São Paulo, Terça-feira, 22 de Junho de 1999
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GOVERNO
Escolha de diretor-geral da PF, que seria ontem, não aconteceu
"Minha tolerância chegou ao limite", afirma FHC

da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que sua tolerância "chegou ao limite". Sem mencionar o comportamento recente do PMDB nem a crise relacionada à escolha do diretor-geral da Polícia Federal, ele disse que as decisões do presidente têm de ser respeitadas.
O presidente fez essas afirmações em tom de desabafo, ao final de discurso de 61 minutos dirigido a 111 estagiários da Escola Superior de Guerra, em prédio anexo ao Palácio do Planalto.
A escolha do novo diretor da PF era esperada para ontem, conforme anunciara o próprio governo na sexta-feira passada. Até o fechamento desta edição, no entanto, o governo ainda não havia chegado a um nome de consenso.
O Palácio quer evitar um novo constrangimento como foi a nomeação do delegado João Batista Campelo, que pediu demissão na sexta-feira depois de apenas três dias no cargo. Ele não resistiu às pressões políticas de aliados do governo e dos grupos de defesa dos direitos humanos depois que o ex-padre José Antônio Monteiro o acusou de ter comandado sessão de tortura contra ele em 1970.
Era esperado para ontem um encontro de FHC com o ministro Renan Calheiros (Justiça) para definir o novo nome para o cargo.
Campelo havia sido escolhido sem a anuência de Calheiros, que preferia ver no cargo o delegado Wantuir Jacini. "Não defendo nomes, defendo critérios. Mas a última palavra é do presidente", disse Calheiros no início da noite.
Os nomes mais cotados para o comando da PF eram ontem três delegados: o atual superintendente no Distrito Federal, Paulo Gustavo de Magalhães Pinto, o delegado Zulmar Pimentel e Ney Cunha e Silva, chefe da Divisão de Crime Organizado e Inquéritos Especiais.
A seguir, os principais trechos do discurso de FHC:

TOLERÂNCIA -
"O Brasil não pode mais conviver com disputas corporativas. O Brasil tem que ter uma visão muito clara do seu destino, dos seus objetivos. A democracia implica isso.
E, se bem que a democracia implique a compreensão do outro, em certos graus de tolerância, devo dizer que, no meu caso, a minha tolerância chegou ao limite. Chegou ao limite".

ALIADOS -
"A crítica sempre é possível, mas não a contestação que diz respeito à não-cooperação daqueles que estão na obrigação ou moral, porque são aliados, ou institucional, porque são parte do Estado, de levar adiante os projetos de transformação do Brasil.
Nós não podemos transigir naquilo que é essencial. É essencial que o Brasil não perca seu amor a uma convivência futura e que não perca a confiança em si mesmo".

CONFIANÇA -
"Há necessidade dessa confiança em nós próprios, baseada em realidades. Nós temos que ter a compreensão dessas realidades e não deixar que uma desinformação crítica mine os pilares de uma sociedade com tantos lados positivos."

SEM-TERRA -
"Não me refiro ao que já se transformou numa agitação política, que é o MST. Agitação política, sabe Deus com que propósito. Não vamos confundir o legítimo direito de obter terra e trabalho com a permanente perturbação da ordem pública."


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