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Senadores vestem carapuça e atacam Renan
Após Folha revelar que aliados de senador colecionariam fatos desabonadores de parlamentares, eles cobram explicações na tribuna
Peemedebista afirma que é vítima de intrigas e diz que ameaças não fazem parte de sua personalidade; colega pede abandono do cangaço
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Senadores reagiram ontem a
ameaças veladas feitas nos bastidores pelo presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), azedando ainda
mais o clima na Casa. Na tentativa de enterrar o processo que
tramita contra ele no Conselho
de Ética, Renan ameaçou revelar fatos incômodos para colegas, segundo a Folha apurou.
Na tribuna, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) desafiou o
presidente do Senado a revelar
as condutas antiéticas. Renan
negou, também em plenário,
que tenha tentado intimidar
senadores que defendem as investigações contra ele. "Nesse
processo kafkiano de ataques
especulativos de que algumas
pessoas são vítimas, diariamente surgem muitas intrigas.
Mas o Senado Federal, (...), sabe muito bem que ameaças e
insinuações não fazem parte da
minha personalidade", disse.
Renan prestou satisfação à
Casa depois de a Folha divulgar que ele está, aos poucos, revelando reservadamente fatos
desabonadores de colegas do
Senado. Renan se explicou enquanto o líder do DEM, senador José Agripino (RN), estava
na tribuna esperando para começar seu discurso.
Agripino seria um dos alvos
de Renan, pois teria uma dívida
de R$ 50 milhões com o Banco
do Nordeste. "Vossa Excelência, em muito boa hora, coloca
a sua posição de público no plenário do Senado. Entre os senadores não cabe outra atitude
que não seja essa, marcada pela
franqueza. E franqueza pressupõe que, se há alguma coisa,
que se diga logo, que não se
ameace, mas que se diga o que é
que há", afirmou Agripino.
Em entrevista, o líder do
DEM disse ainda que "dívida
não desabona ninguém" e afirmou que o valor é "bem abaixo"
de R$ 50 milhões. Agripino
afirmou que a fazenda São
João, de propriedade de sua família, foi desapropriada pelo
Incra em 2003. Sua família estaria contestando na Justiça a
dívida e o valor pago pela desapropriação.
As dívidas do grupo Maísa
Agroindustrial S.A., da família
do senador Agripino, com o
BNB foram alvo de investigação durante a CPI do Finor
(Fundo de Investimento do
Nordeste), da Câmara, entre
2000 e 2001. Pelo que apurou a
CPI, a empresa estava inadimplente inclusive quanto à apresentação de sua movimentação
financeira, desde 1996.
A dívida acumulada até
aquele momento, segundo
apuraram os deputados, era de
R$ 2 milhões em debêntures
vencidas (títulos emitidos pela
empresa, com prazo certo, que
têm como garantia os seus próprios ativos), além de R$ 4,2
milhões que deveriam ser também pagos -R$ 6,2 milhões no
total. Esse valor, porém, de
1999, deve ser muito diferente
hoje. O BNB, por meio de sua
assessoria, informou que não
poderia dar informação para
não ferir o sigilo bancário.
O DEM, ao lado de outros
partidos de oposição, tem protestado contra o arquivamento
do processo que tramita no
Conselho de Ética para apurar
se houve quebra de decoro de
Renan Calheiros.
A investigação foi aberta a
partir do surgimento de denúncias questionando a origem
dos recursos usados por Renan
para pagar pensão alimentícia
à jornalista Mônica Veloso,
com quem teve uma filha.
Outro que seria alvo das insinuações nos bastidores, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que Renan quis
constrangê-lo. "É melhor ele
abandonar o cangaço e se portar como presidente do Senado", disse Demóstenes. Ele disse que não se sente intimidado.
"Quem tem rabo que se sente
em cima do rabo", afirmou.
Demóstenes reconhece que
ele e uma assessora viajaram
no ano passado para os Estados
Unidos, com passagens e diárias pagas pelo Senado, para
participar de reunião da ONU
(Organização das Nações Unidas). Mas nega que a funcionária seja sua namorada e disse
que é uma praxe da Casa levar
assessores em viagens.
O senador ainda foi acompanhado por um assessor informal, mas disse que ele pagou a
própria passagem.
A Folha apurou ainda, conforme relatos dos próprios senadores nos bastidores, que
haveria um terceiro alvo. Seria
um senador que, apesar de não
ser do partido, teria pedido
passagens aéreas da cota da liderança do PMDB, no ano passado, para uma amiga.
(FERNANDA KRAKOVICS)
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