São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Corrupção enfraquece democracia, diz CNBB

Em nota, ontem, a entidade criticou a "estimulada ganância" e o "corporativismo histórico" dos políticos

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dizendo-se perplexo com as denúncias de corrupção envolvendo os três Poderes da República, o Conselho Permanente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) emitiu ontem uma nota afirmando que a corrupção enfraquece a democracia e conclamando os cristãos a se engajarem no exercício da vida política.
"A corrupção e a impunidade estão levando o povo ao descrédito na ação política e nas instituições, enfraquecendo a democracia", informou.
Apesar de não citar nenhum caso específico da política atual, a nota foi aprovada um dia depois da derrota sofrida pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que não conseguiu arquivar o processo movido contra ele no Conselho de Ética.
Acusado pela jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha, de ter as despesas pessoais pagas por um lobista, Renan perdeu o apoio dos colegas após a Polícia Federal informar que a documentação apresentada por ele como defesa não era conclusiva.
Ontem a Folha revelou que, descontente com a falta de apoio manifestada por alguns parlamentares, Renan ameaçava revelar fatos incômodos de alguns colegas.
No texto aprovado ontem, os bispos da CNBB criticaram a "estimulada ganância" de alguns políticos e os "corporativismos históricos que utilizam as estruturas de poder para benefício próprio e de grupos".
Na mensagem, os religiosos afirmam que o exercício responsável da cidadania é um imperativo ético para todos.
"O povo brasileiro precisa recuperar a esperança. A credibilidade e a legitimidade de nossas instituições serão asseguradas pela apuração da verdade dos fatos, pela restituição dos bens públicos apropriados ilicitamente e pela punição dos delituosos", informa.

Honestidade
Na mensagem, intitulada "Democracia e Ética", a CNBB informou que pretende estimular os cristãos a acreditarem que "vale a pena dedicar-se à nobre causa do bem comum".
"Conclamamos as pessoas de boa vontade e as organizações da sociedade a se posicionarem com coragem, repudiando os desmandos e a impunidade, construindo uma convivência social sadia e velando pelo exercício do poder com honestidade", informa a nota.
O texto do Conselho Permanente, composto por 39 membros, é assinado pelo presidente da CNBB e arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha, pelo vice-presidente e arcebispo de Manaus, dom Luiz Soares Vieira, e pelo bispo auxiliar e secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa.

Reforma
Os bispos defenderam ainda uma ampla reforma do sistema político brasileiro que vá além da recente discussão que tramita no Congresso sobre sistema eleitoral, com lista aberta ou fechada de candidatos.
"Os poderes constituídos precisam assumir sua responsabilidade diante da corrupção e da impunidade. Urge uma profunda reforma do atual sistema político, não limitada à revisão dos sistema eleitoral. É necessário aprimorar os mecanismos da democracia representativa e favorecer a democracia participativa."
A CNBB disse apoiar os instrumentos legais de consulta popular, como plebiscitos. A entidade espera ainda que a atual crise ajude no amadurecimento da democracia do país.


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