São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Senadores vestem carapuça e atacam Renan

Após Folha revelar que aliados de senador colecionariam fatos desabonadores de parlamentares, eles cobram explicações na tribuna

Peemedebista afirma que é vítima de intrigas e diz que ameaças não fazem parte de sua personalidade; colega pede abandono do cangaço

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Senadores reagiram ontem a ameaças veladas feitas nos bastidores pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), azedando ainda mais o clima na Casa. Na tentativa de enterrar o processo que tramita contra ele no Conselho de Ética, Renan ameaçou revelar fatos incômodos para colegas, segundo a Folha apurou.
Na tribuna, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) desafiou o presidente do Senado a revelar as condutas antiéticas. Renan negou, também em plenário, que tenha tentado intimidar senadores que defendem as investigações contra ele. "Nesse processo kafkiano de ataques especulativos de que algumas pessoas são vítimas, diariamente surgem muitas intrigas. Mas o Senado Federal, (...), sabe muito bem que ameaças e insinuações não fazem parte da minha personalidade", disse.
Renan prestou satisfação à Casa depois de a Folha divulgar que ele está, aos poucos, revelando reservadamente fatos desabonadores de colegas do Senado. Renan se explicou enquanto o líder do DEM, senador José Agripino (RN), estava na tribuna esperando para começar seu discurso.
Agripino seria um dos alvos de Renan, pois teria uma dívida de R$ 50 milhões com o Banco do Nordeste. "Vossa Excelência, em muito boa hora, coloca a sua posição de público no plenário do Senado. Entre os senadores não cabe outra atitude que não seja essa, marcada pela franqueza. E franqueza pressupõe que, se há alguma coisa, que se diga logo, que não se ameace, mas que se diga o que é que há", afirmou Agripino.
Em entrevista, o líder do DEM disse ainda que "dívida não desabona ninguém" e afirmou que o valor é "bem abaixo" de R$ 50 milhões. Agripino afirmou que a fazenda São João, de propriedade de sua família, foi desapropriada pelo Incra em 2003. Sua família estaria contestando na Justiça a dívida e o valor pago pela desapropriação.
As dívidas do grupo Maísa Agroindustrial S.A., da família do senador Agripino, com o BNB foram alvo de investigação durante a CPI do Finor (Fundo de Investimento do Nordeste), da Câmara, entre 2000 e 2001. Pelo que apurou a CPI, a empresa estava inadimplente inclusive quanto à apresentação de sua movimentação financeira, desde 1996.
A dívida acumulada até aquele momento, segundo apuraram os deputados, era de R$ 2 milhões em debêntures vencidas (títulos emitidos pela empresa, com prazo certo, que têm como garantia os seus próprios ativos), além de R$ 4,2 milhões que deveriam ser também pagos -R$ 6,2 milhões no total. Esse valor, porém, de 1999, deve ser muito diferente hoje. O BNB, por meio de sua assessoria, informou que não poderia dar informação para não ferir o sigilo bancário.
O DEM, ao lado de outros partidos de oposição, tem protestado contra o arquivamento do processo que tramita no Conselho de Ética para apurar se houve quebra de decoro de Renan Calheiros.
A investigação foi aberta a partir do surgimento de denúncias questionando a origem dos recursos usados por Renan para pagar pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha.
Outro que seria alvo das insinuações nos bastidores, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que Renan quis constrangê-lo. "É melhor ele abandonar o cangaço e se portar como presidente do Senado", disse Demóstenes. Ele disse que não se sente intimidado. "Quem tem rabo que se sente em cima do rabo", afirmou.
Demóstenes reconhece que ele e uma assessora viajaram no ano passado para os Estados Unidos, com passagens e diárias pagas pelo Senado, para participar de reunião da ONU (Organização das Nações Unidas). Mas nega que a funcionária seja sua namorada e disse que é uma praxe da Casa levar assessores em viagens.
O senador ainda foi acompanhado por um assessor informal, mas disse que ele pagou a própria passagem.
A Folha apurou ainda, conforme relatos dos próprios senadores nos bastidores, que haveria um terceiro alvo. Seria um senador que, apesar de não ser do partido, teria pedido passagens aéreas da cota da liderança do PMDB, no ano passado, para uma amiga.
(FERNANDA KRAKOVICS)


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