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Policial diz que retirou dinheiro e aponta elo entre Valério e doleiro
JOSÉ MASCHIO
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O policial civil David Rodrigues
Alves confirmou ontem, em entrevista na sede do Sindicato dos
Policiais Civis de Minas Gerais,
que fazia retiradas de três agências do Banco Rural e entregava o
dinheiro na sede da SMPB Comunicação, em Belo Horizonte. Ao
explicar como foi contratado pela
SMPB para fazer as retiradas,
apontou um elo entre a empresa
-da qual o publicitário Marcos
Valério de Souza é sócio- e o doleiro Haroldo Bicalho, que sofre
processo na Justiça Federal.
Segundo Alves, ele foi indicado
por Bicalho a Cristiano Paz, sócio
de Valério, para transportar dinheiro. Bicalho foi preso durante
a Operação Farol da Colina, da
Polícia Federal, que prendeu 64
doleiros em julho de 2004. Ele foi
denunciado pelo Ministério Público Federal pelos crimes de evasão fiscal e lavagem de dinheiro.
Ontem, Bicalho não foi encontrado. Segundo informações de
um auxiliar seu que atendeu ao telefone celular de Bicalho, ele estava no interior de Minas Gerais.
Alves disse que, depois da indicação, prestou serviços para a
SMPB de janeiro a outubro de
2003 recolhendo pacotes de dinheiro em três agências. "Eu retirava o dinheiro nessas agências.
Os pacotes já estavam prontos, e
eu apenas assinava o recebimento. Meu trabalho era retirar o dinheiro e entregar na SMPB para a
Simone [Vasconcelos] e a Geiza
[dos Santos]", disse. Ambas são
funcionárias da agência.
A Folha apurou que, em depoimento na Corregedoria Geral de
Polícia, Alves disse que entregava
dinheiro para as duas funcionárias e também para Cristiano Paz.
E que os três ligavam para ele
quando precisavam dos recursos.
Alves negou conhecer pessoas do
governo mineiro.
O policial disse que recebia entre R$ 50 e R$ 70 por viagem e que
chegou a fazer até três retiradas
por dia. "Quero deixar claro que
eu fazia a retirada do dinheiro do
banco. Eu não sacava e não sei de
quem era o dinheiro. Sabia que a
SMPB era séria e nunca procurei
saber para quê era o dinheiro."
Ele disse não saber precisar se o
total que retirou foi de R$ 4,9 milhões, como aparece na lista de sacadores apresentada pelo Banco
Rural à CPI dos Correios. Alves
admitiu que esse total pode ser
maior, já que depois de algum
tempo ficou conhecido nas agências bancárias e não precisou mais
assinar recibo da retirada.
"Eu fiquei conhecido do pessoal
do banco, chegava no horário estipulado e o dinheiro já estava
empacotado. Muitas vezes nem
assinei os recibos", disse. Na listagem apresentada pelo banco à
CPI, as retiradas acontecem entre
fevereiro e julho de 2003.
Alves disse que fez retiradas até
outubro de 2003, quando, promovido na Polícia Civil, deixou o
plantão noturno. E justificou o bico "pelo baixo salário do policial".
Outro policial
Outro policial civil que aparece
na lista, fazendo duas retiradas de
R$ 300 mil em 28 e 30 de abril de
2003, Luiz Carlos Costa Lara, confirmou que fez as retiradas à Corregedoria Geral da Polícia Civil e
ao Ministério Público de Minas
Gerais. Lara disse que fez as retiradas a pedido de um amigo taxista que, encarregado do serviço, tinha receio de sacar as grandes
quantias sozinho.
Afirmou que acompanhava esse
amigo, que já morreu, e mostrava
os documentos no banco.
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