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GOVERNO
Escolha de diretor-geral da PF, que seria ontem, não aconteceu
"Minha tolerância chegou ao limite", afirma FHC
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique
Cardoso afirmou ontem que sua
tolerância "chegou ao limite". Sem
mencionar o comportamento recente do PMDB nem a crise relacionada à escolha do diretor-geral
da Polícia Federal, ele disse que as
decisões do presidente têm de ser
respeitadas.
O presidente fez essas afirmações
em tom de desabafo, ao final de
discurso de 61 minutos dirigido a
111 estagiários da Escola Superior
de Guerra, em prédio anexo ao Palácio do Planalto.
A escolha do novo diretor da PF
era esperada para ontem, conforme anunciara o próprio governo
na sexta-feira passada. Até o fechamento desta edição, no entanto, o
governo ainda não havia chegado a
um nome de consenso.
O Palácio quer evitar um novo
constrangimento como foi a nomeação do delegado João Batista
Campelo, que pediu demissão na
sexta-feira depois de apenas três
dias no cargo. Ele não resistiu às
pressões políticas de aliados do governo e dos grupos de defesa dos
direitos humanos depois que o ex-padre José Antônio Monteiro o
acusou de ter comandado sessão
de tortura contra ele em 1970.
Era esperado para ontem um encontro de FHC com o ministro Renan Calheiros (Justiça) para definir o novo nome para o cargo.
Campelo havia sido escolhido
sem a anuência de Calheiros, que
preferia ver no cargo o delegado
Wantuir Jacini. "Não defendo nomes, defendo critérios. Mas a última palavra é do presidente", disse
Calheiros no início da noite.
Os nomes mais cotados para o
comando da PF eram ontem três
delegados: o atual superintendente
no Distrito Federal, Paulo Gustavo
de Magalhães Pinto, o delegado
Zulmar Pimentel e Ney Cunha e
Silva, chefe da Divisão de Crime
Organizado e Inquéritos Especiais.
A seguir, os principais trechos do
discurso de FHC:
TOLERÂNCIA - "O Brasil não pode mais conviver com disputas
corporativas. O Brasil tem que ter
uma visão muito clara do seu destino, dos seus objetivos. A democracia implica isso.
E, se bem que a democracia implique a compreensão do outro,
em certos graus de tolerância, devo
dizer que, no meu caso, a minha
tolerância chegou ao limite. Chegou ao limite".
ALIADOS - "A crítica sempre é
possível, mas não a contestação
que diz respeito à não-cooperação
daqueles que estão na obrigação
ou moral, porque são aliados, ou
institucional, porque são parte do
Estado, de levar adiante os projetos de transformação do Brasil.
Nós não podemos transigir naquilo que é essencial. É essencial
que o Brasil não perca seu amor a
uma convivência futura e que não
perca a confiança em si mesmo".
CONFIANÇA - "Há necessidade
dessa confiança em nós próprios,
baseada em realidades. Nós temos
que ter a compreensão dessas realidades e não deixar que uma desinformação crítica mine os pilares
de uma sociedade com tantos lados positivos."
SEM-TERRA - "Não me refiro ao
que já se transformou numa agitação política, que é o MST. Agitação
política, sabe Deus com que propósito. Não vamos confundir o legítimo direito de obter terra e trabalho com a permanente perturbação da ordem pública."
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