Ramos Somaggio, a ex-secretária do publicitário Marcos Valério. Ela surgiu longamente no primeiro bloco do telejornal, repetindo, entre outras coisas:
- Foi do dia para a noite, seu Marcos começou a ligar para o Delúbio e aí eles ficaram amigos do peito... Quando ele saía para as reuniões com o pessoal do PT, passava no andar de baixo, o departamento financeiro, e saía com a mala... Vi negociações na agência entre o senhor Marcos, senhor Delúbio e senhor Sílvio... Sei que ele conversava muito com o senhor Dirceu.
A novidade maior, em relação ao que a ex-secretária falou à "IstoÉ Dinheiro", foi que a Rede Globo bancou seu testemunho. Foi a primeira manchete:
- Exclusivo! Testemunha de acusação no caso "mensalão" reafirma que malas de dinheiro saíram da empresa de Marcos Valério para políticos.
Também na escalada:
- Fernanda Karina diz por que não confirmou as acusações no depoimento à polícia.
E a ex-secretária:
- Um motoqueiro disse que, se eu falasse, eu colocaria a vida da minha filha em risco.
 
Durante a tarde inteira, em suspense e sem ter o que cobrir, canais de notícias, rádios e sites arrastaram o Conselho de Ética, com Miro Teixeira. O deputado falou, falou e o que sobrou, para a Globo, foi o seguinte:
- Confirmou que Jefferson contou sobre o "mensalão", mas que não falou em valores, não disse quem recebia nem quem comandaria. Propôs levar a Lula e ao plenário. Jefferson não fez uma coisa nem outra.
Até chegar a tal sumário foram horas sem fim, assistindo aos nobres Benedito de Lira, Carlos Sampaio, Ann Pontes, Eduardo Moreira, Gustavo Fruet -e por fim ela, que não é uma Heloísa Helena, Luciana Genro.
Pela escalação, ficou evidente que o governo e as oposições só querem saber da CPI.

UM DESABAFO

Em especulação há dias, o pronunciamento de Lula em rede pelo jeito foi substituído por seu discurso, ontem. Em temporada de cobertura ao vivo, foi transmitido pela Band News e virou manchete, com enunciados como "Lula diz ter moral para combater corrupção", na Folha Online, e "Lula diz que ninguém tem mais autoridade que ele para combater corrupção", na Record. Passagem destacada nas Globos, que descreveram o discurso como "um desabafo" e "contundente":
- Fico me perguntando se é isso mesmo que querem, porque, se querem o combate à corrupção, as pessoas deveriam estar todas, sobretudo as que me acusam, aplaudindo o governo. Nenhum fez contra a corrupção 20% do que estamos fazendo.
Palavras, palavras, mas é o presidente na defesa.

LULA LÁ

washingtonpost.com/Reprodução
Lula e a primeira-dama Marisa, ontem no "WP"

Foram necessários cinco dias para o jornal "Washington Post" dar, afinal, a queda de José Dirceu, que foi saudado em Washington meses atrás, inclusive por um jantar do "WP". Sob o título "Um escândalo de suborno é agora uma crise para o presidente do Brasil", à pág. A15, relata longamente como "as histórias de malas de dinheiro" e outras "transfixaram" os brasileiros. Mas, escreve o enviado a São Bernardo do Campo, "poucos no Brasil estão descartando Lula":
- O antigo torneiro mecânico construiu uma carreira política incomum, superando obstáculos e desafiando as expectativas.
O texto fechou com o chanceler Celso Amorim:
- Se você olhasse para Lula há 30 anos e dissesse, "este cara será presidente", as pessoas o chamariam de louco... Ele lutou contra todas as probabilidades.

@ - nelsondesa@folhasp.com.br


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